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LUÍS NASSIF
As razões da China
Diretor da Allicorp Trading Com. Exterior S.A.,
empresa terceirizadora de "trading" de grãos, Ozeias Oliveira
traz uma visão adicional à questão da crise da soja com a China.
Considera correta a coluna de
dias atrás, quando falava da
concentração das multinacionais no mercado de soja (mas
também de grãos, como o milho), combinada com fertilizantes. São quatro empresas multinacionais, duas das quais norte-americanas, uma belgo-argentina (a maior do setor no mundo)
e uma francesa. Mas há também
três ou quatro grandes empresas
brasileiras na área de esmagamento de soja, uma concentração que dificulta o comércio do
produto da ponta produtora para o consumo, uma vez que boa
parte da armazenagem é de propriedade dessas empresas, diz.
Porém considera equivocado
achar que possam manipular o
mercado. O preço da soja é cotado com base na Bolsa de Chicago (CBOT), provavelmente a
mais líquida do mundo, ao negociar aproximadamente 20 vezes a produção mundial durante um período de 12 meses.
O que ocorre com a China é
uma desorganização de mercado, explica ele. Há até pouco
tempo a maior parte da importação era estatizada -pela Cofco (China Cereal Oil & Food
Company). Hoje, a maior parte
das importações é feita por empresas particulares, das quais a
maior é sócia de uma das duas
grandes esmagadoras americanas que atuam no Brasil.
Além de o preço FOB ter baixado cerca de US$ 60 por tonelada (aproximadamente 20%),
também os fretes internacionais
baixaram cerca de 50%, pois estavam havia alguns meses muito acima dos fretes mais altos da
história. Com toda essa queda, o
preço de soja CIF China baixou
nos últimos 45 dias aproximadamente US$ 100 por tonelada.
Se os esmagadores chineses
honrarem seus contratos, quebrarão todos, exceto duas ou três
empresas de grande porte.
Na semana passada os chineses anunciaram a relação de 23
empresas que estão em sua lista
negra. Voltaram atrás porque
estavam arrumando uma encrenca infernal com os embarcadores, que não vendem CIF (preço no porto do comprador), mas
apenas FOB (preço no porto do
Brasil), sem especificação de destino, que fica a cargo do comprador, que vende o destino por
sua conta e risco. Se persistisse o
embargo, só se aceitariam vendas com pagamento à vista.
Parceria público-privada
Nos últimos anos consolidou-se uma prática virtuosa de parceria público-privada. Trata-se
de empresas privadas financiando consultorias para melhor gestão na área pública.
Esse modelo foi aprofundado
em Minas Gerais, quando um
grupo de grandes empresas decidiu bancar um projeto de melhoria gerencial conduzido pelo
secretário de Planejamento e
Gestão, Antonio Anastasia.
No primeiro ano de implantação, ao lado de outras medidas, o modelo permitiu ao Estado ganhos medidos de R$ 931
milhões. Agora, o modelo está
ameaçado porque o Sindifisco
"denunciou" o projeto por quebrar sigilo fiscal, ao solicitar dados de arrecadação. Ora, os dados são agregados, sem aparecer nomes de empresas. O único
sigilo que será quebrado é o do
desempenho de cada fiscal.
Seria uma pena que incompreensões dessa natureza matassem um padrão de parceria
que deveria se multiplicar.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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