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TECNOLOGIA
Além de empreendedores nacionais, presidente deve conversar acerca do tema com donos de rádio e televisão
Lula ouvirá empresários sobre TV digital
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva quer ouvir empresários brasileiros antes de tomar decisão sobre a escolha do padrão de TV digital. De acordo com o ministro
Hélio Costa (Comunicações), os
radiodifusores (donos de emissoras de rádio e TV) também serão
ouvidos novamente.
Na quinta-feira da semana passada, Costa dissera à Folha que "o
tempo de discutir terminou" e
que só falta agora o presidente Lula anunciar a decisão.
"Ele [Lula], estrategicamente,
está abrindo todas as possibilidades de conversar sobre transferência de tecnologia para o Brasil.
Eu acho até muito inteligente nesse sentido. Ao mesmo tempo, nós
completamos uma etapa no Japão. Estamos satisfeitos com o
que aconteceu no Japão, com as
propostas que fizemos e os acordos que firmamos. Se estrategicamente ele [Lula] quer abrir ou
continuar conversações, acho que
é perfeitamente natural", disse.
As declarações do ministro na
semana passada eram mais incisivas: ""O Ministério das Comunicações cumpriu seu papel e, a menos que o presidente Lula determine a reabertura das negociações, não temos mais o que discutir com os europeus. O tempo de
discutir terminou".
No último dia 13, ministros brasileiros estiveram no Japão e assinaram um memorando de entendimento com o governo japonês.
De acordo com o texto do memorando, o Brasil tem "forte desejo"
de adotar o padrão japonês
(ISDB) de TV digital. Os japoneses, por sua vez, comprometeram-se a apoiar empresas que desejem estudar a possibilidade de
instalar uma fábrica de semicondutores no país.
Na edição de 8 de março, a Folha publicou que o governo brasileiro já se decidiu pelo padrão japonês. O padrão é o preferido pelas emissoras de televisão, e o governo considera importante ter o
apoio político das redes em ano
eleitoral. Além disso, os japoneses
se propõem a estudar a possibilidade da instalação de uma fábrica
de semicondutores no Brasil.
Quatro dia depois da visita ao
Japão, em 17 de abril, a União Européia enviou carta à ministra da
Casa Civil, Dilma Rousseff convidando a comitiva de ministros
que esteve no país asiático a visitar também a Europa. O convite
foi feito pelo embaixador da
União Européia, João Pacheco.
Ainda não houve resposta.
Segundo Costa, uma lista de
empresas nacionais "que estão
mais à frente no processo de
transferência de tecnologia" está
sendo elaborada por ele e pelo ministro Sérgio Rezende (Ciência e
Tecnologia). Ele citou como
exemplo as empresas Gradiente e
Linear (com sede em Santa Rita
do Sapucaí, Minas Gerais).
"O que o presidente está querendo é ver o pulso das empresas
brasileiras. Qual a disposição delas", afirmou Costa. De acordo
com o ministro, a viagem do presidente Lula à Europa em maio
não está relacionada à escolha do
padrão de TV digital.
"Se vai esperar ou se não vai [a
viagem à Europa], é o presidente
que vai decidir. Ele desautorizou,
pelo menos na minha frente,
qualquer insinuação de que ele
estaria indo à Europa para fazer
negociações de TV digital", disse
o ministro. Lula vai à Europa em
maio para participar da Cúpula
Europa-América do Sul.
Padrão japonês
Hélio Costa sempre se declarou
favorável à escolha da tecnologia
japonesa, chamada ISDB, que é
defendida pelos radiodifusores.
Depois da visita ao Japão, há uma
semana, ele afirma estar ainda
mais convencido da escolha.
"Continuo insistindo em que o
sistema europeu não atende às
necessidades definidas pelo Brasil. A televisão digital terá de ser
aberta e gratuita, além de oferecer
portabilidade e mobilidade", disse Hélio Costa. Portabilidade é a
transmissão para aparelhos portáteis, como televisores instalados
em trens e ônibus, e mobilidade é
a recepção da programação de TV
por celulares. As televisões querem que ambas sejam gratuitas.
Os radiodifusores defendem o
padrão japonês porque ele permite a transmissão de TV para telefones celulares sem passar pela rede das companhias telefônicas. O
ISDB permite que a programação
aberta seja recebida pelos celulares com a instalação de um chip.
O sistema europeu é defendido
pelas companhias telefônicas, que
querem transmitir sinais de vídeo
como um serviço adicional a ser
cobrado do usuário.
Por trás da discussão sobre a escolha do padrão de televisão digital está uma disputa de mercado
entre os radiodifusores e as empresas de telefonia. A Rede Globo
tem dito que a tecnologia a ser escolhida tem de propiciar a alta definição e transmissão aberta e gratuita para que a radiodifusão sobreviva no cenário de concorrência com a companhias telefônicas,
empresas de internet e TVs pagas.
Já as indústrias européias sustentam que a escolha do padrão
japonês deixaria o Brasil fora da
tendência de convergência tecnológica das mídias para preservar o
monopólio da radiodifusão.
Hélio Costa disse estar cansado
de discutir com os fabricantes europeus e afirmou, em tom de ironia, que eles insistem em vender
ao Brasil uma tecnologia que nem
os europeus estão comprando.
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