São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

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Setor de máquinas investe para conter China

Investimentos chegaram a R$ 6,89 bi em 2006, o maior número desde 1995

Um terço do valor foi para modernização tecnológica, segundo a Abimaq; objetivo é enfrentar a concorrência estrangeira, como a asiática

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria brasileira de máquinas e equipamentos investiu R$ 6,89 bilhões em 2006, o maior valor já registrado pelo setor desde 1995. Boa parte dos recursos foi utilizada em modernização tecnológica na tentativa de enfrentar a concorrência com os fabricantes estrangeiros, como os chineses.
Levantamento feito pela Abimaq, associação que reúne os fabricantes de máquinas e equipamentos, mostra que os investimentos realizados pelo setor no ano passado são 11,4% maiores do que os de 2005, que somaram R$ 6,18 bilhões.
Dos recursos investidos, 33,5% foram utilizados em modernização tecnológica; 29,8%, na ampliação da capacidade produtiva; 25,5%, na reposição de máquinas antigas, e 11,2%, na aquisição de equipamentos de informática, imóveis etc.
Para realizar esse levantamento, a Abimaq consultou 243 empresas de todos os portes (micro, pequena, média e grande) e fez uma projeção para o setor, formado por cerca de 4.000 companhias no Brasil. As respostas foram múltiplas.
"O setor está fazendo um grande esforço para enfrentar a concorrência com os estrangeiros com investimentos para diminuir custos e aumentar a produtividade", diz Newton Mello, presidente da Abimaq.
Na sua avaliação, os investimentos realizados no ano passado são também reflexo das vendas do setor em 2005, de R$ 55,86 bilhões, 18,3% maiores do que as de 2004. "Com esse resultado, os empresários se animaram e optaram por modernizar e até elevar a produção em 2006", afirma.
Além de investir para concorrer com fabricantes estrangeiros no mercado interno, segundo informa Mello, as fábricas gastaram com a compra de novos equipamentos para garantir as vendas no mercado externo. No ano passado, o setor exportou US$ 9,65 bilhões, 12,4% mais do que em 2005.
A Abimaq também constatou que, pela primeira vez no setor, as pequenas empresas investiram mais do que as médias. No ano passado, os investimentos das pequenas indústrias totalizaram R$ 1,19 bilhão, e os das médias, R$ 1,11 bilhão.
As indústrias que mais investiram em 2006, segundo informa Mello, foram as que produzem equipamentos para os setores de petróleo, mineração, papel e celulose, metalúrgico e de açúcar e álcool. As que menos investiram foram as que atendem aos setores agrícola, gráfico, têxtil e plástico.

Competitividade
A Schuler, fabricante de prensas para a indústria automobilística e de equipamentos para energia eólica, investiu R$ 11 milhões no ano passado, principalmente em modernização. Pretende gastar mais R$ 8 milhões neste ano na aquisição de equipamentos para se tornar ainda mais competitiva, segundo informa Paulo Tonicelli, presidente da empresa.
As vendas para o mercado externo chegaram a corresponder a 80% do faturamento anual da Schuler, de cerca de R$ 287 milhões. Hoje, representam 55%.
"Perdemos competitividade. Além disso, as montadoras norte-americanas reduziram os investimentos. Nosso desafio neste ano será tentar manter as exportações e as vendas no mercado interno." A Schuler prepara a entrada em outros tipos de máquina para atender a outros setores industriais.
Fabricante de equipamentos para o setor de açúcar e álcool, entre outros, a Dedini investiu R$ 30 milhões em modernização em 2006 e deve gastar mais R$ 35 milhões em equipamentos mais modernos e aumento de produção neste ano.
Sérgio Leme dos Santos, vice-presidente-executivo da Dedini, diz que a venda de equipamentos para a indústria de açúcar e álcool tem crescido nos últimos três anos e que esse setor não sofre tanta concorrência com fábricas de fora.
A empresa concorre mais com a China na linha de equipamentos pesados, para siderurgia e empresas de mineração. Com a Alemanha, na linha de máquinas de inox para as cervejarias, por exemplo.
A Dedini começa o ano com uma carteira de encomendas da ordem de R$ 1 bilhão. "Este ano está melhor do que 2006, principalmente por causa dos investimentos do setor de açúcar e álcool", afirma Leme dos Santos.

Cenário melhor
A Cross Hueller, fabricante de linhas de usinagem para a indústria automobilística, informa que as perspectivas de vendas para este ano são melhores do que as do ano passado, principalmente devido aos investimentos programados pelo setor automobilístico.
"Queremos esquecer o ano de 2006. Diria que o setor de máquinas em geral passa por um processo de desindustrialização por conta da importação de equipamentos da China. Com essa taxa de câmbio [favorável à importação], perdemos vendas nos mercados externo e interno", afirma Roberto Michael Schaefer, diretor-presidente da empresa.
As encomendas das montadoras previstas para este ano voltam a dar ânimo para a empresa. "Nossa previsão é elevar as vendas em 10% neste ano e investir para elevar a capacidade produtiva."
Para o setor como um todo, Mello, da Abimaq, não faz projeções otimistas. Ele estima, para este ano, uma queda de 20% nos investimentos e de 2% a 3% no faturamento na comparação com 2006.


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