São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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EXPORTAÇÃO
Depois da desvalorização, importadores pressionam fabricantes nacionais por redução de até 10% no preço
EUA querem desconto em sapato brasileiro

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local


Exportadores brasileiros de calçados estão sendo pressionados pelos importadores, especialmente dos Estados Unidos, o principal cliente do Brasil, a reduzirem de 8% a 10% os preços dos sapatos, que hoje custam em média de US$ 12 a US$ 15 o par.
Por conta das fortes oscilações do câmbio e das taxas de juros, os exportadores estão preferindo adiar as negociações com os clientes estrangeiros. "Está tudo parado", diz José Augusto de Castro, diretor da Procex, consultoria especializada em comércio exterior.
A pressão para redução dos preços é forte sobre os exportadores de calçados, diz Castro, especialmente porque os importadores têm representantes instalados no país. "Eles conhecem bem nosso mercado. Querem aproveitar o momento e dar o preço."
O exportador, segundo Castro, quer ter mais certeza sobre o patamar que o real será desvalorizado em relação ao dólar, antes de fechar qualquer negócio. Isso porque a indústria brasileira de calçados, diz, depende de componentes importados, que encareceram.
"A pressão dos importadores começou na quarta-feira. As negociações estão bem difíceis", diz Carlos Brigagão, diretor da Sândalo, fabricante de calçados masculinos instalada em Franca (SP).
"Temos de ter uma idéia melhor do câmbio e das taxas de juros. Não dá para falar em preços." Brigagão informa que no último contrato feito com um importador vendeu um par de sapato a US$ 25.
"Não temos preços. Não sabemos como vai se comportar o mercado", diz Miguel Heitor Bettarello, diretor da H. Bettarello, outra fabricante e exportadora de calçados masculinos de Franca (SP).
Bettarello diz que os fornecedores de colas, tintas e linhas também suspenderam as vendas nos últimos dias porque estão recalculando suas tabelas de preços. "A sorte é que temos estoque e não vamos precisar parar a fábrica."
A tão esperada desvalorização do real trouxe alívio para os exportadores, dizem eles, mas o fato de o câmbio estar liberado e os juros subindo levam os empresários a se tornarem mais cautelosos na hora de fazer projeções para o ano.
De 94 a 97, as exportações brasileiras de calçados foram da ordem de US$ 1,5 bilhão por ano.
"Não dá para fazer plano para 99. É um momento de expectativa. Ninguém pode calcular preços, porque não há idéia dos custos", diz Ricardo Wirth, vice-presidente da Abicalçados, associação que reúne os fabricantes.
A H. Bettarello arrisca, de qualquer forma, fazer planos por conta da desvalorização do real. No ano passado, a empresa exportou US$ 26 milhões. Este ano acha que pode chegar a US$ 32 milhões. Bettarello diz que exportava o par de sapato a US$ 18,60. Esse preço deve cair para US$ 17,70, calcula.
A Sândalo, que exporta cerca de US$ 1 milhão por mês, acredita que pode aumentar esse valor para US$ 1,4 milhão por mês com o real mais barato. É um cálculo preliminar. "O fato é que está tudo muito nebuloso", afirma Brigagão.
Castro, da Procex, diz que a desvalorização do real está muito superior ao que se imaginava. Isso assusta. Na sua análise, as exportações brasileiras devem crescer este ano entre 5% e 10%, pelo menos para os EUA. "Mas não dá para imaginar que se o real desvalorizar 40% a indústria vai dar desconto de 40% para o importador."
Wirth diz que se o preço do sapato brasileiro em dólar cair cerca de 15%, o Brasil será um concorrente ainda mais forte dos fabricantesitalianos, espanhóis e portugueses.



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