São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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JORGE GERDAU JOHANNPETER

Educação versus indignação


O país não cresce de forma significativa porque não tem uma população com educação de qualidade

APROXIMADAMENTE seis anos. Esse é o tempo médio de escolaridade dos brasileiros, o que demonstra a grande fragilidade do país na construção de um futuro com menores desigualdades sociais. Por isso, muitas empresas chegam a investir, por ano, até cem horas na capacitação de seus funcionários, o que significa mais de duas semanas inteiras. O retorno é concreto: pessoas com desempenho superior são mais produtivas, mais felizes e inovam em processos e produtos, o que se traduz em melhores resultados para as empresas. Mas, quando se trata de analisar a atuação cidadã da elite empresarial, política, acadêmica e sindical, os resultados ainda não são satisfatórios. Falta indignação por parte da elite. Ela tem a obrigação de construir um país melhor e mais organizado institucionalmente, com menos corrupção e mais capital social, possibilitando a construção da igualdade de oportunidades por meio da educação. Para isso, é preciso formar um forte capital social e reforçar a capacidade competitiva e inovadora do país. O capital social ajuda a manter a coesão social, o que resulta em uma sociedade mais aberta e democrática. Reflete o grau de confiança entre os atores da sociedade e sua capacidade de estabelecer relações de cooperação em torno de interesses comuns. As comunidades não se tornaram cívicas por serem ricas. A história mostra o oposto: enriqueceram por serem cívicas. A construção do capital social, da competitividade e da inovação em uma nação somente se efetiva quando fundamentada em processos de excelência na gestão pública e privada. Isso requer total sinergia entre liderança, metodologia e conhecimento, fundamentada na capacidade dos indivíduos. Na área da educação, empresas desenvolvem iniciativas diferenciadas em parceria com o poder público e organizações não-governamentais, mas com efetividade reduzida diante da grande necessidade nacional. O movimento Compromisso de Todos pela Educação busca exatamente mobilizar os esforços da sociedade, de forma sinérgica. O objetivo é que em 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil, todas as crianças e jovens tenham acesso garantido a uma educação básica de qualidade, que os prepare para os desafios do século 21. Mas esse é um caminho longo. Somente quando cada um dos setores da sociedade fizer a sua parte de forma integrada e sinérgica a educação deixará de ser pauta secundária. É preciso romper o formalismo burocrático na gestão da educação e desenvolver tecnologias de gerenciamento e contratos inteligentes com os professores. Por exemplo: ter mecanismos de valorização dos educadores, a fim de, como em qualquer outra atividade de sucesso, reconhecer os profissionais. Ao aceitar a situação atual, a sociedade reforça um ciclo vicioso, de pobreza e subdesenvolvimento. O país não cresce significativamente, entre outros fatores, porque não tem uma população com educação de qualidade. É preciso que a sociedade compartilhe cada vez mais as responsabilidades. Mais importante do que a doação de recursos é a transferência de tecnologias de gestão presentes nas empresas, que permitem fazer mais com menos, de forma mais eficiente, tornando as instituições auto-sustentáveis. Afinal, o futuro do Brasil está na produtividade de toda a sociedade -não basta que apenas as empresas sejam produtivas.


JORGE GERDAU JOHANNPETER , 69, é presidente do Grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
jorge.gerdau@gerdau.com.br


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