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FINANÇAS
Isenção do Imposto de Renda a investidor externo eleva sua participação nas aquisições totais, que antes era de 5%
Estrangeiro compra 20% dos títulos públicos
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A procura de estrangeiros por
títulos públicos brasileiros cresceu após a concessão de isenção
do pagamento de Imposto de
Renda a investidores externos.
Entre fevereiro e março, o volume
de títulos adquiridos por estrangeiros nos leilões primários do
Tesouro Nacional somou R$ 8,5
bilhões, ou 20% do total dos papéis emitidos no período.
Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, antes da publicação
da medida provisória 281, em 15
de fevereiro, que concedeu a isenção do pagamento de 15% de IR
sobre os rendimentos, a proporção dos estrangeiros entre os
compradores de títulos públicos
era de 5%.
Com 20% dos títulos adquiridos
por estrangeiros, o Brasil se aproxima do perfil do México, país
que nunca tributou esses investidores, segundo o economista-chefe para América Latina do
Lehman Brothers, John Welsh.
"No México, 25% da carteira é
adquirida por estrangeiros. O resultado do Brasil nas últimas semanas é muito expressivo e uma
tendência que já vinha se observando mesmo antes do fim da tributação", afirmou Welsh, por telefone.
Para ele, a procura por papéis
brasileiros com prazos mais longos aumentou por causa da expectativa do mercado de que a taxa Selic será reduzida e, com isso,
espera-se que haja uma valorização, no futuro, dos papéis que remuneram pelo índice de preços.
De acordo com Roni Tavares, do
Tesouro, é exatamente essa a estratégia do órgão.
Ao divulgar os dados sobre a
compra de títulos públicos pelos
estrangeiros em março, o Tesouro
Nacional informou que a dívida
mobiliária do governo federal, ou
seja, o total de títulos públicos em
circulação no país, chegou a
R$ 1,021 trilhão no período.
Por causa da curta volatilidade
nos mercados no mês passado,
conseqüência da queda do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho e da expectativa de aumento da taxa de juros dos EUA,
o Tesouro cancelou o último leilão de títulos previsto para o fim
do mês. A menor oferta de papéis
elevou os resgates, que somaram
R$ 21,9 bilhões, superando em R$
3,1 bilhões as emissões de títulos
(R$ 18,8 bilhões). Mesmo assim, o
estoque da dívida cresceu 1,1%
com relação a fevereiro.
Isso ocorre por causa da incidência de juros sobre os papéis
em circulação. Nota divulgada
ontem pelo Tesouro mostra que
45,64% dos títulos públicos negociados no país são corrigidos pela
taxa Selic, hoje em 15,75% ao ano.
O governo quer reduzir a proporção de papéis corrigidos pela Selic
e pelo câmbio, que atualmente
corresponde a apenas 2,33%.
Na semana passada, o secretário
do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, anunciou a intenção de zerar, embora sem previsão de prazo, todos os títulos que acompanham a variação diária da Selic, os
papéis pós-fixados chamados de
LFT (Letras Financeiras do Tesouro).
O objetivo do governo é melhorar o perfil da dívida e acabar com
o impacto que os juros fixados
mensalmente pelo Banco Central
têm sobre o endividamento do
governo federal. Em março, 44%
das emissões foram títulos com
remuneração prefixada, e 56%,
pós-fixada.
Segundo Roni Tavares, coordenador de operação da dívida pública, o aumento da demanda de
investidores estrangeiros por títulos públicos brasileiros ajuda a
alongar o prazo dos títulos.
Pelos dados divulgados, 57%
dos títulos adquiridos por investidores estrangeiros em fevereiro e
março tinham prazo de resgate
acima de dez anos.
Bolsa de Valores
Antes dos investidores em títulos, a isenção do IR já valia para os
estrangeiros que aplicavam na
Bolsa de Valores. No caso da nova
isenção, para títulos públicos, a
Receita Federal informou que o
benefício alcança apenas residentes ou domiciliados no exterior.
Bancos ou fundos brasileiros ou
mistos, ainda que tenham endereço fora, não são considerados residentes no exterior.
O fato de um brasileiro ter conta
no exterior não o qualifica como
investidor estrangeiro. Segundo a
Receita, cabe ao representante legal que opera o investimento se
certificar de que se trata de um estrangeiro, sob pena de responder
por sonegação.
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