São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

BC, "queremismo" e histeria


Mercadistas mentem sobre história do BC na era FHC e lançam alarmes exagerados de fogo na política monetária

OS PAIS da pátria financeira e os aduladores do dinheiro grosso em geral estão inquietos. Com a pose de circunspecção kitsch e o servilismo pressuroso típicos, começam a gritar "fogo no BC, fogo no BC", "Lula ameaça a autonomia que o Banco Central tem desde os anos FHC" e coisas assim. Isso porque há o rumor de que Lula tentaria, digamos, infiltrar no BC um diretor que talvez divirja da cúpula nomeada por Henrique Meirelles.
Trata-se do "queremismo" monetário. O queremismo foi, como se sabe, o movimento que Getúlio Vargas plantou e fomentou na massa quando percebeu que iriam apeá-lo do poder, em 1945. Mas o queremismo monetário é uma farsa interesseira que pretende se contrapor à tentativa petista de fritar Meirelles e cia.
Sim, farsa, tentativa de gambito maroto, de doutrinação midiática, de alarmismo interesseiro. As tentativas descaradas de falsificação histórica são cada vez mais precoces. Já querem mentir sobre fatos que não têm dez anos, fatos do governo FHC.
As diretorias e a presidência do BC foram objeto de disputa política aberta durante o primeiro governo FHC, assim como o foi a política monetária. Houve intervenção contínua no Banco Central fernandino, resultado dos conflitos sobre o destino da política econômica. A corrente vitoriosa foi a que se adequou melhor ao projeto de reeleição de FHC; era também a ala mais incensada pela maioria dos economistas padrão e pela cúpula da finança.
O final da intervenção direta e contínua ocorreria apenas em janeiro de 1999, depois de o mercado ter "votado com os pés" -ou com cédulas de dólares em fuga- pela queda de Gustavo Franco, do câmbio quase fixo e do real forte, fase um.
Foi quando Armínio Fraga assumiu o BC e promoveu mudanças institucionais importantes. Criou condições e procedimentos para que as decisões monetárias pudessem ter mais autonomia, goste-se disso ou não. Parêntese: alguém ainda lembra como o petismo-lulismo insultava Armínio, "a raposa que cuidaria do galinheiro", que então trocava a gestão de fundos no centro da finança mundial pela presidência do BC? Quanta cara-de-pau.
Segundo, o governo vai mudar o sistema de metas de inflação? Essa perigosamente radical nova diretoria do BC, talvez com um gato pingado ou patinho feio na ninhada, arrebentaria as metas, atirando no próprio pé e no governo? Lula, antes de tudo um grande conservador de si mesmo, aceitaria tal coisa?
Terceiro, o que poderia ocorrer de tão perigoso nas hipotéticas nomeações interventoras de Lula? A escalação de diretores da era FHC, a maioria deles hoje crítica do excesso de aperto monetário do BC lulista?
Quarto, por que tanta frescura? Que obra magnífica está ameaçada, que papiro frágil e precioso da eternidade será rasgado com algumas mexidas no BC? A lei do sistema financeiro precisa de reforma de cabo a rabo. O padrão de autonomia, o sistema de prestação de contas do BC, as instituições de fiscalização da autoridade monetária, nada disso presta. Precisa é de mudança maior, não essa desconversa de um diretor para lá, outro para cá.
Enfim, o alarmismo queremista é politiquice: grupos de interesse tentam manter o BC cativo, capturado.

vinit@uol.com.br


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