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Lula reclama, e Mantega nega medidas
Presidente enquadrou ministro e pediu que concedesse entrevista para descartar ações a fim de conter expansão do crédito
Mantega disse que
na semana passada
havia apenas exposto
preocupação com ritmo
sustentado de crescimento
Jamil Bittar/Reuters
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Guido Mantega (Fazenda) durante entrevista em que negou medidas para conter o crédito
KENNEDY ALENCAR
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião ontem de manhã
no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
enquadrou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, determinando que desse entrevista
mais tarde para negar a adoção
de medidas para conter a expansão do crédito. Mantega seguiu o roteiro traçado por Lula.
"O objetivo não é pisar no
freio [do crédito]", disse à Folha um auxiliar direto do presidente. Segundo esse auxiliar,
Mantega não discutiu nenhuma medida concreta ontem
com Lula.
"Não há nenhuma medida
em curso", afirmou Mantega,
após a reprimenda presidencial. "Não estamos pensando
em estabelecer limites de prazo
para o financiamento. Apenas
expus uma preocupação de que
os prazos muito longos poderiam ser evitados. Mas é uma
preocupação minha."
Na sexta-feira passada, a coluna de Merval Pereira, do jornal "O Globo", publicou que o
ministro da Fazenda estudava a
adoção de medidas para conter
o avanço do crédito no país.
Uma dessas ações seria restringir para 36 meses (três anos) o
prazo de financiamento dos automóveis. Essa prazo, hoje,
chega a sete anos.
Na sexta-feira, a equipe de
Mantega confirmou que as medidas estavam em estudo. Mas,
ontem, o ministro da Fazenda
afirmou que estava apenas falando de sua preocupação com
o ritmo sustentado do crescimento econômico.
Na reunião com Lula, o ministro da Fazenda disse que havia expressado a jornalistas
apenas uma preocupação em
buscar medidas que ajudassem
a frear o consumo para tentar
evitar que o BC (Banco Central) eleve os juros. O BC sinalizou recentemente que poderá
aumentar a taxa básica de juros
(Selic), hoje em 11,25% ao ano,
para combater eventual alta da
inflação.
Autonomia
Mantega evitou comentar a
futura decisão do BC sobre os
juros. Disse apenas que a autoridade monetária tem autonomia, mas afirmou que não existe risco de descontrole da inflação. "Não há um processo inflacionário preocupante no Brasil.
O Brasil hoje tem uma inflação
controlada", disse.
Num cenário de agravamento de uma crise externa (recessão nos Estados Unidos), o
mercado interno poderá minimizar efeitos negativos, avalia
Lula. Nesse contexto, frear o
crédito não faria sentido do
ponto de vista do presidente.
Desde o primeiro mandato, o
petista tem estimulado a expansão do crédito, sobretudo
para as classes de menor poder
aquisitivo, numa espécie de política de contraponto ao rigor
monetário do BC.
Na visão de Lula, não faz sentido, política e economicamente, adotar medidas hostis a esse
público agora. Em conversa reservada, o presidente chegou a
levantar dúvida sobre a eficiência delas para evitar eventual
alta dos juros. O crédito tem
crescido mais de 25% ao ano no
Brasil. A intenção de Lula é que
ele continue a crescer.
Esforço fiscal
No primeiro mandato, Lula
tomou atitudes para tentar impedir a alta dos juros e não conseguiu. Em 2004, por exemplo,
elevou oficialmente o esforço
fiscal para dar argumento ao
BC para não subir a Selic. Não
teve sucesso.
Mantega confirmou, porém,
que chamou os banqueiros para uma reunião amanhã, para
saber se o crescimento do crédito não implicaria riscos para
a saúde do sistema financeiro
nacional. O ministro perguntará se não há falta de garantias
nos financiamentos de pessoas
físicas.
"Se o setor financeiro me disser que tem segurança nesses
créditos, que tem capital suficiente para bancar, então ficarei mais seguro. O setor financeiro brasileiro é muito prudente, tanto que não está envolvido nesta crise internacional", disse o ministro.
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