São Paulo, sábado, 25 de abril de 2009

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Profissionais qualificados demoram para encontrar vaga depois de demissão

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No início da década de 90, com a abertura de capital de grandes empresas brasileiras após a privatização e a permissão para que investidores estrangeiros operassem na Bolsa, o recém-formado Erik Peccei Szaniecki decidiu largar a medicina e estudar finanças.
Hoje, com 42 anos, 12 deles no mercado financeiro, procura outro emprego. Ele deixou o banco em que trabalhava no final do ano passado, no ápice da crise internacional.
Para Szaniecki, após o baque na Bovespa, que bateu em 29 mil pontos em outubro, o mercado começa a dar sinais de recuperação. "Em novembro, quando deixei o banco, o mercado estava complicado para mim e para todo mundo. Era final de ano, época em que ninguém contrata, e estávamos em plena crise. Agora está melhor, e já estou quase "fechando" um emprego", afirma o ex-diretor, que era responsável pela gestão de risco dos fundos de investimento de um dos maiores bancos do país.
Os sinais de melhora, no entanto, não começaram a aparecer em outras profissões. O engenheiro mecânico Paulo Rogério Perez Silva, 47, mandou currículo para 270 empresas desde janeiro, quando foi demitido da Embraer.
Com MBA na ESPM, especialização em termo-hidráulica na USP/Ipem e várias disciplinas cursadas no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Silva pensa em deixar o país para continuar na sua área. "No Brasil, não tem quase nada para a indústria de aviação. Estou procurando emprego no mundo inteiro."
Mesmo com o esforço, até agora seus e-mails só receberam respostas automáticas, com a informação de que o currículo foi adicionado ao banco de dados da empresa. Só uma organização suíça respondeu com atenção, ressaltando as qualidades do profissional e dizendo que, neste momento, não é possível contratar.
"Está muito difícil. Já fiquei desempregado antes, mas agora dá para sentir que a crise está bem pior."

Bons profissionais
Apesar de o IBGE ter apontado que o desemprego cresceu entre os trabalhadores com mais anos de estudo em março, a tendência, segundo Sócrates Melo, especialista em recrutamento da consultoria Robert Half, é que os profissionais com menor qualificação sofram mais com as demissões em massa. Ele lembra, no entanto, que os superqualificados perderam oportunidades de emprego e também os altos salários que conquistaram.
Melo afirma que a crise recolocou no mercado profissionais superespecializados, alguns dos quais bastante disputados antes da retração da economia. "Há empresas que demitiram dois funcionários que ganhavam R$ 12 mil e contrataram um que ganha menos para fazer o trabalho dos dois."
Ao buscar uma nova vaga no mercado de trabalho, esses profissionais especializados devem estar preparados para acumular funções e atuar de forma abrangente, diz o especialista. Segundo ele, mesmo executivos que exerciam a função de diretores antes da crise agora encontram trabalhos com remuneração mais baixa e acúmulo de tarefas.
Para o consultor, a tendência é que os profissionais qualificados sejam reabsorvidos. "Esses profissionais muito bons devem se recolocar à medida que o mercado se reaqueça. Talvez não com os mesmos salários que ganhavam, mas eles devem ser reaproveitados. As vagas já começaram a reaparecer", afirma Melo.


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