|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Restrição pode enfraquecer o Brasil em Doha
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
A decisão do governo de
restringir a exportação de arroz pegou de surpresa e desagradou aos negociadores do
Brasil na OMC (Organização
Mundial do Comércio). O temor é que a medida enfraqueça a posição brasileira
nas negociações da Rodada
Doha, aumentando a resistência à abertura de mercados aos produtos agrícolas,
que é a principal bandeira
comercial do Itamaraty.
A disparada nos preços dos
alimentos levou vários países produtores, sobretudo na
Ásia, a restringir as exportações, despertando preocupação na OMC. Um deles reconheceu na semana passada
que as restrições alcançaram
"níveis sem precedentes".
Os importadores já ameaçam contra-atacar. O primeiro disparo partiu do Japão,
maior importador de alimentos do mundo, que pretende pedir, na próxima semana, que a OMC adote normas contra as barreiras ao
suprimento de grãos como
trigo, arroz e milho. "O Japão
quer regras equilibradas para exportadores e importadores de alimentos", disse
Hiroaki Kojima, vice-diretor
do Ministério da Agricultura.
Esse é exatamente o argumento que os negociadores
brasileiros se preparam para
rebater nas negociações sobre agricultura, que prosseguirão na próxima semana. O
impacto dos altos preços de
alimentos já havia sido levantado em reuniões anteriores, quando países exportadores foram criticados por pedir cortes nas tarifas de
importação ao mesmo tempo em que impõem barreiras
à venda de seus produtos.
Um diplomata brasileiro
contou que os japoneses
lembram até hoje o embargo
à exportação de soja imposto
pelos Estados Unidos, em
1973, para justificar seu protecionismo. Na época, com o
mundo vivendo uma onda de
altos preços de alimentos semelhante à atual, os Estados
Unidos bloquearam as exportações de soja por cinco
dias para assegurar o abastecimento interno de ração aos
produtores de carne.
A preocupação agora é
que, ao impor limites à venda
de produtos ao exterior, o
Ministério da Agricultura
abale a credibilidade do Brasil nas negociações da OMC
como fornecedor de alimentos e também sua imagem de
defensor da abertura dos
mercados.
As regras da organização
permitem que países em desenvolvimento adotem a medida, o que exclui a possibilidade de que ela seja contestada no tribunal da OMC.
Resta aos países importadores tentar incluir regras
nas atuais negociações agrícolas. A expectativa é que o
Japão proponha uma norma
que obrigue os países a avisar
com antecedência a adoção
de restrições à exportação.
O Brasil junta-se a grupo
de dez membros: China, Argentina, Rússia, Ucrânia, Cazaquistão, Vietnã, Camboja,
Indonésia, Índia e Egito.
Texto Anterior: Governo usa leilão contra alta do arroz Próximo Texto: Aumento no preço de alimentos: FMI pede fim de controle à exportação Índice
|