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FOLHAINVEST
Juro menor reduz aposentadoria privada
Taxa Selic caiu mais de 9 pontos em quatro anos; simulação atual mostra que renda mensal perderá mais de 70% em relação a 2005
Com juro real de 12% em 2005, investir R$ 200 por mês em 30 anos daria uma renda de R$ 2.697; com a taxa pela metade, valor cai para R$ 603
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
A queda da taxa básica de juros traz impacto à vida de quem
tem plano de previdência privada. Em abril, a Selic caiu para
10,25% ao ano, o menor nível
da história.
O recuo da taxa nos últimos
quatro anos -em mais de nove
pontos percentuais- reduz a
expectativa de patrimônio acumulado nos planos ao fim de 30
anos em mais de 70%, caso a
Selic se mantenha nesse nível
nos próximos anos.
Como exemplo, um investidor de 30 anos que fez uma simulação de plano em 2005
considerando a taxa real de juros da época, de 12% (Selic menos inflação, na casa dos 7%), e
planejava investir R$ 200 por
mês, esperava acumular R$ 539
mil aos 60 anos, ou optar por
uma renda mensal de R$ 2.697.
A mesma simulação, repetida
hoje com a taxa real atual, na
casa de 6% ao ano (a inflação
projetada para 2009 é em torno
de 4,3%), descontados 3% de
taxa de administração, leva a
um patrimônio acumulado de
aproximadamente R$ 120 mil,
ou uma renda de R$ 603. A queda é da ordem de 77% em relação ao cenário anterior.
As duas simulações consideram taxas de juros constantes
ao longo de 30 anos.
"Quem simulou e fez um plano conservador nos tempos de
juros altos e não adaptar o investimento aos novos tempos
vai se decepcionar durante a
aposentadoria", diz o advogado
e especialista em previdência
João Marcelo Máximo, do escritório Demarest Advogados.
"Assim como nos fundos de
investimento, o tempo de rentabilidade alta em planos de
previdência privada menos arriscados ficou para trás", diz o
professor de finanças Hélio
França, do Ibmec-Rio.
A decisão do Banco Central
de cortar a Selic para 10,25% ao
ano significa que a taxa de retorno real (descontada a inflação) dos investimentos mais
conservadores -basicamente
títulos de renda fixa, menos arriscados- atingiu 6%, patamar
inédito na economia brasileira.
Cerca de 80% dos planos de
previdência são de perfil conservador. Ou seja, os recursos
são direcionados a títulos de
renda fixa emitidos pelo governo, cuja taxa de retorno acompanha a Selic, ou emitidos por
empresas e bancos, que dão
cerca de 1% acima da Selic.
No entanto, os planos de previdência cobram taxa de administração média de 3% ao ano.
No final das contas, o retorno
real dos planos de previdência
de renda fixa -a grande maioria do mercado- deve ficar entre 4% e 5%.
Embora as instituições de
previdência não prometam retorno mínimo nos planos
PGBL e VGBL, 6% era um mínimo de retorno anual que o setor considerava. É a rentabilidade por lei da poupança -o investimento mais conservador
nos tempos de juros altos.
Esse também era o menor
valor possível para quem quisesse simular sua aposentadoria em sites como os da Caixa
Econômica Federal e dos bancos Real e HSBC.
A situação é irreversível, segundo especialistas. "Pode ser
que, em algum ano, os juros subam para conter a inflação, mas
será pontual e pouco. Os fundamentos da economia brasileira
não mudam mais", diz França.
Até 2001, a previdência privada garantia retorno de 6% ao
ano, além da inflação. Hoje, só
22% dos recursos estão em planos assim. São clientes que estão fora do risco da queda da
Selic. A lei obrigou os bancos a
comprar títulos que garantissem esses pagamentos.
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