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Consumo de importados cresce até 63%
Apesar da alta das compras externas de bens duráveis, estimulada pelo dólar mais barato, nível ainda é inferior ao de 1998
Automóveis, bebidas,
brinquedos e vestuário
lideram a preferência dos
compradores, mas analistas
não vêem farra consumista
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o dólar barato há quase
um ano, o brasileiro está se deixando seduzir novamente pela
compra de importados. De roupas a carros. Mas o clima atual
das compras externas não é da
farra de consumismo que marcou a estréia do real.
Nos primeiros quatro meses
deste ano, a importação de
bens duráveis -liderada por
automóveis- cresceu 62,8%
em relação ao mesmo intervalo
do ano passado. Entre os bens
não-duráveis, com destaque
para brinquedos e alimentos, o
crescimento atinge 23%. O desempenho, entretanto, está
bem distante do ápice do ciclo
de importações de bens de consumo no Brasil.
Na euforia da implementação do Plano Real, entre os anos
de 1997 e 1998, a importação de
bens duráveis atingiu US$ 4 bilhões. No acumulado dos últimos 12 meses até maio, a cifra
está em US$ 2 bilhões. Já em
produtos não-duráveis, o total
em 12 meses até maio soma
US$ 5 bilhões. Em 1998, no pico
de importações, o total foi de
US$ 6 bilhões, segundo a Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
"Quando olhamos para o volume, os níveis atuais também
estão mais baixos. Em termos
de bens não-duráveis, eles estão 13% abaixo do nível de 1998.
No caso de bens duráveis, estão
43% abaixo do pico de 1998",
disse Fernando Ribeiro, economista da Funcex.
A conjuntura até favorece
certas indulgências, como a
compra de vinhos importados e
de alimentos mais sofisticados.
Mas nenhum dos analistas ouvidos pela Folha diz acreditar
que há alguma possibilidade de
o padrão de importação voltar
aos patamares de meados da
década de 1990.
"O dólar é um forte estímulo
para as compras de itens importados, mas essas compras
são pontuais e estão concentradas em mercadorias fortemente atreladas também ao aumento da renda doméstica, como confecções e bebidas. Não é
uma invasão de importados",
disse José Augusto de Castro,
da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
O empurrão para consumir
mais artigos importados também atinge eletrodomésticos,
especialmente televisores. No
primeiro quadrimestre, as
compras de eletrodomésticos
cresceram 75,9%, e as importações de aparelhos eletrônicos,
53,8%, ante os primeiros quatro meses do ano passado.
Esse recém-reconquistado
apreço por artigos importados
não é bem-visto por Roberto
Segatto, presidente da Abracex
(Associação Brasileira de Comércio Exterior). "Esse oba-oba nas importações de bens
duráveis tira mercado da empresa nacional e é, em muitos
casos, uma mera substituição
de importações. Precisamos é
de outro tipo de importação: de
máquinas e equipamentos para
modernização do parque industrial."
Garagem internacional
No primeiro quadrimestre
do ano, as importações de automóveis cresceram 78,5%. Apesar de a base de comparação ser
fraca, para Luiz Carlos Mello,
da Abeiva (Associação Brasileira de Empresas Importadoras
de Veículos Automotivos), a alta é importante. Mas ainda não
é hora de falar em recuperação
do setor. "Vamos crescer 10%
neste ano, mas não dá para pensar no auge de 1995."
Naquele ano, os membros da
Abeiva venderam 368.136 unidades. A projeção de vendas é
de 6.000 carros importados. No
Brasil, segundo o ranking da
Abeiva, a marca líder de vendas
é a Kia Motors, com 710 unidades nos primeiros quatro meses deste ano.
"Havia uma demanda reprimida bem grande. Com esse
câmbio e com a economia mais
forte, os clientes estão voltando", afirmou Mello.
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