São Paulo, sábado, 25 de março de 2006

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NA MIRA

Alvo é empresa que declara ganho incompatível com giro financeiro

Receita vai investigar "superlucros"

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os próximos alvos da Receita Federal paulista são 3.000 empresas da cidade de São Paulo e seus sócios. Esses contribuintes foram selecionados por terem declarado o recebimento de lucros e dividendos nos anos de 2003 e 2004 incompatíveis com a movimentação financeira de suas empresas.
A Receita Federal suspeita que esses contribuintes (pessoas jurídicas e físicas) tenham fraudado o fisco. Há casos de sócios de empresas que declararam ter recebido, de lucros e dividendos, quantias superiores ao próprio faturamento bruto de suas companhias.
Os lucros e os dividendos distribuídos aos sócios de uma empresa são isentos de Imposto de Renda na declaração da pessoa física, conforme a lei 9.249, de 95.
Os sócios dessas 3.000 empresas declararam que receberam, juntos, R$ 4,5 bilhões em 2003 e R$ 6,2 bilhões em 2004. A Receita estima haver fraudes em ao menos 30% desses valores declarados.
"Estamos ainda no início do cruzamento das informações, mas já identificamos casos absurdos, como a declaração de recebimento de um dividendo superior ao faturamento bruto da empresa", afirma Edmundo Rondinelli Spolzino, superintendente da Receita Federal paulista. Há casos em que essa diferença chega a ser de 20 ou 30 vezes o valor declarado, segundo análise preliminar dos auditores fiscais.
Após a constatação das irregularidades, os contribuintes receberão notificações para se explicarem ao fisco. Isso significa que serão forçados a: 1) declarar o real valor da movimentação financeira das empresas; 2) explicar de onde saiu o dinheiro que resultou em tais lucros e dividendos; 3) recolher o imposto devido (que varia de acordo com a forma de tributação escolhida pela empresa e com seu ramo de atividade) e 4) pagar multa, que pode variar de 75% a 150% sobre o valor do imposto que deixou de ser recolhido.
O superintendente da Receita em São Paulo diz que o cruzamento de informações declaradas pelas empresas e por seus sócios não ficará restrito à cidade. "Vamos estender essa fiscalização para todo o Estado."

R$ 5 milhões no cartão
Entre os 2.000 usuários de cartão de crédito que também estão na mira do fisco por declararem rendimentos incompatíveis com seus gastos nos anos de 2003 e 2004, a Receita identificou casos de contribuintes que chegaram a movimentar, individualmente, até R$ 5 milhões no cartão.
Esses contribuintes -que, juntos, movimentaram R$ 400 milhões, mas informaram ter rendimentos de R$ 70 milhões- estão sendo intimados desde ontem por 200 auditores da Delegacia de Fiscalização da Receita Federal da cidade de São Paulo, durante a chamada Operação Midas -em alusão ao deus grego que transforma o que toca em ouro.
"Há casos de contribuintes [entre os 2.000 intimados] que se declararam até isentos de pagar IR", diz Spolzino. Se não se explicarem e resistirem à notificação dos fiscais, a Receita pode pedir a quebra de sigilo fiscal dos contribuintes.
A análise de dados desses consumidores é feita a partir de informações de operadoras de cartão de crédito, como estabelecem a lei complementar 105 (2001) e a instrução normativa nš 341 (2003).
No ano passado, 240 pessoas físicas foram autuadas em R$ 42 milhões por gastos feitos no cartão em 2003. A Receita informa que entre 2003 e 2004 aumentou em 75% o número de contribuintes com gastos no cartão de crédito incompatíveis com sua renda.
Para o consultor tributário Clóvis Panzarini, a Receita está correta em cruzar cada vez mais informações de contribuintes para evitar a sonegação fiscal. "A carga tributária é elevada no país, mas não é por isso que a fraude fiscal se justifica. Fraude fiscal é crime e tem de ser combatida."


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