São Paulo, quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

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ANÁLISE

Medida tende a elevar o custo do crédito na praça

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

O Banco Central vai obrigar os bancos a emprestar menos. É isso a mudança no "compulsório", o dinheiro que os bancos têm de deixar parado no "cofre" do BC. Em suma, isso implica juros maiores na praça. Vai ficar mais caro rolar o cartão de crédito, financiar carro ou TV.
O BC sempre nega que adote tal medida a fim de encarecer o crédito. Isto é, a fim de conter o consumo e, assim, esfriar a economia de modo a evitar inflação. Dizem que o único "instrumento da política monetária é a taxa básica de juros, a Selic". Uma mexida na Selic altera os juros de toda a economia.
O Ministério da Fazenda fazia campanha para que o BC mexesse no compulsório antes de elevar a Selic (que deve subir em meados do ano). Por quê? O impacto da alta do compulsório na economia seria mais suave e, ainda, o governo gastaria menos com os juros de sua dívida.
Mas o BC diz que alterar o compulsório é medida "prudencial". Ou seja, quando falta dinheiro na praça bancária, o BC abre o cofre. Foi o que ocorreu em 2008, quando o BC liberou cerca de R$ 100 bilhões. Com parte desse dinheiro, os bancos maiores na prática socorreram bancos menores, que corriam o risco de quebrar.
Agora, com a situação mais normal, a medida prudente é evitar o excesso de crédito: bancos podem emprestar demais e emprestar mal. E o dinheiro compulsoriamente recolhido ao BC serve de estoque para dias difíceis no mercado.
O compulsório do Brasil é um dos mais altos do mundo. Por que não baixá-lo? A direção do BC diz que isso poderia ter o efeito de aumentar o crédito, de aquecer a economia. Logo, a medida inversa pode esfriar a economia, certo? O BC se cala.
E daí? Daí que é difícil saber se o BC está reduzindo o crédito a fim de evitar alta maior da Selic, como prega a Fazenda.
Por fim, pouco adiantou o BC anunciar a medida após o mercado fechar. No meio da tarde, corria solto o boato da mexida no compulsório. Quem é esperto pôde fazer um dinheirinho.


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