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Ação da Telebrás cai 44% em um mês
Cotação sofre queda após notícia sobre envolvimento de Dirceu e restrições à reativação da estatal no plano oficial de banda larga
Pressionado, governo revê utilização da Telebrás no programa e reduz de 3.200 para 300 o número de cidades a serem cobertas
MARCIO AITH
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mês após a revelação de
que o ex-ministro José Dirceu
recebeu R$ 620 mil de uma empresa diretamente interessada
na eventual reativação da Telebrás, o governo encolheu o alcance do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), e o valor
das ações da estatal caiu 44%,
quase à metade.
Originalmente, o plano cobriria 3.200 cidades até o final
do governo Lula. A nova versão
reduziu-se a um simples projeto piloto com 300 municípios
que, mesmo assim, seria implantado apenas no próximo
governo, não mais em 2010.
Em fevereiro, a Folha mostrou que rumores e vazamentos sobre a reativação da Telebrás, que seria gestora do plano, haviam levado as ações da
estatal a um ganho de 35.000%
desde 2003 (até o dia 8 do mês
passado), valorização recorde
investigada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Uma reportagem seguinte
revelou que o ex-ministro José
Dirceu, um dos réus no esquema do mensalão, recebeu R$
620 mil da Star Overseas Ventures, do empresário Nelson
dos Santos, dono da Eletronet,
empresa que detém os 16 mil
quilômetros de fibras óticas
que comporiam a espinha dorsal do plano.
Desde o dia 23, quando a segunda reportagem foi publicada, até ontem, esses papéis caíram de R$ 0,00254 para R$
0,00142. Um investidor que tivesse R$ 100 em ações da Telebrás em 22 de fevereiro teria
hoje apenas R$ 56.
A desconfiança aprofundou-se ontem, quando a Folha revelou que o Tesouro Nacional
elaborou uma nota técnica
condenando a reativação da estatal para ser gestora do PNBL.
Segundo a nota do Tesouro, a
Telebrás já está exposta a várias ações judiciais e haveria
risco de contaminação de ativos usados no plano.
A posição do Tesouro é contraria à opinião do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Nós vamos recuperar a Telebrás. Nós vamos utilizá-la para fazer banda larga neste
país"" disse Lula, no último dia
19 de fevereiro, durante um
evento em Minas Gerais.
Na ocasião, quando a consultoria prestada por Dirceu não
havia ainda sido revelada, Lula
explicou da seguinte maneira a
valorização extraordinária das
ações da Telebrás desde o início do governo: "Primeiro, se
cresceu 35.000%, para mim é
novidade. Agora, que ela vai
crescer, vai".
O objetivo inicial do Planalto
era reativar a Telebrás, uma
empresa sem patrimônio depois da venda de seus ativos
durante a privatização do setor, colocando-a para gerir a rede de 16 mil quilômetros de fibras óticas da Eletronet.
Hoje sob falência, a Eletronet é uma empresa que tem como sócios o próprio governo,
por meio da Lightpar, com 49%
de participação, e a Contem
Canada, companhia da qual o
empresário Nelson dos Santos,
ex-cliente de Dirceu, é dono.
Santos, sócio do governo na
Eletronet, contratou Dirceu
entre março de 2007 e outubro
de 2009 por um total de R$ 620
mil no período. Segundo Dirceu, a natureza da consultoria
prestada foi a "visão de negócios na América Latina". Ambos negam que o serviço tenha
sido para fazer lobby.
A rede de fibras óticas da
Eletronet está sendo disputada
na Justiça pelo governo e pelos
credores da empresa.
O governo alega que já detém
a posse dessa infraestrutura
por ter depositado uma garantia de R$ 270 milhões. Os credores, por sua vez, dizem que
esse valor mal cobre o buraco
de R$ 800 milhões de dívidas
da empresa e que o governo
não pode se apropriar da rede
para competir com a própria
Eletronet na transmissão de
dados pela internet.
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