|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Por que ainda estamos longe do sucesso
MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"
MINHA PREOCUPAÇÃO cresce cada vez
mais. Jamais esperei
muito de europeus
ou japoneses. Mas esperava
que os EUA, sob um presidente
novo e popular, agissem de maneira mais decidida. Em lugar
disso, o Congresso está cedendo a um frenesi de populismo, e
o governo se limita a esperar
que tudo termine bem.
Emergiu nos EUA uma hostilidade explosiva ao setor financeiro. O Congresso debate taxar os bônus de executivos. E o
procurador-geral de Nova York
quer que sejam revelados os
nomes. Isso equivale a um convite ao linchamento.
Se aprovadas, essas ideias levariam a um êxodo de pessoal
qualificado dos bancos, destruiriam a confiança em acordos com o governo e ameaçariam o Estado de Direito. Que
ideias assim sejam debatidas
abertamente é um sinal claro
das dimensões da raiva.
O mesmo cenário está envolvido no programa anunciado anteontem. Por ele, o governo fornece virtualmente todo o financiamento e arca com quase
todo o risco, mas utiliza o setor
privado para formar os preços
dos ativos. Em troca, os investidores privados obtêm recompensas -talvez generosas-
com base no desempenho.
Interpreto essa ideia como "esquema de alívio a fundos abutre". Mas vai funcionar? Depende do significado de "funcionar". Não se trata de um mecanismo real de mercado, porque o governo subsidia os riscos. Os preços podem não ser
baixos o bastante para atrair
compradores ou altos para satisfazer vendedores.
Mas o esquema pode melhorar
a situação lastimável das carteiras de operações dos bancos. Isso certamente não pode ser
mau, pode? Na verdade pode,
caso sirva como obstáculo a soluções mais fundamentais, porque ninguém -e especialmente não o Tesouro- acredita que
esse esquema porá fim à subcapitalização crônica do setor.
Por que esse esquema pode ser
um obstáculo à recapitalização
necessária? Primeiro, o Congresso pode decidir que ele torna a recapitalização menos importante; segundo, e mais importante, é provável que o plano torne a recapitalização pelo
governo ainda menos popular.
Se o esquema funcionar, alguns
fundos terão retornos extraordinários. Temo que isso sirva
para convencer muitos americanos de que o governo é uma
quadrilha que opera a favor de
Wall Street. Agora imaginem o
que pode acontecer caso, após a
conclusão dos "testes de estresse" dos grandes bancos, o governo decida -surpresa! surpresa!- que é preciso oferecer
mais capital. Como convencer
o Congresso a desembolsar os
recursos necessários?
A provisão de dinheiro público
aos bancos é inaceitável para o
público, e o controle pelo governo dos bancos é inaceitável
para os banqueiros, que continuam influentes. Parecemos
estar vivendo um impasse. A
única saída é que a maior transparência propiciada pelos novos fundos venha a permitir
que os grandes bancos levantem capital privado. Caso isso
seja realizado na escala requerida -e estamos falando de até
trilhões de dólares-, o novo
plano seria um imenso sucesso.
Será que os investidores estarão dispostos a fornecer as vastas somas requeridas por instituições com um histórico claro
de gestão inepta? A confiança,
quando destruída, nunca retorna rapidamente.
A conclusão, logo, é deprimente. Ninguém pode confiar em
que os EUA já tenham solução
confiável para o desastre bancário. Pelo contrário: com o público furioso, um Congresso em
pé de guerra, um presidente tímido e um plano que depende
de injetar dinheiro público em
instituições subcapitalizadas,
os EUA vivem um impasse.
Cabe a Obama encontrar uma
saída. Quando se reunir com
seus 19 colegas chefes de governo na semana que vem, não poderá alegar já tê-lo feito. E, se
isso não basta para assustar,
não sei o que bastaria.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: A congressistas, Tesouro e Fed pedem mais poder de intervenção Próximo Texto: FMI muda empréstimos para facilitar o combate à crise Índice
|