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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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ARTIGO

Guerra nem sempre faz bem às ações

FLOYD NORRIS
DO "THE NEW YORK TIMES"

Os canhões começaram a rugir na semana passada e as ações dispararam não só nos EUA como em todo o mundo.
Algo semelhante aconteceu em 1991, quando o bombardeio aliado ao Iraque começou. Mas isso não quer dizer que guerras sempre fazem bem às ações.
Em termos gerais, as ações dos Estados Unidos sobem em tempo de guerra quando os operadores acreditam que os acontecimentos favorecem o país.
Os preços das ações norte-americanas caíram acentuadamente no começo da Primeira e da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coréia. Também caíram depois que o Iraque invadiu o Kuait em 1990. Mas, em cada um desses casos, eles se recuperaram, às vezes antes que se tornasse claro que as notícias sobre a guerra estavam melhorando.
Uma das piores semanas para as Bolsas foi a de 18 de maio de 1940, quando o índice industrial médio Dow Jones caiu 15,4% depois que o Exército francês se despedaçou diante da invasão alemã.
O índice continuou em queda à medida que a guerra avançava e caiu 6,5% nos três dias que se seguiram ao ataque japonês contra Pearl Harbor. O mercado não chegou ao fundo da queda antes do segundo trimestre de 1942, quando o Dow Jones estava 37% abaixo de sua cotação anterior ao início da batalha da França. Mas os preços começaram a se recuperar ainda antes da batalha de Midway, em junho de 1942, que sinalizou que as fortunas da guerra começavam a virar.
Pelo final da guerra, em agosto de 1945, o índice Dow Jones estava 77% acima de sua queda máxima, em 1942, mas apenas 14% acima de sua cotação quando a Alemanha invadiu a França.
Na última semana de julho de 1914, quando se tornou óbvio que a guerra estava para começar na Europa, as ações da Bolsa de Nova York caíram 11,5% nos quatro primeiros dias da semana e aparentemente abririam o 31 de julho em queda ainda maior, devido ao dilúvio de ordens de venda vindas da Europa. O governo fechou a Bolsa, que só reabriu em 12 de dezembro.
A essa altura, parecia claro que as empresas norte-americanas estavam se beneficiando de encomendas relacionadas à guerra e o índice Dow Jones fechou o primeiro dia com alta de 4,4%. Quando os EUA entraram na guerra, em 6 de abril de 1917, o Dow Jones estava 73% acima do ponto de reabertura do mercado. Mas caiu pelo restante do conflito, que se encerrou em 1918.
Um dia depois que começou a Guerra da Coréia, em 25 de junho de 1950, o Dow Jones entrou em queda de 12% em um mês. Mas recuperou todo terreno perdido por volta de setembro, quando as forças norte-americanas empreenderam uma audaciosa invasão anfíbia em Inchon que garantiu que uma vitória rápida da Coréia do Norte seria impossível.
A Guerra do Vietnã foi chegando aos poucos à consciência dos norte-americanos. Mas muitas ações atingiram um pico em 1966, não muito depois que o envolvimento norte-americano começou sua escalada, em 1965. E, quando a guerra enfim terminou, em 1975, a economia norte-americana passara por uma severa recessão e os preços das ações estavam muito abaixo de suas cotações na metade dos anos 60.
A Guerra do Golfo em 1991 é relembrada como ótima para as ações, mas não era esse o panorama quando as hostilidades se iniciaram. O índice Dow Jones caiu 6,3% nos três dias que se seguiram à invasão do Iraque pelo Kuait em 2 de agosto de 1990 e acumulava queda de 19% quando as ações começaram a se recuperar, em outubro. Os preços das ações subiram 4,65% no dia em que começou o ataque internacional ao Iraque, em 17 de janeiro de 1991. E, quando a guerra terminou em cessar-fogo, em 3 de março, o Dow Jones voltara ao seu ponto anterior à invasão do Kuait pelas tropas iraquianas.
Na semana passada, quando começou a última guerra, o Dow Jones subiu em 8,4%, para 8.521,97 pontos. Mas mesmo com esses ganhos ele está um pouco abaixo de sua marca em 8 de novembro, quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a resolução 1.441, oferecendo ao Iraque uma "última chance" de se desarmar.
Em ambos os casos recentes, 1990-91 e 2002-03, a fraqueza da economia dos EUA, causada em parte pela alta nos preços do petróleo, ajudou a deprimir os preços das ações. Em 1990, os preços do petróleo atingiram um pico em outubro, mas haviam caído bastante antes que começassem os bombardeios dos EUA.


Tradução de Paulo Migliacci


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