São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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IMÓVEIS
Banco aceitou R$ 24 milhões em debêntures em 95, quando empresa já vivia crise
Caso Encol estremece relações no BB

FERNANDO GODINHO
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília

Em junho de 95, quando a construtora Encol já devia R$ 100 milhões ao Banco do Brasil, a diretoria do banco aceitou R$ 24 milhões em debêntures -títulos privados- da empresa para ampliar garantias de débitos anteriores.
Com a falência da Encol, decretada pela Justiça de Goiás no último dia 16, as debêntures adquiridas pelo Banco do Brasil perderam todo o valor.
O diretor de Créditos do BB, Edson Soares Ferreira, disse ontem à Folha que o banco "não gastou um centavo" na operação e que ela foi feita para "reforçar as garantias" concedidas anteriormente pela Encol.
Segundo documento do BB obtido pela Folha, as debêntures foram aceitas para compensar a "difícil situação financeira da empresa para saldar seus empréstimos" tomados anteriormente no banco.
Em julho de 95, a diretoria do banco limitou o crédito da Encol em R$ 90 milhões. Entre outubro e novembro do mesmo ano, a diretoria do BB renegociou R$ 119,7 milhões em débitos da construtora.

Dívida de R$ 200 mi
As operações do BB com a Encol, cuja dívida com a instituição está calculada em cerca de R$ 200 milhões, estão provocando uma crise na cúpula da instituição.
Hoje, acontece uma reunião extraordinária do conselho de administração do banco para discutir a situação. A reunião foi convocada por Pedro Parente, secretário-executivo do Ministério da Fazenda e presidente do conselho.
Em junho de 95, a Encol estava sendo investigada pelo Ministério Público por sonegação de impostos e emissão de notas fiscais frias. Soares disse que a direção do banco desconhecia a investigação quando concordou em receber as debêntures da construtora.

Cúpula do BB
A crise na cúpula do Banco do Brasil se agravou no mês passado, depois que o conselho fiscal aprovou um voto contrário à auditoria feita pelo BB nas operações da Encol realizadas com a agência SIA, de Brasília.
A auditoria, concluída em dezembro do ano passado, sugeriu a demissão de Jair Bilachi (ex-gerente da agência e ex-presidente da Previ, fundo de pensão dos funcionários) e de seis auxiliares seus.
Mas o conselheiro fiscal do BB Carlos Alberto de Araújo produziu um relatório contestando diversos pontos da auditoria, o que provocou o voto contrário do conselho.
A Folha apurou que um dos motivos da reunião de hoje convocada por Pedro Parente é o parecer contrário do conselho fiscal em relação ao trabalho da auditoria.
Bilachi foi gerente da agência SIA entre novembro de 93 e fevereiro de 95. Após deixar o cargo, foi promovido para superintendente do BB no DF.
Ele foi demitido da presidência da Previ no ano passado por envolvimento no escândalo do grampo telefônico no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Atualmente, Bilachi está na Unidade de Desenvolvimento Empresarial, ligada à presidência do Banco do Brasil.


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