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Petrobras teme perder mercado para o álcool
Estatal vive dilema entre reajuste da gasolina e avanço crescente do biocombustível no país
Especialistas estimam que defasagem do preço da gasolina esteja perto de 20%; por outro lado, consumo
já perde para o do álcool
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Pressionada pela alta do petróleo, a Petrobras está diante
de um dilema. É que o preço da
gasolina está defasado em relação ao do mercado externo e há
a necessidade de um reajuste,
mas, ao mesmo tempo, a companhia teme aumentar o preço
do produto e perder ainda mais
mercado para o álcool.
Paralelamente à questão empresarial, a estatal também
considera o peso político de um
reajuste sobre a inflação -que,
neste ano, ameaça estourar o
centro da meta do governo por
causa do repique de preços dos
alimentos. Segundo a Folha
apurou, a estatal cogita, de fato,
corrigir o preço da gasolina,
mas não tomou ainda a decisão
em razão do receio de perder
ainda mais terreno para o álcool e porque ainda avalia o impacto sobre o IPCA.
Mais barato, o álcool já é
mais vendido do que o derivado
de petróleo e a expectativa é
que um aumento intensifique
ainda mais a tendência de expansão do biocombustível.
Para a Petrobras, é mais vantajoso vender gasolina do que
álcool em seus postos. É que a
estatal controla toda a cadeia
do petróleo -a extração, o refino e a distribuição- e absorve
margens de lucro em todos os
seus elos. Já no caso do álcool,
compra o produto da usina e
revende -em alguns casos, até
com margem negativa, pois há
muita concorrência com os
postos de bandeira branca.
Segundo dados da ANP
(Agência Nacional do Petróleo), foi vendido 1,432 bilhão de
litros de álcool no 1º bimestre,
acima do consumo de gasolina
-1,411 bilhão de litros. Ao final
do ano passado, o derivado de
petróleo mantinha uma dianteira de 100 milhões de litros.
A redução do preço do álcool
neste ano foi decisiva para o
maior consumo do produto. No
primeiro bimestre, as vendas
do álcool cresceram 56%. As de
gasolina subiram apenas 2,9%.
Pelos dados da ANP, o preço da
gasolina estava, em média, a R$
2,624, mais do que os R$ 2,245
cobrados pelo álcool.
Por outro lado, cresce a diferença entre os preços da gasolina no Brasil e as cotações do
produto no exterior, o que deve
fazer a estatal reajustar a gasolina neste semestre, segundo
agentes do setor. Especialistas
estimam que a defasagem beira
20%, o que reduz muito a margem de manobra da estatal.
"Se a diferença se mantivesse
em 10%, certamente a Petrobras iria segurar o reajuste,
mas com essa defasagem fica
mais difícil", diz Nelson Matos,
analista do Banco do Brasil.
Rocha diz, porém, que a concorrência com o álcool é um
complicador. "O carro flex revolucionou o mercado de combustíveis no Brasil. Ninguém
esperava uma evolução tão rápida do consumo de álcool."
Inflação
Controlada pela União, a Petrobras tem de conciliar interesses empresariais e o peso de
uma alta na inflação, segundo
Helder Queiróz, professor do
Grupo de Economia da Energia
da UFRJ. "Do ponto de vista
técnico, está mais do que na hora de anunciar um reajuste. A
defasagem é muito grande."
Queiróz diz que a estatal segura um reajuste também por
causa dos efeitos na inflação -o
peso da gasolina no IPCA é alto,
de quase 5% do índice. O próprio Banco Central já prevê um
reajuste, segundo a última ata
do Copom. Desde 2005, o combustível não é reajustado.
Ele critica ainda a falta de
uma regra "clara" e "previsível"
para reajustes. Defende o alinhamento dos preços ao mercado internacional, mas como
uma fórmula preestabelecida
de correção. "Poderia ser trimestral ou semestral", afirma.
Sem um mecanismo de reajuste, a estatal controla ainda
mais o setor, pois, como tem
99% da capacidade de refino do
país, impede a concorrência
com importações, pois pode
mudar seus preços a qualquer
tempo, o que inviabiliza a competição, já que o importador fica sem um referência de preço.
Barril
O preço do barril de petróleo
caiu ontem 1,89% em Nova
York, fechando a US$ 116,06.
Em Londres, teve queda de
1,82%, para US$ 114,34.
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