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NA MIRA
Alvo é empresa que declara ganho incompatível com giro financeiro
Receita vai investigar "superlucros"
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os próximos alvos da Receita
Federal paulista são 3.000 empresas da cidade de São Paulo e seus
sócios. Esses contribuintes foram
selecionados por terem declarado
o recebimento de lucros e dividendos nos anos de 2003 e 2004
incompatíveis com a movimentação financeira de suas empresas.
A Receita Federal suspeita que
esses contribuintes (pessoas jurídicas e físicas) tenham fraudado o
fisco. Há casos de sócios de empresas que declararam ter recebido, de lucros e dividendos, quantias superiores ao próprio faturamento bruto de suas companhias.
Os lucros e os dividendos distribuídos aos sócios de uma empresa são isentos de Imposto de Renda na declaração da pessoa física,
conforme a lei 9.249, de 95.
Os sócios dessas 3.000 empresas
declararam que receberam, juntos, R$ 4,5 bilhões em 2003 e R$
6,2 bilhões em 2004. A Receita estima haver fraudes em ao menos
30% desses valores declarados.
"Estamos ainda no início do
cruzamento das informações,
mas já identificamos casos absurdos, como a declaração de recebimento de um dividendo superior
ao faturamento bruto da empresa", afirma Edmundo Rondinelli
Spolzino, superintendente da Receita Federal paulista. Há casos
em que essa diferença chega a ser
de 20 ou 30 vezes o valor declarado, segundo análise preliminar
dos auditores fiscais.
Após a constatação das irregularidades, os contribuintes receberão notificações para se explicarem ao fisco. Isso significa que
serão forçados a: 1) declarar o real
valor da movimentação financeira das empresas; 2) explicar de
onde saiu o dinheiro que resultou
em tais lucros e dividendos; 3) recolher o imposto devido (que varia de acordo com a forma de tributação escolhida pela empresa e
com seu ramo de atividade) e 4)
pagar multa, que pode variar de
75% a 150% sobre o valor do imposto que deixou de ser recolhido.
O superintendente da Receita
em São Paulo diz que o cruzamento de informações declaradas
pelas empresas e por seus sócios
não ficará restrito à cidade. "Vamos estender essa fiscalização para todo o Estado."
R$ 5 milhões no cartão
Entre os 2.000 usuários de cartão de crédito que também estão
na mira do fisco por declararem
rendimentos incompatíveis com
seus gastos nos anos de 2003 e
2004, a Receita identificou casos
de contribuintes que chegaram a
movimentar, individualmente,
até R$ 5 milhões no cartão.
Esses contribuintes -que, juntos, movimentaram R$ 400 milhões, mas informaram ter rendimentos de R$ 70 milhões- estão
sendo intimados desde ontem
por 200 auditores da Delegacia de
Fiscalização da Receita Federal da
cidade de São Paulo, durante a
chamada Operação Midas -em
alusão ao deus grego que transforma o que toca em ouro.
"Há casos de contribuintes [entre os 2.000 intimados] que se declararam até isentos de pagar IR",
diz Spolzino. Se não se explicarem
e resistirem à notificação dos fiscais, a Receita pode pedir a quebra
de sigilo fiscal dos contribuintes.
A análise de dados desses consumidores é feita a partir de informações de operadoras de cartão
de crédito, como estabelecem a lei
complementar 105 (2001) e a instrução normativa nš 341 (2003).
No ano passado, 240 pessoas físicas foram autuadas em R$ 42
milhões por gastos feitos no cartão em 2003. A Receita informa
que entre 2003 e 2004 aumentou
em 75% o número de contribuintes com gastos no cartão de crédito incompatíveis com sua renda.
Para o consultor tributário Clóvis Panzarini, a Receita está correta em cruzar cada vez mais informações de contribuintes para evitar a sonegação fiscal. "A carga
tributária é elevada no país, mas
não é por isso que a fraude fiscal
se justifica. Fraude fiscal é crime e
tem de ser combatida."
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