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FMI muda empréstimos para facilitar o combate à crise
Países com bons fundamentos podem tomar créditos sem seguir cartilha do Fundo
"A ideia de que o país pode sacar um volume elevado, sem monitoramento, é mudança significativa", diz Paulo Nogueira Batista Jr.
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Na principal reforma em sua
política de empréstimos em
anos, o FMI (Fundo Monetário
Internacional) anunciou mudanças que podem facilitar a liberação de empréstimos em
meio à crise global para países
com bons fundamentos, como
o Brasil e outros emergentes.
Entre as mudanças, estão a
criação de uma nova linha de
crédito facilitado, a eliminação
de instrumentos pouco usados
e a flexibilização de mecanismos tradicionais como os acordos "stand-by".
A novidade, batizada de Linha de Crédito Flexível (FCL,
na sigla em inglês), não tem limite de empréstimo, conta
com prazo maior para pagamento e é destinada a países
que, na avaliação do Fundo, tiverem "fundamentos muito
fortes e registro de implementação de políticas", segundo o
texto que anuncia a mudança.
Seu alvo são principalmente
economias desenvolvidas ou
emergentes que possam estar
passando por dificuldades por
conta de queda na exportação,
fuga de capital estrangeiro ou
baixa no preço de commodities,
como Coreia do Sul e Brasil
-embora Brasília negue que
precise de dinheiro do Fundo
(leia texto ao lado).
As reformas "representam
mudança importante no modo
como o Fundo pode ajudar seus
países-membros, o que é particularmente necessário em
tempos de crise", disse o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. "A flexibilidade maior nos empréstimos
aliada a condições simplificadas nos ajudarão a responder
de forma eficaz às necessidades
diversas de nossos membros."
A FCL substitui e simplifica
modalidade similar que havia
sido aprovada em outubro, ao
eliminar o acesso antes limitado a 500% da quota do país e
passar a duração de nove meses
para cinco anos. Extingue a necessidade de o país se submeter
ao receituário do Fundo para
ter acesso ao empréstimo, um
dos principais entraves apontados pelos governos e um dos estigmas do dinheiro do FMI.
Além disso, seu uso não é
obrigatório, o que a torna uma
espécie de limite de cheque especial. Sua divulgação chega no
momento em que países do
mundo inteiro começam a ser
atingidos com mais força pela
crise global e a bater na porta
do FMI, encabeçados pelos países da periferia da Europa.
"A ideia de que o país pode
sacar um volume elevado, sem
monitoramento, sem carta de
intenção, sem critério de desempenho, é uma mudança
muito significativa nas práticas
do Fundo", disse Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo
que representa um grupo de
nove países, entre eles o Brasil.
"Não tem precedentes no Fundo nem em nenhuma discussão
que havia nessa área."
Além disso, houve a flexibilidade dos acordos "stand-by"
tradicionais. Acabam, por
exemplo, os critérios de performances estruturais, que eram
as metas vinculadas ao desembolso do dinheiro. Acaba também o limite para os chamados
"stand-by" preventivos, quando o país pede empréstimo sem
a intenção de usar o dinheiro.
No mesmo comunicado de
ontem, o FMI reafirma a necessidade de aumento de suas reservas para lidar com os desafios da crise atual. O Japão
anunciou que dará US$ 100 bilhões ao Fundo, o que elevou o
total de recursos destinados à
crise para US$ 350 bilhões, e a
União Europeia se comprometeu com mais US$ 75 bilhões.
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