BRUNO SEGADILHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os supermercados Pão de Açúcar, Extra e CompreBem vão vender hoje frango Sadia tipo exportação por R$ 0,99 o quilo nas lojas das principais cidades do Estado de São Paulo. O valor representa uma queda real de 63% em relação ao praticado em 1994, quando o frango, símbolo do Plano Real, era vendido por R$1.
Com a promoção, que é válida somente para hoje, a empresa espera comercializar, num único dia, mais de 2 milhões de quilos do produto em todo o Estado de São Paulo.
"Realizamos a mesma ação no Rio de Janeiro na semana passada, e as vendas chegaram a quase 2 milhões de quilos. Por isso, nossa previsão é que em São Paulo elas ultrapassem essa marca. Colocamos esse preço em todas as 354 lojas do Estado. Pretendemos manter o preço até acabar o estoque, mesmo que sobre até o domingo", disse Wilson Barquilla, diretor comercial de carnes e aves do Grupo Pão de Açúcar.
Segundo Barquilla, a queda nos preços é um reflexo do impacto da gripe aviária nas exportações do produto. Barquilla acredita que, com a diminuição das exportações, a indústria tem dado preferência ao mercado interno para evitar maiores prejuízos. "Negociamos um navio inteiro que seguiria para a Europa e para a Ásia e teve o pedido cancelado. Achamos que a melhor maneira de contornar o fato seria vender o frango aqui no Brasil."
De acordo com nota divulgada pela empresa, até o último dia 20, as vendas de frango dentro do grupo cresceram 48% sobre o mesmo período do ano passado e os dois primeiros meses deste ano apresentaram alta tanto em carne bovina quanto em aves. No entanto, a baixa acentuada dos preços das aves levou a uma migração de consumo: as vendas de carnes mantêm os mesmos patamares, enquanto o faturamento com aves, puxado pelo frango, pode, até o final deste mês, apresentar aumento de mais de 50% sobre março do ano passado.
Para José Carlos Teixeira da Silva, consultor em avicultura da APA (Associação Paulista de Avicultura), a queda nas exportações e a conseqüente diminuição dos preços podem prejudicar produtores e consumidores, uma vez que "vulgariza" o produto no mercado nacional e dá uma falsa impressão em relação a preços.
"É ruim para todo mundo. Os consumidores ficam com um preço de mercado que é irreal e que não poderá ser praticado o ano todo. O produtor vê o seu produto cada vez mais desvalorizado, e a indústria não pode trabalhar com prejuízo. A longo prazo isso será repassado para o consumidor. O Brasil, que é o maior exportador de frangos do mundo, sente na pele essa retração."
Em relação ao cenário externo, Silva acredita que o consumidor europeu será o principal regulador das exportações brasileiras. "Quando o consumidor europeu perder o medo e retomar o consumo, as coisas deverão voltar ao normal", disse ele.
Não há indício de que a ingestão de carne de aves com o vírus da gripe aviária possa contaminar humanos quando bem cozidas. Não há registro do vírus no Brasil.


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