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FISCALIZAÇÃO
Principal irregularidade apontada é falta de retenção de IR na fonte; entidade do setor considera fato "difícil"
Receita autua fundos de pensão em R$ 1 bi
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Receita Federal fiscalizou e
autuou 18 fundos de pensão no
ano passado em quase R$ 1 bilhão. A descoberta das irregularidades nas instituições levou o fisco a definir o setor como um dos
alvos preferenciais das auditorias
neste ano. A devassa fiscal já começou, e seis fundos estão sob fiscalização da Receita.
"Esses estudos [sobre irregularidades nos fundos] vêm ocorrendo ao longo do tempo. Em 2004,
nós havíamos identificado algumas circunstâncias. E essas verificações iniciais foram constatadas
no curso de 2005. Neste ano, estamos ampliando o alcance da fiscalização", disse à Folha o secretário-adjunto da Receita Paulo Ricardo de Souza.
O principal problema encontrado nas entidades é a falta de retenção na fonte de Imposto de Renda. Segundo Souza, a maior parte
dos R$ 925 milhões referentes às
autuações de 2005 é resultado do
não-recolhimento do IR -mais
multa e juros.
O secretário-adjunto explica
que, embora a legislação tributária válida para os fundos de pensão seja muito específica, com regras pontuais para diferentes períodos (seja na aplicação ou resgate de operações), os fundos alegam divergências na interpretação das normas para justificar o
não-pagamento do imposto.
"Para nós, não existe divergência nenhuma. É uma legislação
muito clara, as regras são muito
específicas, pois o setor tem uma
legislação própria. Às vezes, é
possível que um administrador
interprete a lei a favor do fundo. É
possível que haja uma intencionalidade de usufruir de uma norma
mais benéfica, que, porém, não
seja aplicável para aquela situação. É possível até casos intencionais de sonegação fiscal", avalia o
secretário-adjunto.
Para o diretor de Relações Institucionais da Abrapp (Associação
Brasileira das Entidades Fechadas
de Previdência Complementar),
Antônio Cruz, é "muito difícil"
que tenham ocorrido irregularidades no recolhimento de IR dos
fundos de pensão.
Entre as situações verificadas
nas auditorias realizadas no ano
passado está o uso de normas legais diferentes para uma mesma
situação. Ele cita um exemplo.
"Você pega fundo e verifica várias
aplicações com as mesmas características. Mas de repente a gente
identifica um grande investidor
que teve tratamento diferenciado.
Há indícios e elementos de que
houve intencionalidade no cometimento da irregularidade", diz.
O secretário-adjunto relata que
os problemas acontecem em fundos de variados tamanhos, sejam
ligados a empresas estatais ou
vinculados ao setor privado. Não
existe um tipo padrão de entidade
em que as irregularidades sejam
mais comuns e a fiscalização tenha de estar mais atenta.
"Mas, como não é um setor pulverizado, não temos uma infinidade de fundos atuando no mercado, é possível fazer um monitoramento para identificar aqueles
que apresentem distorções. A
partir dessa distorção é que começamos o processo de auditoria "in
loco'", declara o secretário.
Foco ampliado
Além das operações que implicam retenção de IR, o fisco pretende olhar com lupa outras operações realizadas pelas instituições de previdência complementar. "Muitas entidades investem
parte da carteira em empreendimentos imobiliários. Estamos
também analisando essa questão
porque, se há divergências na interpretação da legislação do Imposto de Renda, é possível haver
situações em outras áreas de investimento."
O setor de previdência complementar fechada reúne mais de 360
fundos de pensão e responde por
um patrimônio calculado em
mais de R$ 310 bilhões. Assim,
destaca Souza, qualquer operação
de investimento gera um montante expressivo de tributos a serem arrecadados pela Receita.
O secretário-adjunto espera que
as ações de 2005 já tenham tido
um efeito "educativo" nos fundos
e inibam novas irregularidades.
Souza lembra, no entanto, que
as fiscalizações, em geral, apuram
períodos passados para verificar
se houve ou não recolhimento
dos impostos devidos. Assim, as
auditorias promovidas neste ano
serão baseadas em fatos geradores dos últimos anos.
"Mas, pelo menos para aqueles
que desavisadamente cometeram
alguma irregularidade, esperamos que esse processo seja educativo e as irregularidades não ocorram daqui para a frente", afirma.
Além dos fundos de pensão, a
Receita elegeu como alvos da fiscalização deste ano distribuidores
de combustíveis, entidades filantrópicas, fabricantes de cigarros e
bebidas.
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