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OPINIÃO ECONÔMICA
Próprias culpas
BENJAMIN STEINBRUCH
A revista britânica "The
Economist" publica semanalmente um quadro estatístico
com os principais indicadores da
economia dos 25 países em desenvolvimento, também chamados
de emergentes.
Os dados que aparecem na primeira coluna desse quadro deveriam deixar vermelhos de vergonha os brasileiros que tiveram recentemente ou têm hoje alguma
responsabilidade no comando da
economia do país. É a coluna do
Produto Interno Bruto. Dos 25
países, 23 ostentam o sinal mais
(+) antes do número que indica a
variação do PIB, mostrando que
o país está em crescimento. Os
únicos dois com sinal menos (-),
porque não estão em crescimento,
são Brasil e Israel. Se excluirmos
Israel da lista, por causa de suas
notórias dificuldades decorrentes
do conflito bélico no Oriente Médio, chegaremos à conclusão de
que o Brasil é o único país emergente que não apresenta expansão econômica.
Todos temos feito um grande esforço para controlar a ansiedade
que nos leva a brigar incessantemente por medidas voltadas ao
crescimento. Mas, convenhamos,
é vergonhoso que o Brasil continue na lanterna entre os países
emergentes nessa matéria, quando tem claramente todas as condições para crescer.
Passados mais de 500 dias da
administração Lula, não há mais
como culpar o governo anterior
pela ausência de crescimento. A
gestão atual precisa começar a assumir suas próprias culpas. É óbvio que Lula deseja sinceramente
a expansão da economia e a criação de empregos. Mas o Banco
Central tem cometido erros. Errou em janeiro, quando interrompeu a seqüência de reduções
da taxa de juros. O sinal negativo
que passou para o mercado mudou completamente o clima de
otimismo que pairava na economia depois do bom desempenho
do quarto trimestre de 2003. O BC
voltou a errar na semana passada, ao manter a Selic em 16%,
contra as expectativas do mercado. A redução de 0,25 ponto, esperada por todos, teria mudado
quase nada em matéria de custo
do dinheiro, mas seria sinalização importante para os brasileiros sedentos de crescimento. Com
a manutenção da taxa, que elevou o juro real para absurdos
12,5% ao ano, ficou a impressão
de que o BC, ao contrário do discurso oficial dos últimos dias, teme os efeitos da crise internacional na economia interna.
Dito isso, é preciso também observar que não se justifica o clima
de apocalipse das últimas semanas. A dureza imposta pela administração ortodoxa serviu para
alguma coisa. Os fundamentos da
economia brasileira estão hoje
muito melhores do que há dois
anos. Quem duvida disso pode
consultar a própria "The Economist".
O mesmo quadro que mostra o
Brasil na lanterna em matéria de
crescimento traz uma coluna com
os saldos da balança comercial
nos 25 países emergentes. O superávit brasileiro nos últimos 12 meses terminados em abril está em
US$ 27,4 bilhões. Entre os 25 países, só a Rússia ganha do Brasil,
por causa de sua extraordinária
exportação de petróleo. O Brasil
está em segundo lugar, praticamente empatado com a Indonésia, outro exportador de petróleo.
Nesse quesito, nem a poderosa
China, nem a Coréia do Sul, nem
Taiwan superam o Brasil.
Na linha que indica o saldo em
conta corrente externa, o Brasil
aparece com superávit de US$ 5,7
bilhões em 12 meses até março.
Não está entre os líderes, mas
apresenta um número muito favorável em comparação com os
de outros dez emergentes, que
têm déficit.
É elucidativo comparar os dados do Brasil com os do próprio
Brasil de dois anos atrás. Naquela
época, as reservas monetárias
brasileiras estavam em US$ 36,7
bilhões -hoje, estão em US$ 51,6
bilhões. A balança comercial tinha um superávit de apenas US$
4,7 bilhões, portanto quase US$
23 bilhões inferior ao de hoje. Há
dois anos, a conta corrente externa apresentava déficit de US$ 19,8
bilhões, numero que, comparado
com o superávit atual de US$ 5,7
bilhões, representa uma evolução
de US$ 25,7 bilhões.
A situação do país, portanto,
melhorou muito. Além dos indicadores externos, internamente
observa-se crescimento da produção industrial, das vendas do comércio e até dos empregos. A inflação está sob controle, as contas
do governo caminham bem, a arrecadação cresce e o superávit primário se mantém em torno de 5%
do PIB.
Não há por que exacerbar os
efeitos da crise internacional, que,
por ironia, advém de previsões de
forte crescimento nos EUA e na
China, tendência que, em última
análise, ajuda o Brasil. A alta do
petróleo também não representa
ameaça importante, porque 80%
do produto consumido é nacional
e a Petrobras tem equilíbrio em
sua balança comercial.
Os brasileiros que jogam a favor
do Brasil têm a obrigação de brigar por políticas de crescimento. É
desanimador ver o Banco Central, mês após mês, adotar comportamento olímpico de quem
não está nem aí para recessão, estagnação ou desemprego. Mas, ao
se iniciar a campanha eleitoral,
também não se podem admitir
oportunismos, que amplificam
crises em busca de benefícios políticos, na base do "quanto pior,
melhor".
Dos políticos, exige-se responsabilidade. Dos empresários, serenidade para não embarcar em
campanhas de histeria que possam inflamar o país em um ano
eleitoral. Do governo, coragem
para manter a rota da redução do
custo do dinheiro, oferecer financiamentos, impulsionar investimentos produtivos e, com isso,
criar empregos.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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