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Profissionais qualificados demoram para encontrar vaga depois de demissão
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No início da década de 90,
com a abertura de capital de
grandes empresas brasileiras
após a privatização e a permissão para que investidores estrangeiros operassem na Bolsa, o recém-formado Erik Peccei Szaniecki decidiu largar a
medicina e estudar finanças.
Hoje, com 42 anos, 12 deles
no mercado financeiro, procura outro emprego. Ele deixou o
banco em que trabalhava no final do ano passado, no ápice da
crise internacional.
Para Szaniecki, após o baque
na Bovespa, que bateu em 29
mil pontos em outubro, o mercado começa a dar sinais de recuperação. "Em novembro,
quando deixei o banco, o mercado estava complicado para
mim e para todo mundo. Era
final de ano, época em que ninguém contrata, e estávamos
em plena crise. Agora está melhor, e já estou quase "fechando" um emprego", afirma o
ex-diretor, que era responsável pela gestão de risco dos
fundos de investimento de um
dos maiores bancos do país.
Os sinais de melhora, no entanto, não começaram a aparecer em outras profissões. O engenheiro mecânico Paulo Rogério Perez Silva, 47, mandou
currículo para 270 empresas
desde janeiro, quando foi demitido da Embraer.
Com MBA na ESPM, especialização em termo-hidráulica na USP/Ipem e várias disciplinas cursadas no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Silva pensa em deixar o
país para continuar na sua
área. "No Brasil, não tem quase nada para a indústria de
aviação. Estou procurando
emprego no mundo inteiro."
Mesmo com o esforço, até
agora seus e-mails só receberam respostas automáticas,
com a informação de que o
currículo foi adicionado ao
banco de dados da empresa. Só
uma organização suíça respondeu com atenção, ressaltando as qualidades do profissional e dizendo que, neste
momento, não é possível contratar.
"Está muito difícil. Já fiquei
desempregado antes, mas agora dá para sentir que a crise está bem pior."
Bons profissionais
Apesar de o IBGE ter apontado que o desemprego cresceu entre os trabalhadores
com mais anos de estudo em
março, a tendência, segundo
Sócrates Melo, especialista em
recrutamento da consultoria
Robert Half, é que os profissionais com menor qualificação
sofram mais com as demissões
em massa. Ele lembra, no entanto, que os superqualificados perderam oportunidades
de emprego e também os altos
salários que conquistaram.
Melo afirma que a crise recolocou no mercado profissionais superespecializados, alguns dos quais bastante disputados antes da retração da economia. "Há empresas que demitiram dois funcionários que
ganhavam R$ 12 mil e contrataram um que ganha menos
para fazer o trabalho dos dois."
Ao buscar uma nova vaga no
mercado de trabalho, esses
profissionais especializados
devem estar preparados para
acumular funções e atuar de
forma abrangente, diz o especialista. Segundo ele, mesmo
executivos que exerciam a
função de diretores antes da
crise agora encontram trabalhos com remuneração mais
baixa e acúmulo de tarefas.
Para o consultor, a tendência é que os profissionais qualificados sejam reabsorvidos.
"Esses profissionais muito
bons devem se recolocar à medida que o mercado se reaqueça. Talvez não com os mesmos
salários que ganhavam, mas
eles devem ser reaproveitados.
As vagas já começaram a reaparecer", afirma Melo.
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