São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2004

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PARALISAÇÃO

Trabalhadores de Paranaguá suspendem greve, mas motoristas fecham rodovia para pedir indenização por dias perdidos

Porto agora sofre bloqueio de caminhões

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O porto de Paranaguá (no Paraná) voltou a operar de forma parcial a partir do meio-dia de ontem, depois que operadores e trabalhadores portuários decidiram suspender uma greve que durou cinco dias. O movimento normal de embarque de soja nos navios, porém, deve continuar comprometido, em razão de protesto dos caminhoneiros. Após mais de uma semana de espera para descarregar no porto, os caminhoneiros decidiram ontem que não vão entregar a soja enquanto não forem indenizados pelos dias perdidos com a paralisação.
No início da tarde de ontem, os cerca de 5.000 caminhoneiros parados no acostamento da BR-277 -rodovia que liga Curitiba a Paranaguá- bloquearam as duas pistas de descida da serra do Mar em vários pontos, para pressionar pelo pagamento de diárias.
As barreiras para veículos de qualquer tipo de carga foram mantidas até a noite. No meio da tarde de ontem, as pistas foram liberadas ao tráfego de carros pequenos e ônibus.

Reuniões
Estimulados pelo governador Roberto Requião (PMDB) e pelo superintendente do porto, seu irmão Eduardo Requião, os líderes dos caminhoneiros iniciaram à tarde uma sucessão de reuniões com embarcadores e agentes portuários para definir o valor das indenizações. Os pedidos para o preço a ser pago por tonelada/hora variavam de R$ 0,40 a R$ 1.
Os sindicatos que lideraram o protesto no porto decidiram suspender a greve depois de uma negociação com o governador, que começou anteontem à noite e se estendeu até a madrugada de ontem. À tarde, cinco navios atracados começaram a ser carregados nos terminais, mas apenas um graneleiro recebeu soja. Segundo a administração do porto, 61 navios esperavam na baía.
O retorno ao trabalho no porto se deu sem que o movimento de protesto fosse atendido na principal reivindicação: o irmão do governador vai continuar administrando o terminal. Operadores, agentes, exportadores, políticos e trabalhadores pediam a saída de Eduardo Requião, sob o argumento de que as medidas adotadas por ele são inoperantes.

"Moralização"
O governador afirma que sua administração está "moralizando" o terminal. Ele prometeu atender a alguns pedidos dos trabalhadores, mas se recusou a ouvir operadores e agentes. Segundo Requião, antes de seu governo, "o maior porto graneleiro do país estava nas mãos de piratas privados brincando de picaretas".
Procurados pela Agência Folha, representantes do sindicato dos operadores e agentes portuários não quiseram comentar a declaração de Requião. A Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) se recusou a avaliar as conseqüências econômicas da greve. A Faep (federação da agricultura no Estado) teme que os episódios de agora levem ao descrédito futuro do porto.
Os exportadores que operam em Paranaguá ainda não fazem uma avaliação dos prejuízos gerados pela paralisação, e Requião não admite perdas para o governo. Ele diz que as perdas momentâneas serão recuperadas com o gradual retorno do movimento.
O porto de Paranaguá é o responsável por 10% (US$ 6,5 bilhões) do volume de exportações do país. A cada dia da paralisação, estima-se que o porto deixou de faturar US$ 15 milhões e de movimentar cerca de 85 mil toneladas de carga.


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