|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
BC, "queremismo" e histeria
Mercadistas mentem sobre história do BC na era FHC e lançam alarmes exagerados de fogo na política monetária
|
OS PAIS da pátria financeira e
os aduladores do dinheiro
grosso em geral estão inquietos. Com a pose de circunspecção
kitsch e o servilismo pressuroso típicos, começam a gritar "fogo no BC,
fogo no BC", "Lula ameaça a autonomia que o Banco Central tem desde
os anos FHC" e coisas assim. Isso
porque há o rumor de que Lula tentaria, digamos, infiltrar no BC um
diretor que talvez divirja da cúpula
nomeada por Henrique Meirelles.
Trata-se do "queremismo" monetário. O queremismo foi, como se sabe, o movimento que Getúlio Vargas
plantou e fomentou na massa quando percebeu que iriam apeá-lo do
poder, em 1945. Mas o queremismo
monetário é uma farsa interesseira
que pretende se contrapor à tentativa petista de fritar Meirelles e cia.
Sim, farsa, tentativa de gambito
maroto, de doutrinação midiática,
de alarmismo interesseiro. As tentativas descaradas de falsificação histórica são cada vez mais precoces. Já querem mentir sobre fatos que não
têm dez anos, fatos do governo FHC.
As diretorias e a presidência do BC
foram objeto de disputa política
aberta durante o primeiro governo
FHC, assim como o foi a política monetária. Houve intervenção contínua no Banco Central fernandino,
resultado dos conflitos sobre o destino da política econômica. A corrente vitoriosa foi a que se adequou
melhor ao projeto de reeleição de
FHC; era também a ala mais incensada pela maioria dos economistas
padrão e pela cúpula da finança.
O final da intervenção direta e
contínua ocorreria apenas em janeiro de 1999, depois de o mercado ter
"votado com os pés" -ou com cédulas de dólares em fuga- pela queda
de Gustavo Franco, do câmbio quase fixo e do real forte, fase um.
Foi quando Armínio Fraga assumiu o BC e promoveu mudanças
institucionais importantes. Criou
condições e procedimentos para
que as decisões monetárias pudessem ter mais autonomia, goste-se
disso ou não. Parêntese: alguém ainda lembra como o petismo-lulismo
insultava Armínio, "a raposa que
cuidaria do galinheiro", que então
trocava a gestão de fundos no centro
da finança mundial pela presidência
do BC? Quanta cara-de-pau.
Segundo, o governo vai mudar o
sistema de metas de inflação? Essa
perigosamente radical nova diretoria do BC, talvez com um gato pingado ou patinho feio na ninhada, arrebentaria as metas, atirando no próprio pé e no governo? Lula, antes de
tudo um grande conservador de si
mesmo, aceitaria tal coisa?
Terceiro, o que poderia ocorrer de
tão perigoso nas hipotéticas nomeações interventoras de Lula? A escalação de diretores da era FHC, a
maioria deles hoje crítica do excesso
de aperto monetário do BC lulista?
Quarto, por que tanta frescura?
Que obra magnífica está ameaçada,
que papiro frágil e precioso da eternidade será rasgado com algumas
mexidas no BC? A lei do sistema financeiro precisa de reforma de cabo
a rabo. O padrão de autonomia, o sistema de prestação de contas do BC,
as instituições de fiscalização da autoridade monetária, nada disso
presta. Precisa é de mudança maior,
não essa desconversa de um diretor
para lá, outro para cá.
Enfim, o alarmismo queremista é
politiquice: grupos de interesse tentam manter o BC cativo, capturado.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Setor de máquinas investe para conter China Próximo Texto: Brasil é o 36º destino mais procurado Índice
|