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LUÍS NASSIF
O pêndulo e Bush
As análises atuais sobre a
guerra dos Estados Unidos
contra o Iraque padecem de algum imediatismo. Argumenta-se, corretamente, que a decisão
de George W. Bush significou a
implosão da ordem diplomática
internacional, que os EUA deixam de ser potência hegemônica
para se converter em potência
imperial, a exemplo da Roma de
Júlio César, após a travessia do
Rubicão.
A questão a discutir é se a posição de Bush representa o pensamento norte-americano daqui
para a frente ou se é um momento de truculência irracional que
tende a ser superado e jogado na
lata de lixo da história. É mais
razoável acreditar no fim político de Bush filho, a médio prazo,
do que na manutenção da grande noite mundial.
Os Estados Unidos são uma sociedade complexa, com muitos
interesses em jogo e com agentes
políticos influentes e inimagináveis na época de Roma imperial.
Neste momento tem-se uma
guerra cruel, um índice de 75%
de aprovação interna à ação militar e os Estados Unidos entregues a forças retrógradas e isolacionistas. Porém é o auge do
prestígio de Bush filho, impulsionado pelo trauma de 11 de setembro e pela promessa de uma
guerra "limpa", sem perdas
substantivas do lado norte-americano e com respeito aos civis
iraquianos.
Esses fatores tendem a se diluir
rapidamente, e outros fatores
entrarão em cena:
1) o movimento pacifista é
uma realidade latente, disseminada por todo o mundo desde a
Guerra do Vietnã. A manifestação de artistas contra a guerra
na cerimônia de entrega do Oscar demonstra que não há espaço para uma recidiva do macarthismo. Apenas uma guerra extremamente rápida poderia impedir o crescimento de manifestações internas contra a guerra;
2) a visão imperial de mundo,
da "doutrina Bush", é incompatível com a visão de hegemonia
econômica, dado o grau de interligação das economias nacionais. Portanto entra em choque
com os interesses das suas multinacionais, segundo grupo que
começará, em breve, a investir
contra a guerra;
3) uma das dificuldades de impor a racionalidade econômica é
a distância entre os eventos e
suas consequências econômicas.
Se a guerra aumentar o déficit
público norte-americano e impedir a recuperação da economia
nacional e mundial, Bush filho
será fritado como foi Bush pai;
4) sem que nenhuma reunião
adicional tenha sido feita, pode-se dizer que o sentimento brasileiro ficou muito mais pró-União Européia do que pró-Alca. A manifestação do poder imperial norte-americano será forte fator de mobilização dos países e regiões para acordos comerciais que os fortaleçam contra o
império;
5) o governo Bush padece de
escândalos potenciais para oposição nenhuma botar defeito. Há
os interesses comerciais pouco
transparentes dos auxiliares de
Bush e indícios sobre manipulação de informações pela CIA visando encontrar uma desculpa
para a invasão. Todas as informações que estão sendo sonegadas hoje pela mídia norte-americana estão devidamente arquivadas para o momento em que o
pêndulo da opinião pública começar a se voltar contra Bush filho.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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