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EXPORTAÇÃO
Depois da desvalorização, importadores pressionam fabricantes nacionais por redução de até 10% no preço
EUA querem desconto em sapato brasileiro
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
Exportadores
brasileiros de
calçados estão
sendo pressionados pelos importadores, especialmente dos
Estados Unidos,
o principal cliente do Brasil, a reduzirem de 8% a 10% os preços dos
sapatos, que hoje custam em média de US$ 12 a US$ 15 o par.
Por conta das fortes oscilações
do câmbio e das taxas de juros, os
exportadores estão preferindo
adiar as negociações com os clientes estrangeiros. "Está tudo parado", diz José Augusto de Castro,
diretor da Procex, consultoria especializada em comércio exterior.
A pressão para redução dos preços é forte sobre os exportadores
de calçados, diz Castro, especialmente porque os importadores
têm representantes instalados no
país. "Eles conhecem bem nosso
mercado. Querem aproveitar o
momento e dar o preço."
O exportador, segundo Castro,
quer ter mais certeza sobre o patamar que o real será desvalorizado
em relação ao dólar, antes de fechar qualquer negócio. Isso porque a indústria brasileira de calçados, diz, depende de componentes
importados, que encareceram.
"A pressão dos importadores começou na quarta-feira. As negociações estão bem difíceis", diz
Carlos Brigagão, diretor da Sândalo, fabricante de calçados masculinos instalada em Franca (SP).
"Temos de ter uma idéia melhor
do câmbio e das taxas de juros.
Não dá para falar em preços." Brigagão informa que no último contrato feito com um importador
vendeu um par de sapato a US$ 25.
"Não temos preços. Não sabemos como vai se comportar o mercado", diz Miguel Heitor Bettarello, diretor da H. Bettarello, outra
fabricante e exportadora de calçados masculinos de Franca (SP).
Bettarello diz que os fornecedores de colas, tintas e linhas também
suspenderam as vendas nos últimos dias porque estão recalculando suas tabelas de preços. "A sorte
é que temos estoque e não vamos
precisar parar a fábrica."
A tão esperada desvalorização do
real trouxe alívio para os exportadores, dizem eles, mas o fato de o
câmbio estar liberado e os juros
subindo levam os empresários a se
tornarem mais cautelosos na hora
de fazer projeções para o ano.
De 94 a 97, as exportações brasileiras de calçados foram da ordem
de US$ 1,5 bilhão por ano.
"Não dá para fazer plano para 99.
É um momento de expectativa.
Ninguém pode calcular preços,
porque não há idéia dos custos",
diz Ricardo Wirth, vice-presidente
da Abicalçados, associação que
reúne os fabricantes.
A H. Bettarello arrisca, de qualquer forma, fazer planos por conta
da desvalorização do real. No ano
passado, a empresa exportou US$
26 milhões. Este ano acha que pode
chegar a US$ 32 milhões. Bettarello
diz que exportava o par de sapato a
US$ 18,60. Esse preço deve cair para US$ 17,70, calcula.
A Sândalo, que exporta cerca de
US$ 1 milhão por mês, acredita que
pode aumentar esse valor para
US$ 1,4 milhão por mês com o real
mais barato. É um cálculo preliminar. "O fato é que está tudo muito
nebuloso", afirma Brigagão.
Castro, da Procex, diz que a desvalorização do real está muito superior ao que se imaginava. Isso
assusta. Na sua análise, as exportações brasileiras devem crescer este
ano entre 5% e 10%, pelo menos
para os EUA. "Mas não dá para
imaginar que se o real desvalorizar
40% a indústria vai dar desconto
de 40% para o importador."
Wirth diz que se o preço do sapato brasileiro em dólar cair cerca de
15%, o Brasil será um concorrente
ainda mais forte dos fabricantesitalianos, espanhóis e portugueses.
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