São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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"EFEITO SAMBA'
Reportagem de órgão oficial pode indicar desvalorização

Jornal chinês admite mudança no câmbio

das agências internacionais

Uma desvalorização do yuan, a moeda chinesa, "não seria necessariamente algo mau", segundo reportagem publicada ontem no semanário econômico oficial "China Daily Business".
Registrando que os mercados financeiros internacionais reagiram de forma positiva à queda do real brasileiro, o jornal, um suplemento do "China Daily", afirma que fazer flutuar o yuan "não desencadaria forçosamente uma nova onda de desvalorizações, como teme a maioria".
Essa afirmação afasta-se da linha defendida pelo governo chinês desde o início da crise asiática, em 97, que vem repetindo que não mexerá no câmbio, apesar da perda de competitividade das exportações.
Desde então, a comunidade econômica internacional vem felicitando a China por essa decisão "responsável", por estimar que a queda do valor do yuan voltaria a afetar os vizinhos. O câmbio vem sendo mantido abaixo de 8,3 por dólar desde antes da crise.
Na semana passada, o presidente do Banco do Povo -o banco central chinês-, Dai Xianglong, afirmou que manter a estabilidade do yuan era um objetivo neste ano. Ele também expressou sua confiança na habilidade da China em conservar o valor de sua moeda.
A mudança de postura pode indicar que a moeda da única economia que se mantém ilesa em relação à crise possa também ter seu valor reduzido.
Com a desvalorização do real, na semana passada, o yuan voltou a ser pressionado. Durante a semana, o mercado financeiro internacional se manteve nervoso pelos rumores de desvalorização, que derrubaram a cotação da moeda japonesa, o iene.
Acredita-se que, mesmo com as exportações não sendo afetadas diretamente pela concorrência brasileira -inclusive porque os negócios com a América Latina não atingem 2% do total-, a nova crise prejudique a credibilidade internacional da China.
A influência não deve chegar diretamente, mas por meio dos Estados Unidos e da Europa, maiores investidores estrangeiros e também maiores parceiros comerciais.
"A crise monetária e econômica do Brasil está provocando uma perda de confiança de investidores nos países com economias instáveis. Os países em vias de desenvolvimento, como a China, sofrerão essas consequências", afirmou Mu Yibin, especialista do Banco Popular Chinês.
Os economistas chineses, entre eles o primeiro-ministro Zhu Rongji, consideram que uma desvalorização do yuan seria negativa a curto prazo, já que paralisaria a atividade econômica, mas, em uma etapa seguinte, ajudaria a sanear as finanças do país.



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