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Crise no Leste Europeu eleva risco global
Depois de boom de investimento externo e crescimento, região vive maior turbulência desde a queda do Muro de Berlim
Moedas de Polônia e Hungria derretem, e analistas fazem comparações com a crise asiática; problemas da região ameaçam Europa e EUA
NELSON D. SCHWARTZ
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS
Desde a queda do Muro de
Berlim (1989), os países da Europa Oriental emergiram como
aliados importantes dos EUA
na região, abraçando o capitalismo ocidental e tomando empréstimos vultosos dos bancos
da Europa Ocidental para financiar sua ascensão.
Agora a conta está vencendo.
O boom de desenvolvimento
que transformou Polônia,
Hungria e outros ex-satélites
soviéticos em alguns dos mercados mais quentes da Europa
está perto de entrar em colapso, levantando novos riscos
preocupantes para o sistema financeiro global.
Na semana passada, Wall
Street afundou após a agência
Moody's ter alertado que bancos ocidentais que recentemente entraram na região enfrentam agora "pousos forçados", assustando investidores
com a possibilidade de que essa
exposição possa se espalhar para além da Europa.
"Há um efeito dominó", diz
Kenneth S. Rogoff, professor de
Harvard e ex-economista-chefe do FMI. "Mercados de crédito internacionais estão conectados, e uma crise de crédito
crescente na Europa Oriental e
nos países bálticos pode fazer
com que títulos da Prefeitura
de Nova York desabem."
O perigo está em muitas
frentes. As grandes economias
europeias já estão em recessão,
e muitos de seus grandes bancos cortaram o crédito.
Para a Europa Central e
Oriental, que desfrutaram de
crescimento vertiginoso graças
a uma onda de crédito desses
bancos, o aperto não poderia
ter vindo em pior hora. Já machucadas pela crise global, estão à beira de uma espiral descendente enquanto o fluxo de
crédito vai secando. A média de
crescimento entre os países da
região recuou para 3,2% no ano
passado, de 5,4% em 2007.
Neste ano, a previsão é de contração de 0,4% -mas deve ser
ainda pior que isso.
Some-se a isso um novo temor: de que a pior crise econômica da região desde a queda do
Muro de Berlim pode contaminar as moedas locais, com ecos
da crise financeira asiática do
final dos anos 1990. Na época,
mercados emergentes como a
Tailândia tomaram emprestado em moedas estrangeiras para estimular o crescimento,
mas repentinamente deviam
mais do que podiam pagar após
a desvalorização cambial.
Desde seu pico no último verão [europeu, inverno no Brasil], a moeda polonesa derreteu
48% contra o euro; a da Hungria caiu 30%; e a da República
Tcheca, 21%. "Muito simplificadamente, a Europa Oriental
tornou-se a versão europeia do
mercado "subprime" [créditos
de segunda linha]", diz Robert
Brusca, da FAO Economics.
Os bancos centrais de Polônia, Hungria, Romênia e República Tcheca tentaram restaurar a calma ao lançarem comunicados dizendo que as quedas
recentes não se justificam pelos fundamentos da economia.
Além disso, bancos ocidentais podem sofrer novo aumento de empréstimos inadimplentes. "A maioria dos bancos
na região é de países da zona do
euro e terá de receber mais recapitalização", diz Gillian Edgeworth, economista do Deutsche Bank em Londres.
Outro problema é que grandes investidores institucionais
na Europa Ocidental -bancos,
fundos de pensão, seguradoras- têm muitos papéis de dívida da Europa Oriental. Se esses bancos precisarem de mais
infusão de capital dos governos
ocidentais, já sobrecarregados
com pacotes de estímulo e manutenção de redes de proteção
social, o euro poderá ser ainda
mais pressionado.
Com a crise piorando pelo
continente, diz Rogoff, a aversão ao risco pode se espalhar
rapidamente a outras partes do
mundo. Investidores afetados
pelos mercados cadentes na
Europa estão tendo de vender
ativos americanos para levantar dinheiro, aumentando a
pressão no mercado dos EUA.
Entre as principais vítimas
da crise estão dezenas de milhares de trabalhadores que
vislumbraram um caminho de
maior prosperidade e agora
veem o sonho desmoronar com
a erosão do mercado de trabalho e do sistema financeiro.
Como suas moedas declinantes encarecem a importação de
bens e o pagamento das dívidas
externas, os governos da região
cortaram gastos e reduziram
serviços públicos, gerando protestos cada vez mais violentos
que ameaçam os governos.
Na sexta-feira, a coalizão governista na Letônia tornou-se o
segundo governo europeu, depois da Islândia, a colapsar.
Em Kiev, capital da Ucrânia,
manifestantes tomaram as ruas
na sexta para protestar enquanto correntistas corriam
aos bancos locais para sacar.
A crise forçou o FMI a intervir. Em meses recentes, concedeu a Ucrânia, Islândia, Hungria e Letônia bilhões em ajuda.
"Estou esperando uma nova
onda de países batendo à minha porta", disse Dominique
Strauss-Kahn, diretor do FMI.
Há dois anos, "a ideia projetada de forma muito consistente era de que o FMI não teria de
ajudar os mercados emergentes novamente" e de que "os
mercados financeiros se encarregariam disso", disse Jean-Claude Trichet, presidente do
Banco Central Europeu, na
sexta-feira. Agora, disse, isso se
mostrou "totalmente falso".
Simon Johnson, do MIT, diz
não esperar a repetição da
Grande Depressão, mas prevê
período longo de baixo crescimento como a "década perdida" do Japão, nos anos 1990,
nos EUA e na Europa.
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