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Déficit explode com remessas e importados
País tem no primeiro bimestre do ano o maior déficit desde 1947 nas suas transações com o exterior, de US$ 6,3 bi
BC vê déficit de US$ 12 bi no ano, contra US$ 3,5 bi há 3 meses; montadoras e bancos turbinam envio de lucros e importação cresce
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Principal canal de contágio
da economia brasileira diante
de turbulências internacionais
e importante ponto de apoio
para o controle da inflação nos
últimos anos, as contas externas brasileiras já dão sinais de
enfraquecimento.
A previsão para 2008 do Banco Central do déficit nas transações do país com o mundo
mais do que triplicou. Em vez
dos US$ 3,5 bilhões estimados
há três meses, o déficit agora
deve ficar em US$ 12 bilhões,
ou cerca de 1% das riquezas
produzidas no país (PIB), após
cinco anos de superávits.
No mercado financeiro, espera-se até o dobro: déficit de
2% do PIB. As principais causas
são o forte crescimento das importações, que reduz o saldo
comercial, e o aumento das remessas de lucros e dividendos.
As estatísticas do BC mostram que, ao contrário do que
afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a crise internacional originada nos EUA já
está trazendo prejuízos indiretos ao país. A deterioração das
contas externas tem um peso
ainda maior porque se dá num
momento delicado da inflação.
O BC contou, nos últimos
anos, com as importações para
controlar os preços. Havia uma
situação confortável nas contas
externas, as exportações estavam com toda força e compensavam a procura por produtos
importados estimulada pelo
real valorizado. Os importados
mais baratos ajudavam a neutralizar eventuais pressões por
reajustes, dizem analistas.
Mas agora o espaço para acomodar importações cada vez
maiores sem preocupação com
o saldo final das contas externas diminui. "O espaço para
apreciações maiores do câmbio
estreitou. O setor externo não
conseguirá segurar sozinho
pressões inflacionarias", avalia
o economista Caio Megale, da
MauáInvest.
Com isso, avalia, a demanda
precisa ser reduzida ou a inflação deverá subir. O governo já
dá sinais de preocupação com o
crescimento do consumo, mas
quer evitar um aumento dos juros que trave a economia como
aconteceu após o forte crescimento de 2004.
O Brasil cresceu 5,4% em
2007. Neste início de ano, os
dados disponíveis apontam um
nível de atividade ainda mais
acelerado. Com isso, as empresas aqui instaladas, sobretudo
da área automotiva e financeira, elevaram o lucro enviado
para suas matrizes. Os dois setores estão entre os mais punidos com a crise financeira e o
quadro de recessão nos EUA.
No primeiro bimestre do
ano, as remessas de lucros e dividendos para o exterior somaram US$ 4,317 bilhões, o dobro
dos US$ 2,191 bilhões do mesmo período do ano passado.
Em março, até ontem, já alcançavam mais US$ 2,540 bilhões.
O setor de veículos respondeu
por cerca de 28% das remessas,
e o financeiro, por 15,6%.
O BC calcula que, ao longo de
2008, essas remessas chegarão
a US$ 24 bilhões, US$ 4 bilhões
a mais que a projeção anterior.
Já as importações cresceram,
no bimestre, 54% em comparação com o mesmo período de
2007 e somaram US$ 24,251 bilhões. Enquanto isso, o aumento das vendas externas foi de
24% no bimestre, somando
US$ 26,077 bilhões.
Em 2008, o BC projeta aumento de US$ 10 bilhões nas
exportações em relação ao dado estimado anteriormente (de
US$ 172 bilhões para US$ 182
bilhões) e de US$ 13 bilhões nas
importações (de US$ 142 bilhões projetados antes para
US$ 155 bilhões).
Com esse desempenho, o saldo das transações correntes
-que contabiliza o saldo comercial e de receitas e despesas
com serviços, rendas e transferência unilaterais- chegará a
um déficit de US$ 12 bilhões no
final do ano, projeta o BC.
No primeiro bimestre, ele já
foi de US$ 6,322 bilhões, o pior
desempenho desde o início da
série, em 1947.
Somente em fevereiro, o déficit nas contas externas foi de
US$ 2,09 bilhões, também um
recorde histórico para o mês. O
BC esperava um resultado negativo de US$ 1,7 bilhão. Segundo o chefe Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o
forte aumento das importações
vai ser diluído ao longo do ano e
o ritmo atual não se sustentará.
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