São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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VIAGEM A NY

Segundo presidente, condução atual da economia não "tem nada a ver" com a anterior, à qual faz críticas

Lula não vê similaridade com gestão FHC

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Nova York que a política econômica de seu governo "não tem nada a ver" com a do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Segundo Lula, haveria similaridade "se a inflação tivesse chegado a 40 [% ao ano]" e se as exportações "não estivessem crescendo". O presidente foi indagado, na breve entrevista coletiva que concedeu na ONU (Organização das Nações Unidas), por que não reconhecia que sua política econômica -saudada pelos investidores internacionais- vinha do governo anterior, que era do PSDB.
"Não tem nada a ver a nossa política com a política anterior. É só você pegar os gráficos, pegar a evolução, para você ver o que estava acontecendo no Brasil e o que está acontecendo", disse.
"Não tenho nenhum interesse em ficar dizendo que o que estamos fazendo é novidade ou não. Estamos fazendo apenas aquilo que tem que ser feito", afirmou.
"Eu peguei um país com uma perspectiva inflacionária de 40%, ela está em 5,2% -é uma diferença extraordinária. Eu peguei um país com um déficit enorme na balança comercial."
Lula declarou que, depois "de anos" de déficit, o país bate "recorde atrás de recorde" na balança comercial, que a taxa básica de juros atualmente praticada pelo Banco Central (16% ao ano) "é a menor dos últimos dez anos", que "tínhamos déficits de conta corrente sistematicamente" e que isso não mais ocorre e que a indústria voltou a crescer. "Não sei qual é a similaridade."
Mas Lula disse ainda que não está inventando nada. "Aliás, tomamos a decisão de dizer publicamente: Não queremos inventar. Queremos apenas usar os instrumentos da credibilidade e da seriedade."
Segundo ele, o país e os eleitores foram avisados do caminho que seria seguido na "Carta ao Povo Brasileiro", documento lançado pela sua candidatura à Presidência em junho de 2002 no qual afirmava seu compromisso com a estabilidade fiscal e monetária.
"Os resultados estamos colhendo agora. Gostaria que fosse sempre assim, que o Brasil sempre tivesse dado certo, mas não foi assim", disse Lula.
Procurado pela Folha, o presidente nacional do PSDB, José Serra (SP), informou por meio de sua assessoria que não comentaria as declarações de Lula por não conhecê-las em sua "integralidade". O secretário-geral do partido, Bismarck Maia (CE), também foi procurado, mas não respondeu até o fechamento desta edição.

Ricos e pobres
Mais cedo, durante discurso na reunião de empresários do Global Compact -iniciativa da ONU que reúne líderes empresariais na defesa de direitos humanos, de direitos trabalhistas e do meio ambiente-, o presidente criticou os países ricos.
Ele disse que esses países se comprometeram a destinar recursos para ajudar o desenvolvimento dos países mais pobres, mas que "lamentavelmente quase nada foi feito ainda". Lula chamou ainda os subsídios agrícolas praticados pelos ricos de "escandalosos".
"É importante que cada empresário possa chamar a atenção de seu governo para as graves distorções e injustiças que o protecionismo provoca", ele disse.
Para o presidente, a seguir no ritmo atual, as "metas do milênio" -que prevêem a erradicação da pobreza e o acesso universal ao ensino básico, por exemplo- só serão atingidas "em meados do século 22".
Apresentado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, como dono de uma história "inspiradora", Lula falou ainda aos empresários sobre os programas Fome Zero e Bolsa Família. "Houve um tempo em que eu acreditava que quem estava com fome ia fazer a revolução. Quem está com fome não faz a revolução, quem está com fome se subordina", disse.


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