São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Governo usa leilão contra alta do arroz

Para setor, preço dispara pela decisão de Argentina e Uruguai de vender excedentes a outros países, que pagam mais

Vendas semanais dos estoques públicos começam com 55 mil toneladas no dia 5; ministro nega barrar exportações privadas agora

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O preço do arroz vem subindo no mercado brasileiro como reflexo direto da crise mundial de alimentos, principalmente pela decisão das indústrias da Argentina e do Uruguai -tradicionais fornecedoras do Brasil- de vender para outros países, que pagam mais.
O diagnóstico foi feito ontem por representantes do setor após reunião com técnicos do Ministério da Agricultura. Para evitar maior especulação nos preços brasileiros, o governo decidiu fazer leilões públicos semanais de arroz, começando com 55 mil toneladas no dia 5.
"O arroz do Mercosul não está mais vindo para cá", afirmou Francisco Shardong, presidente da Comissão de Arroz da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Em 2007, o Brasil importou cerca de 800 mil toneladas de arroz da Argentina e do Uruguai, média de 66 mil toneladas mensais. Neste ano, até agora, foram importadas 55 mil.
Perdas de safra causadas pelo clima levaram grandes produtores da Ásia a suspender as exportações do cereal.
O resultado é a "falta" de 3 milhões de toneladas do produto no mundo. Essa "falta" é a diferença entre a produção e o consumo, que deve ser suprida por estoques de outras safras.
Anteontem, o governo anunciou que proibiu as exportações de arroz dos estoques públicos. A exportação privada permanece liberada, mas pode ser restrita, se houver necessidade.
Os agricultores não aceitam barreiras à exportação. "Os produtores subsidiaram o consumo de arroz por quatro anos, com preço abaixo dos custos de produção. Quando temos chance de ganhar um pouquinho mais no mercado externo, o governo vem tirar o pirulito da nossa boca", disse Shardong.
Para Marco Aurélio Marques Tavares, vice-presidente da Federação de Arroz do Rio Grande do Sul, se o varejo, a distribuição, a indústria e os produtores se entenderem, há possibilidade de o saco de arroz de cinco quilos custar R$ 8.
Ontem, o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) negou intervenção no mercado agora. "Se houver um risco muito forte de abastecimento, teremos que adotar algumas medidas. Até lá, vamos ver o que será."
O Brasil teria capacidade de exportar 1,5 milhão de toneladas, de acordo com Stephanes.
O governo monitora o mercado por dados de distribuidores de arroz. Há ainda preocupação com o milho e o trigo.


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