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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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LUÍS NASSIF

O pêndulo e Bush

As análises atuais sobre a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque padecem de algum imediatismo. Argumenta-se, corretamente, que a decisão de George W. Bush significou a implosão da ordem diplomática internacional, que os EUA deixam de ser potência hegemônica para se converter em potência imperial, a exemplo da Roma de Júlio César, após a travessia do Rubicão.
A questão a discutir é se a posição de Bush representa o pensamento norte-americano daqui para a frente ou se é um momento de truculência irracional que tende a ser superado e jogado na lata de lixo da história. É mais razoável acreditar no fim político de Bush filho, a médio prazo, do que na manutenção da grande noite mundial.
Os Estados Unidos são uma sociedade complexa, com muitos interesses em jogo e com agentes políticos influentes e inimagináveis na época de Roma imperial. Neste momento tem-se uma guerra cruel, um índice de 75% de aprovação interna à ação militar e os Estados Unidos entregues a forças retrógradas e isolacionistas. Porém é o auge do prestígio de Bush filho, impulsionado pelo trauma de 11 de setembro e pela promessa de uma guerra "limpa", sem perdas substantivas do lado norte-americano e com respeito aos civis iraquianos.
Esses fatores tendem a se diluir rapidamente, e outros fatores entrarão em cena:
1) o movimento pacifista é uma realidade latente, disseminada por todo o mundo desde a Guerra do Vietnã. A manifestação de artistas contra a guerra na cerimônia de entrega do Oscar demonstra que não há espaço para uma recidiva do macarthismo. Apenas uma guerra extremamente rápida poderia impedir o crescimento de manifestações internas contra a guerra;
2) a visão imperial de mundo, da "doutrina Bush", é incompatível com a visão de hegemonia econômica, dado o grau de interligação das economias nacionais. Portanto entra em choque com os interesses das suas multinacionais, segundo grupo que começará, em breve, a investir contra a guerra;
3) uma das dificuldades de impor a racionalidade econômica é a distância entre os eventos e suas consequências econômicas. Se a guerra aumentar o déficit público norte-americano e impedir a recuperação da economia nacional e mundial, Bush filho será fritado como foi Bush pai;
4) sem que nenhuma reunião adicional tenha sido feita, pode-se dizer que o sentimento brasileiro ficou muito mais pró-União Européia do que pró-Alca. A manifestação do poder imperial norte-americano será forte fator de mobilização dos países e regiões para acordos comerciais que os fortaleçam contra o império;
5) o governo Bush padece de escândalos potenciais para oposição nenhuma botar defeito. Há os interesses comerciais pouco transparentes dos auxiliares de Bush e indícios sobre manipulação de informações pela CIA visando encontrar uma desculpa para a invasão. Todas as informações que estão sendo sonegadas hoje pela mídia norte-americana estão devidamente arquivadas para o momento em que o pêndulo da opinião pública começar a se voltar contra Bush filho.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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