São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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LUÍS NASSIF

As razões da China

Diretor da Allicorp Trading Com. Exterior S.A., empresa terceirizadora de "trading" de grãos, Ozeias Oliveira traz uma visão adicional à questão da crise da soja com a China.
Considera correta a coluna de dias atrás, quando falava da concentração das multinacionais no mercado de soja (mas também de grãos, como o milho), combinada com fertilizantes. São quatro empresas multinacionais, duas das quais norte-americanas, uma belgo-argentina (a maior do setor no mundo) e uma francesa. Mas há também três ou quatro grandes empresas brasileiras na área de esmagamento de soja, uma concentração que dificulta o comércio do produto da ponta produtora para o consumo, uma vez que boa parte da armazenagem é de propriedade dessas empresas, diz.
Porém considera equivocado achar que possam manipular o mercado. O preço da soja é cotado com base na Bolsa de Chicago (CBOT), provavelmente a mais líquida do mundo, ao negociar aproximadamente 20 vezes a produção mundial durante um período de 12 meses.
O que ocorre com a China é uma desorganização de mercado, explica ele. Há até pouco tempo a maior parte da importação era estatizada -pela Cofco (China Cereal Oil & Food Company). Hoje, a maior parte das importações é feita por empresas particulares, das quais a maior é sócia de uma das duas grandes esmagadoras americanas que atuam no Brasil.
Além de o preço FOB ter baixado cerca de US$ 60 por tonelada (aproximadamente 20%), também os fretes internacionais baixaram cerca de 50%, pois estavam havia alguns meses muito acima dos fretes mais altos da história. Com toda essa queda, o preço de soja CIF China baixou nos últimos 45 dias aproximadamente US$ 100 por tonelada. Se os esmagadores chineses honrarem seus contratos, quebrarão todos, exceto duas ou três empresas de grande porte.
Na semana passada os chineses anunciaram a relação de 23 empresas que estão em sua lista negra. Voltaram atrás porque estavam arrumando uma encrenca infernal com os embarcadores, que não vendem CIF (preço no porto do comprador), mas apenas FOB (preço no porto do Brasil), sem especificação de destino, que fica a cargo do comprador, que vende o destino por sua conta e risco. Se persistisse o embargo, só se aceitariam vendas com pagamento à vista.

Parceria público-privada
Nos últimos anos consolidou-se uma prática virtuosa de parceria público-privada. Trata-se de empresas privadas financiando consultorias para melhor gestão na área pública.
Esse modelo foi aprofundado em Minas Gerais, quando um grupo de grandes empresas decidiu bancar um projeto de melhoria gerencial conduzido pelo secretário de Planejamento e Gestão, Antonio Anastasia.
No primeiro ano de implantação, ao lado de outras medidas, o modelo permitiu ao Estado ganhos medidos de R$ 931 milhões. Agora, o modelo está ameaçado porque o Sindifisco "denunciou" o projeto por quebrar sigilo fiscal, ao solicitar dados de arrecadação. Ora, os dados são agregados, sem aparecer nomes de empresas. O único sigilo que será quebrado é o do desempenho de cada fiscal.
Seria uma pena que incompreensões dessa natureza matassem um padrão de parceria que deveria se multiplicar.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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