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VIAGEM A NY
Segundo presidente, condução atual da economia não "tem nada a ver" com a anterior, à qual faz críticas
Lula não vê similaridade com gestão FHC
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem em Nova York
que a política econômica de seu
governo "não tem nada a ver"
com a do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Segundo Lula, haveria similaridade "se a inflação tivesse chegado a 40 [% ao ano]" e se as exportações "não estivessem crescendo". O presidente foi indagado, na
breve entrevista coletiva que concedeu na ONU (Organização das
Nações Unidas), por que não reconhecia que sua política econômica -saudada pelos investidores internacionais- vinha do governo anterior, que era do PSDB.
"Não tem nada a ver a nossa política com a política anterior. É só
você pegar os gráficos, pegar a
evolução, para você ver o que estava acontecendo no Brasil e o
que está acontecendo", disse.
"Não tenho nenhum interesse
em ficar dizendo que o que estamos fazendo é novidade ou não.
Estamos fazendo apenas aquilo
que tem que ser feito", afirmou.
"Eu peguei um país com uma
perspectiva inflacionária de 40%,
ela está em 5,2% -é uma diferença extraordinária. Eu peguei um
país com um déficit enorme na
balança comercial."
Lula declarou que, depois "de
anos" de déficit, o país bate "recorde atrás de recorde" na balança comercial, que a taxa básica de
juros atualmente praticada pelo
Banco Central (16% ao ano) "é a
menor dos últimos dez anos", que
"tínhamos déficits de conta corrente sistematicamente" e que isso não mais ocorre e que a indústria voltou a crescer. "Não sei qual
é a similaridade."
Mas Lula disse ainda que não
está inventando nada. "Aliás, tomamos a decisão de dizer publicamente: Não queremos inventar.
Queremos apenas usar os instrumentos da credibilidade e da seriedade."
Segundo ele, o país e os eleitores
foram avisados do caminho que
seria seguido na "Carta ao Povo
Brasileiro", documento lançado
pela sua candidatura à Presidência em junho de 2002 no qual afirmava seu compromisso com a estabilidade fiscal e monetária.
"Os resultados estamos colhendo agora. Gostaria que fosse sempre assim, que o Brasil sempre tivesse dado certo, mas não foi assim", disse Lula.
Procurado pela Folha, o presidente nacional do PSDB, José Serra (SP), informou por meio de sua
assessoria que não comentaria as
declarações de Lula por não conhecê-las em sua "integralidade".
O secretário-geral do partido, Bismarck Maia (CE), também foi
procurado, mas não respondeu
até o fechamento desta edição.
Ricos e pobres
Mais cedo, durante discurso na
reunião de empresários do Global
Compact -iniciativa da ONU
que reúne líderes empresariais na
defesa de direitos humanos, de direitos trabalhistas e do meio ambiente-, o presidente criticou os
países ricos.
Ele disse que esses países se
comprometeram a destinar recursos para ajudar o desenvolvimento dos países mais pobres,
mas que "lamentavelmente quase
nada foi feito ainda". Lula chamou ainda os subsídios agrícolas
praticados pelos ricos de "escandalosos".
"É importante que cada empresário possa chamar a atenção de
seu governo para as graves distorções e injustiças que o protecionismo provoca", ele disse.
Para o presidente, a seguir no
ritmo atual, as "metas do milênio" -que prevêem a erradicação da pobreza e o acesso universal ao ensino básico, por exemplo- só serão atingidas "em
meados do século 22".
Apresentado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, como
dono de uma história "inspiradora", Lula falou ainda aos empresários sobre os programas Fome Zero e Bolsa Família. "Houve um
tempo em que eu acreditava que
quem estava com fome ia fazer a
revolução. Quem está com fome
não faz a revolução, quem está
com fome se subordina", disse.
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