|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Medida tende a elevar o custo do crédito na praça
VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA
O Banco Central vai obrigar
os bancos a emprestar menos.
É isso a mudança no "compulsório", o dinheiro que os bancos
têm de deixar parado no "cofre"
do BC. Em suma, isso implica
juros maiores na praça. Vai ficar mais caro rolar o cartão de
crédito, financiar carro ou TV.
O BC sempre nega que adote
tal medida a fim de encarecer o
crédito. Isto é, a fim de conter o
consumo e, assim, esfriar a economia de modo a evitar inflação. Dizem que o único "instrumento da política monetária é a
taxa básica de juros, a Selic".
Uma mexida na Selic altera os
juros de toda a economia.
O Ministério da Fazenda fazia campanha para que o BC
mexesse no compulsório antes
de elevar a Selic (que deve subir
em meados do ano). Por quê? O
impacto da alta do compulsório
na economia seria mais suave e,
ainda, o governo gastaria menos com os juros de sua dívida.
Mas o BC diz que alterar o
compulsório é medida "prudencial". Ou seja, quando falta
dinheiro na praça bancária, o
BC abre o cofre. Foi o que ocorreu em 2008, quando o BC liberou cerca de R$ 100 bilhões.
Com parte desse dinheiro, os
bancos maiores na prática socorreram bancos menores, que
corriam o risco de quebrar.
Agora, com a situação mais
normal, a medida prudente é
evitar o excesso de crédito:
bancos podem emprestar demais e emprestar mal. E o dinheiro compulsoriamente recolhido ao BC serve de estoque
para dias difíceis no mercado.
O compulsório do Brasil é um
dos mais altos do mundo. Por
que não baixá-lo? A direção do
BC diz que isso poderia ter o
efeito de aumentar o crédito, de
aquecer a economia. Logo, a
medida inversa pode esfriar a
economia, certo? O BC se cala.
E daí? Daí que é difícil saber
se o BC está reduzindo o crédito a fim de evitar alta maior da
Selic, como prega a Fazenda.
Por fim, pouco adiantou o BC
anunciar a medida após o mercado fechar. No meio da tarde,
corria solto o boato da mexida
no compulsório. Quem é esperto pôde fazer um dinheirinho.
Texto Anterior: Taxas de juros ao consumidor voltam a subir Próximo Texto: Paulo Nogueira Batista Jr.: Um FMI heterodoxo? Índice
|