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Grandes empresas ficam cada vez maiores
Dez maiores companhias do país aumentaram sua participação em relação ao PIB de 6,3% para 20% de 1998 para cá
Nos últimos dez anos,
estatais perderam espaço
entre as maiores empresas,
ao ceder o lugar para os
produtores de commodities
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A tropa da elite empresarial
brasileira ganhou mais poder e
uma nova cara nos últimos dez
anos. Saíram de cena estatais e
ganharam porte produtores de
commodities (produtos primários como ferro e aço). Algumas
áreas se consolidaram com fusões e aquisições e outras empresas simplesmente desapareceram do mapa da Bovespa
(Bolsa de Valores de São Paulo), como mostra levantamento
da consultoria Economática.
A participação das 32 maiores empresas brasileiras de capital aberto em relação ao PIB
(Produto Interno Bruto) saltou
de 11,7% para 30%, entre 1998 e
2007. Se forem consideradas
apenas as dez maiores, o aumento da concentração em relação ao PIB foi ainda maior: os
percentuais passam de 6,3%
para 20% no período.
Os valores foram calculados
pela FGV (Fundação Getulio
Vargas), com base no faturamento anual das empresas listadas na Bovespa em dólares
atualizados comparado com o
PIB nacional, dolarizado e também atualizado.
"Essa concentração é natural
num mercado novo, no qual a
maioria das empresas são familiares e nascidas após a Segunda Guerra", diz William Eid Júnior, coordenador do Centro de
Estudos em Finanças da FGV.
"Com o passar do tempo, os setores tendem a se consolidar
para ganhar escala."
Segundo Eid, mudanças desse porte levam tempo em países de economia madura. No
Brasil, no entanto, elas não só
aconteceram fortemente num
curto intervalo de tempo como
tendem a continuar. Os motivos são variados.
"Para entender os últimos
dez anos, é necessário entender
os dez anos anteriores", afirma
José Carlos Grubisich, presidente da Braskem. A empresa
petroquímica é uma das que
não existiam em 1998. Foi criada há cinco anos, mas tem funcionários que comemoram 25
anos de empresa. Isso porque
ela atua numa área que passou
por um processo de consolidação e, que em 2007, ocupava a
sétima posição no ranking de
faturamento anual em dólares.
Neste ano, tende a galgar alguns postos, bem como o Grupo Ultra. As duas companhias e
a Petrobras incorporaram ativos da Ipiranga no ano passado.
Grubisich elenca os fatos da
década de 1990 que prepararam as mudanças mais recentes: abertura de mercado, privatizações, controle da inflação, Lei de Responsabilidade
Fiscal, reformas estruturais e
autonomia do Banco Central.
Tudo isso, logo após a promulgação da Constituição de 1988 e
da consolidação da democracia.
"É um conjunto de coisas que
mudou o Brasil", diz Grubisich.
"Não somos o mesmo país nem
as mesmas empresas de alguns
anos atrás."
Em dezembro de 1998, das 10
maiores empresas por valor de
mercado listadas na Bovespa, 5
eram estatais e 4 eram bancos,
sendo que dois deles públicos.
No dia 16, só restava a Petrobras como estatal entre as
maiores companhias por valor
de mercado. Ainda estão lá quatro bancos, mas só o BB é ligado
ao Estado. As restantes são empresas privadas: Vale, AmBev,
CSN, Gerdau e Usiminas.
Essa está longe de ser a única
alteração dos últimos anos. "O
perfil dos trabalhadores mudou com as empresas", afirma
Roberto Castello Branco, diretor de Relações com Investidores da Vale. "Os funcionários da
Vale estatal tinham mais idade,
qualificação menor e a percepção de que o emprego era para
toda a vida. Os estímulos mudaram e, hoje, empregamos mais
gente e os salários são maiores
exatamente porque as pessoas
são mais bem preparadas."
Saúde financeira
Outro exemplo de mudança
diz respeito à saúde financeira
das empresas. Ao ser criada, em
agosto de 2002, a Braskem, por
exemplo, precisava de sete
anos e meio de geração de caixa
para pagar seu endividamento.
As dívidas eram 70% em dólares e 80% venciam em um ano.
Segundo Grubisich, o prazo
médio de vencimento da dívida
hoje é de 12 anos e a relação dívida líquida/geração de caixa
caiu para 1,7 ano e, depois da
compra da Ipiranga e da Politeno, está em 2,5 anos. "A estabilização permitiu que as empresas se dedicassem à parte ofensiva da estratégia e gastassem
menos tempo com a parte defensiva, da proteção do patrimônio", diz o executivo.
Apesar de que já era a maior
empresa brasileira em 1998 e
continuar muito acima das outras em termos de receita, a Petrobras também se tornou mais
ofensiva de dez anos para cá,
graças à abertura de mercado.
"A mudança no regime de concessão fez com que a Petrobras
ganhasse concorrentes e buscasse competir com eles", diz
Almir Barbassa, diretor financeiro da Petrobras.
Além disso, a estatal elevou o
volume de ações disponíveis no
mercado e foi listada na Bolsa
de Nova York. Segundo Barbassa, a partir daí a divulgação das
ações da empresa tornou-se
mais freqüente e abrangente.
"Houve uma revolução silenciosa no Brasil nos últimos dez
anos que foi a evolução do mercado de capitais", afirma Grubisich. "O acesso a capital que não
é dívida e a profissionalização e
a governança aplicada a empresas familiares prepararam as
companhias brasileiras para a
inserção no processo global."
Foi exatamente essa a trajetória do Grupo Ultra, que ocupa
a sexta posição entre as maiores empresas de capital aberto.
Criada há 71 anos pela família
Igel, profissionalizou-se e abriu
o capital em 1999. "Sabe aquele
ditado que o olho do dono é que
engorda o boi?", brinca André
Covre, diretor financeiro do Ultra. "Pois temos 9.000 investidores cobrando a engorda."
Segundo ele, a pressão do
mercado trouxe vários benefícios, que vão desde a simplificação da estrutura acionária até a
disciplina com relação à alocação de recursos, à transparência e à busca por eficiência.
"Atrelar a remuneração variável dos executivos ao desempenho da empresa, por exemplo, não era prática comum dez
anos atrás", diz Covre. "Hoje é
uma realidade, como muitos
outros avanços em relação à
transparência e à governança."
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