São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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Lojas aumentam número de prestações

Inflação sob controle, juros em queda e confiança no emprego esticam cada vez mais os prazos de financiamento

Com mais tempo para pagar, consumidor compromete menos renda e sobra salário para mais gasto; analista vê risco de inadimplência

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Inflação sob controle, juros em queda e mais confiança no emprego levam lojas e financeiras a esticar cada vez mais os prazos de financiamento de bens para os consumidores.
O financiamento de um carro, que, tradicionalmente, chegava a até dois anos (24 meses) nas concessionárias, pode levar até seis anos (72 meses). O consumidor tem ainda a opção de pagar uma geladeira ou um fogão em 24 meses, prazo que se estendia a até 12 meses.
Com o alongamento dos prazos de financiamento de bens, o consumidor compromete uma parcela menor da renda e, com isso, tem mais fôlego para gastar com outros produtos.
"Se a inflação ficar estável, os juros, em queda, e os prazos de financiamento, mais longos, mais pessoas vão ter acesso a bens, o que fará girar a roda da economia", afirma José Arthur Lemos de Assunção, vice-presidente da Acrefi, associação que reúne as financeiras do país.
Os prazos de financiamento concedidos hoje pelas lojas e financeiras para os consumidores são, segundo afirma Lemos de Assunção, os mais longos já constatados no país. "Um carro, por exemplo, geralmente podia ser financiado em dois anos, nunca ouvimos falar em parcelamento de seis anos."
O Banco Votorantim fez uma campanha que dá prazo de 72 meses para aquisição de um veículo seminovo.
A campanha "Carro na Mão", que tem como protagonista o apresentador de TV Carlos Roberto Massa, o Ratinho, começou no último dia 21 e vai até o dia 31 deste mês. Para carros com dez anos ou mais de uso, a entrada é de R$ 1.
O banco afirma, por meio de sua assessoria, que o prazo de financiamento de alguns produtos, com crédito consignado, chega também a 72 meses, prazo que, em 2006, não passava de 60 meses. Essa expansão se "deve às condições de mercado", segundo informa o banco.
"Com a estabilidade econômica, as instituições financeiras têm mais interesse em dar mais prazo de financiamento para os consumidores, pois têm uma idéia mais clara do custo do dinheiro a médio prazo", afirma Wanderley Vettore, diretor comercial do Banco Cacique, que administra o crediário de cerca de 1.500 redes no país.
Vettore informa que o prazo médio de financiamento do banco há um ano era de dez meses. Hoje, é de 13 meses. O banco oferece prazo de pagamento de até 36 meses para a aquisição de móveis, eletrodomésticos e material de construção.
A taxa de juros média cobrada pelo Cacique, segundo informa o banco, diminuiu em 0,5 ponto percentual de 2006 para 2007. Hoje, varia de 5% a 5,5% ao mês. Há um ano, de 5,5% a 6% ao mês.
A menor taxa é destinada a aposentados e pensionistas -2,72% ao mês- e à modalidade do crédito consignado (descontado do salário ou da aposentadoria), que varia de 2,5% a 3% ao mês.
Neste ano, a financeira do Bradesco também elevou os prazos de financiamento de 12 para 15 meses para o crédito pessoal e de 18 para 24 meses para o crédito direto ao consumidor (CDC), no mesmo período, segundo informação da assessoria de imprensa da instituição. No crédito pessoal, as taxas de juros variam de 6% a 8% ao mês, e, no CDC, de 2,5% a 6% ao mês.

Riscos
Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, os prazos de financiamento devem se esticar enquanto as taxas de juros estiverem caindo. "No curto prazo, o impacto disso é positivo, já que a parcela compromete uma fatia menor da renda do consumidor. Só que o valor dessas prestações está crescendo numa velocidade maior do que a da massa salarial, o que significa que está subindo o endividamento das famílias e, com isso, o potencial de risco da inadimplência."
Em 2005, segundo Silveira, o crédito para pessoa física correspondia a 6,4 vezes o valor da massa salarial. Em 2006, passou a corresponder a 7,9 vezes.
"Isto é, está aumentando o valor do crédito em relação ao da massa salarial ou está havendo maior comprometimento da renda futura. A economia brasileira, portanto, não pode ter solavancos e o histórico do país não é exatamente esse", afirma o sócio-diretor da RC Consultores.


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