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Lojas aumentam número de prestações
Inflação sob controle, juros em queda e confiança no emprego esticam cada vez mais os prazos de financiamento
Com mais tempo para pagar, consumidor compromete menos renda e sobra salário para mais gasto; analista
vê risco de inadimplência
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Inflação sob controle, juros
em queda e mais confiança no
emprego levam lojas e financeiras a esticar cada vez mais os
prazos de financiamento de
bens para os consumidores.
O financiamento de um carro, que, tradicionalmente, chegava a até dois anos (24 meses)
nas concessionárias, pode levar
até seis anos (72 meses). O consumidor tem ainda a opção de
pagar uma geladeira ou um fogão em 24 meses, prazo que se
estendia a até 12 meses.
Com o alongamento dos prazos de financiamento de bens, o
consumidor compromete uma
parcela menor da renda e, com
isso, tem mais fôlego para gastar com outros produtos.
"Se a inflação ficar estável, os
juros, em queda, e os prazos de
financiamento, mais longos,
mais pessoas vão ter acesso a
bens, o que fará girar a roda da
economia", afirma José Arthur
Lemos de Assunção, vice-presidente da Acrefi, associação que
reúne as financeiras do país.
Os prazos de financiamento
concedidos hoje pelas lojas e financeiras para os consumidores são, segundo afirma Lemos
de Assunção, os mais longos já
constatados no país. "Um carro, por exemplo, geralmente
podia ser financiado em dois
anos, nunca ouvimos falar em
parcelamento de seis anos."
O Banco Votorantim fez uma
campanha que dá prazo de 72
meses para aquisição de um
veículo seminovo.
A campanha "Carro na Mão",
que tem como protagonista o
apresentador de TV Carlos Roberto Massa, o Ratinho, começou no último dia 21 e vai até o
dia 31 deste mês. Para carros
com dez anos ou mais de uso, a
entrada é de R$ 1.
O banco afirma, por meio de
sua assessoria, que o prazo de
financiamento de alguns produtos, com crédito consignado,
chega também a 72 meses, prazo que, em 2006, não passava
de 60 meses. Essa expansão se
"deve às condições de mercado", segundo informa o banco.
"Com a estabilidade econômica, as instituições financeiras têm mais interesse em dar
mais prazo de financiamento
para os consumidores, pois têm
uma idéia mais clara do custo
do dinheiro a médio prazo",
afirma Wanderley Vettore, diretor comercial do Banco Cacique, que administra o crediário
de cerca de 1.500 redes no país.
Vettore informa que o prazo
médio de financiamento do
banco há um ano era de dez meses. Hoje, é de 13 meses. O banco oferece prazo de pagamento
de até 36 meses para a aquisição de móveis, eletrodomésticos e material de construção.
A taxa de juros média cobrada pelo Cacique, segundo informa o banco, diminuiu em 0,5
ponto percentual de 2006 para
2007. Hoje, varia de 5% a 5,5%
ao mês. Há um ano, de 5,5% a
6% ao mês.
A menor taxa é destinada a
aposentados e pensionistas
-2,72% ao mês- e à modalidade do crédito consignado (descontado do salário ou da aposentadoria), que varia de 2,5% a
3% ao mês.
Neste ano, a financeira do
Bradesco também elevou os
prazos de financiamento de 12
para 15 meses para o crédito
pessoal e de 18 para 24 meses
para o crédito direto ao consumidor (CDC), no mesmo período, segundo informação da assessoria de imprensa da instituição. No crédito pessoal, as
taxas de juros variam de 6% a
8% ao mês, e, no CDC, de 2,5% a
6% ao mês.
Riscos
Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, os
prazos de financiamento devem se esticar enquanto as taxas de juros estiverem caindo.
"No curto prazo, o impacto disso é positivo, já que a parcela
compromete uma fatia menor
da renda do consumidor. Só
que o valor dessas prestações
está crescendo numa velocidade maior do que a da massa salarial, o que significa que está
subindo o endividamento das
famílias e, com isso, o potencial
de risco da inadimplência."
Em 2005, segundo Silveira, o
crédito para pessoa física correspondia a 6,4 vezes o valor da
massa salarial. Em 2006, passou a corresponder a 7,9 vezes.
"Isto é, está aumentando o
valor do crédito em relação ao
da massa salarial ou está havendo maior comprometimento da renda futura. A economia
brasileira, portanto, não pode
ter solavancos e o histórico do
país não é exatamente esse",
afirma o sócio-diretor da RC
Consultores.
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