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Indústria prevê queda recorde na exportação
Vendas de produtos manufaturados ao exterior devem recuar 35% neste ano, na maior queda desde 1980, aponta pesquisa
Retração da demanda global derrubou encomendas, mas especialistas também veem a baixa competitividade dos itens brasileiros como causa
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
As exportações brasileiras de
produtos manufaturados e semimanufaturados devem ter
uma queda de cerca de 35% em
2009 na comparação com o registrado em 2008, de acordo
com estimativa feita pela Fiesp
(Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo), a partir
de uma pesquisa com seus associados e obtida com exclusividade pela Folha. Dessa forma, as vendas externas desses
itens cairiam para perto de US$
78 bilhões, contra US$ 119,8 bilhões verificados em 2008.
Se confirmada essa projeção,
será a primeira diminuição
desde 1999, quando houve um
recuo de 5,8%, e a maior na série histórica do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, que teve
início em 1980.
"A principal explicação para
a baixa está no encolhimento
do mercado consumidor. Fortemente atingidos pela crise,
nossos principais parceiros comerciais -EUA, Europa e
América Latina- passaram a
comprar menos", explica Paulo
Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos
Econômicos da Fiesp.
O levantamento foi realizado
com as 78 maiores indústrias
exportadoras paulistas. Contabilizando os volumes já vendidos neste ano e os contratos fechados para entrega nos próximos meses, elas consideram
que, no intervalo de 12 meses
até setembro, a diminuição das
suas vendas ao exterior ficará
em 24,8%. Pela representatividade da amostra, as conclusões
podem ser estendidas para a
totalidade do setor manufatureiro do país.
"O ritmo de redução é maior
no caso dos industrializados do
que no das commodities, porque, afinal, o mundo continua
se alimentando", diz Francini.
A China, que se desacelerou,
mas continua mostrando fôlego, é uma grande importadora
de mercadorias agrícolas brasileiras, não de manufaturas.
Dificuldades
Não dá para controlar a demanda. Mas essa queda nas
vendas externas poderia ser
menor, caso a indústria brasileira tivesse sua capacidade exportadora mais aprimorada, dizem especialistas. "A crise deixou a nu todos os problemas",
afirma Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda.
O primeiro problema diz respeito à competitividade -bastante prejudicada, na avaliação
de Almeida, pela forte desvalorização do dólar, no período de
2004 a meados de 2008, que foi
de cerca de 45%. Isso encarece
o preço dos produtos brasileiros no exterior. "Nossas empresas perderam espaço, o que
não se recupera do dia para a
noite", comenta o consultor.
"O câmbio não é a única dificuldade, porém. O impacto negativo da depreciação da moeda poderia ser minimizado se
tivéssemos uma melhor infraestrutura de energia, ferrovias, rodovias e portos."
Como concorrentes mais
agressivos aparecem a China e
a Coreia do Sul. O foco desses
países está agora nos mercados
emergentes, onde ainda há apetite por bens de consumo e por
máquinas. Até internamente a
indústria brasileira está tendo
que enfrentá-los.
Outro obstáculo é a falta de
uma mentalidade de exportação genuína. "As empresas simplesmente buscam o mercado
externo quando o doméstico
vai mal, e vice-versa", lamenta
Nelson Ludovico, diretor da
consultoria em comércio internacional Licex. "Por esse motivo, possuímos apenas 20 mil
exportadoras em um universo
de 5 milhões de companhias.
Internacionalizar marcas e
produtos não pode ser fruto de
um interesse sazonal, pois se
trata de um processo que pede
investimentos de longo prazo."
Políticas e esforços
Não é consenso entre os especialistas que o ideal, para o
progresso de um país, é a ampliação da sua pauta de exportações. Há quem defenda que o
Brasil aposte mais na sua vocação agropecuária. "Diversificação e especialização têm as suas
vantagens. Prefiro a estratégia
da diversificação, porque a indústria possui maior poder de
empurrar a economia. Para cada US$ 1 exportado pelo setor,
são gerados mais empregos e
renda do que aquilo que US$ 1
de produtos básicos cria. E a
atividade da indústria não é artificial no país", frisa Almeida.
"Não que se deva privilegiar
um em detrimento do outro.
No entanto este é o exato momento de ter uma boa política
para os manufaturados, de forma que o país não perca o que já
conquistou. Assim, quando a
crise acabar, estará bem posicionado para voltar à corrida."
Na sua opinião, o governo federal precisa criar novos mecanismos de financiamento para
as companhias que exportam e
incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, além de ser mais agressivo
nas negociações comerciais.
Ludovico defende que os empresários redobrem os seus esforços para desbravar novas
fronteiras. "Têm de promover
os seus produtos, buscar parceiros internacionais. Quem
não parou consegue defender a
sua participação no mercado.
Mais do que nunca, é essencial
pensar globalmente."
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