São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Eletrobrás vê riscos com mudança em Itaipu

Compradora de energia excedente do Paraguai, estatal afirma que reajuste criaria "grave problema"

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O presidente da Eletrobrás, José Antônio Muniz Lopes, disse ontem que os acionistas da empresa não podem ser prejudicados por um eventual aumento no preço da energia da usina binacional de Itaipu. Cerca de 30% do capital da estatal está nas mãos de investidores privados, que compram e vendem ações em Bolsas.
"Os acionistas minoritários não podem ser prejudicados. Isso criaria um grave problema para a Eletrobrás e para a imagem de todo o país. A Eletrobrás tem ações negociadas nas Bolsas de Valores de Nova York e de Madri", afirmou Lopes.
Desde a eleição de Fernando Lugo para a Presidência do Paraguai, no último domingo, o debate sobre o tema "esquentou" dentro do governo brasileiro. Pelo tratado de Itaipu, Brasil e Paraguai têm direito, cada um, a 50% da energia produzida na usina. A Eletrobrás paga US$ 45,31 por MWh pela energia que o Paraguai não usa e vende ao Brasil. Lugo quer reajustar esse valor -alegando que está abaixo dos preços praticados no mercado.
O diretor da Eletrobrás, Valter Cardeal, diz que os valores pagos pelo Brasil são "justos": "Sob o ponto de vista de custos, está perfeito. A tarifa atual, que está sendo praticada pelos consumidores brasileiros, que pagam mais de 90% desses custos, está absolutamente correta".
Em entrevista após almoço no Clube dos Engenheiros do Rio de Janeiro, Lopes e Cardeal deixaram claro que eventual decisão de rever as tarifas é assunto estritamente governamental. "Isso não é um assunto da alçada da Eletrobrás. É questão de Estado", afirmou Lopes.

Alencar
Ao comentar ontem as reivindicações do Paraguai em relação a Itaipu, o vice-presidente José Alencar disse que o Brasil tem sido "generoso" com os vizinhos da América do Sul e que faz isso não por subserviência, mas por "coração" e por ter uma situação econômica melhor. Mas, segundo o vice-presidente, a "solidariedade" brasileira "tem um limite".
Alencar disse que essa situação será posta na mesa de negociações entre Brasil e Paraguai. "O Brasil tem sido generoso com todos os países. Essa generosidade faz parte de tudo aquilo que o Brasil pode fazer, até com o seu coração. O Brasil não está fazendo isso subservientemente. O Brasil está fazendo todo esse apoio ao Paraguai, à Bolívia [aumento do preço pago pelo gás], a todos os países aqui da América do Sul tendo em vista as condições do Brasil em relação às condições deles", disse o vice-presidente.
"Então, há um espírito de solidariedade. Obviamente, isso tem um limite, e isso vai ser posto por ocasião dessas negociações", afirmou Alencar.
Segundo Alencar, o Brasil foi o país que "fez tudo". "Foi o Brasil que colocou os recursos que deveriam ser colocados pelo Paraguai. Então a empresa nasceu com a ajuda do Brasil ao Paraguai, nasceu com a ajuda tecnológica do Brasil, com o know-how do Brasil em matéria de hidrelétricas", disse.


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