São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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Bancos elevam pessimismo e já esperam a maior inadimplência em nove anos

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
DEISE OLIVEIRA
DA FOLHA ONLINE

Os bancos brasileiros já trabalham com a perspectiva de que os pagamentos em atraso cheguem a 5,4% de toda a carteira de crédito até o final de 2009, segundo pesquisa da Febraban. Se a previsão se confirmar, será a maior inadimplência desde setembro de 2000, anterior ao estouro da bolha da internet, quando os atrasos acima de 90 dias atingiram 5,7% do total do crédito.
Segundo Rubens Sardenberg, economista da Febraban, o aumento da inadimplência sucede a retração da atividade econômica, o aumento do desemprego e a queda na renda.
A Febraban, no entanto, afirma que a possível disparada da inadimplência não deverá elevar ainda mais os "spreads", a diferença entre taxa de captação e a repassada ao consumidor. Isso porque os bancos já se adiantaram elevando a "gordura" nas taxas para cobrir o aumento de eventuais perdas.
"O movimento observado nos "spreads" segue o que era esperado para a inadimplência. Houve uma antecipação desse cenário. O que vai determinar agora será o desempenho da economia e da demanda por crédito. Como não deve ter aumento da taxa de aplicação, a tendência é de estabilidade ou mesmo recuo do "spread". Não vejo novos ajustes, a menos que a situação se agrave muito."

Pessimismo
Responsáveis por provisões de quase R$ 65 bilhões para devedores duvidosos até dezembro, segundo a consultoria Austin Ratings, os bancos preveem que o crédito cresça 14,2% em 2009 e some um total de R$ 1,4 trilhão -em janeiro, a expectativa era de expansão de 16,2%. Com inadimplência de 5,4%, as provisões atuais de R$ 65 bilhões não serão suficientes para cobrir eventuais perdas que podem chegar a R$ 75 bilhões.
Desde a pesquisa de janeiro, aumentou o pessimismo dos bancos em relação à economia. A previsão é que o PIB cresça só 0,3% em 2009 -em janeiro, ainda era de 1,9%. A produção industrial deverá recuar 1,7% -antes, era 1,3%. A única previsão considerada positiva é quanto à taxa Selic, que deverá terminar o ano em 9,25% -em janeiro, era de 10,75%.
"A pesquisa aponta na direção da desaceleração da atividade econômica, com projeções menores para PIB, inflação sob controle e espaço para novas quedas na Selic".
Para 50% dos bancos, haverá uma piora no quadro econômico. Já 42,9% acreditam que a situação ficará igual até o final do ano, enquanto só 7,1% percebem alguma melhora.
Na pesquisa, 59,3% disseram esperar uma retomada do crescimento só em 2010, enquanto 33,3% veem possibilidade de recuperação ainda em 2009 e 7,4% só a partir de 2011.
Entre os bancos, 42,3% afirmaram concordar com a proposta de estatização do sistema bancário americano como única solução para crise -19,2% disseram discordar e os 38,5% restantes disseram não concordar nem discordar da proposta.


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