São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Consumo de importados cresce até 63%

Apesar da alta das compras externas de bens duráveis, estimulada pelo dólar mais barato, nível ainda é inferior ao de 1998

Automóveis, bebidas, brinquedos e vestuário lideram a preferência dos compradores, mas analistas não vêem farra consumista

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o dólar barato há quase um ano, o brasileiro está se deixando seduzir novamente pela compra de importados. De roupas a carros. Mas o clima atual das compras externas não é da farra de consumismo que marcou a estréia do real.
Nos primeiros quatro meses deste ano, a importação de bens duráveis -liderada por automóveis- cresceu 62,8% em relação ao mesmo intervalo do ano passado. Entre os bens não-duráveis, com destaque para brinquedos e alimentos, o crescimento atinge 23%. O desempenho, entretanto, está bem distante do ápice do ciclo de importações de bens de consumo no Brasil.
Na euforia da implementação do Plano Real, entre os anos de 1997 e 1998, a importação de bens duráveis atingiu US$ 4 bilhões. No acumulado dos últimos 12 meses até maio, a cifra está em US$ 2 bilhões. Já em produtos não-duráveis, o total em 12 meses até maio soma US$ 5 bilhões. Em 1998, no pico de importações, o total foi de US$ 6 bilhões, segundo a Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
"Quando olhamos para o volume, os níveis atuais também estão mais baixos. Em termos de bens não-duráveis, eles estão 13% abaixo do nível de 1998. No caso de bens duráveis, estão 43% abaixo do pico de 1998", disse Fernando Ribeiro, economista da Funcex.
A conjuntura até favorece certas indulgências, como a compra de vinhos importados e de alimentos mais sofisticados. Mas nenhum dos analistas ouvidos pela Folha diz acreditar que há alguma possibilidade de o padrão de importação voltar aos patamares de meados da década de 1990.
"O dólar é um forte estímulo para as compras de itens importados, mas essas compras são pontuais e estão concentradas em mercadorias fortemente atreladas também ao aumento da renda doméstica, como confecções e bebidas. Não é uma invasão de importados", disse José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
O empurrão para consumir mais artigos importados também atinge eletrodomésticos, especialmente televisores. No primeiro quadrimestre, as compras de eletrodomésticos cresceram 75,9%, e as importações de aparelhos eletrônicos, 53,8%, ante os primeiros quatro meses do ano passado.
Esse recém-reconquistado apreço por artigos importados não é bem-visto por Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior). "Esse oba-oba nas importações de bens duráveis tira mercado da empresa nacional e é, em muitos casos, uma mera substituição de importações. Precisamos é de outro tipo de importação: de máquinas e equipamentos para modernização do parque industrial."

Garagem internacional
No primeiro quadrimestre do ano, as importações de automóveis cresceram 78,5%. Apesar de a base de comparação ser fraca, para Luiz Carlos Mello, da Abeiva (Associação Brasileira de Empresas Importadoras de Veículos Automotivos), a alta é importante. Mas ainda não é hora de falar em recuperação do setor. "Vamos crescer 10% neste ano, mas não dá para pensar no auge de 1995."
Naquele ano, os membros da Abeiva venderam 368.136 unidades. A projeção de vendas é de 6.000 carros importados. No Brasil, segundo o ranking da Abeiva, a marca líder de vendas é a Kia Motors, com 710 unidades nos primeiros quatro meses deste ano.
"Havia uma demanda reprimida bem grande. Com esse câmbio e com a economia mais forte, os clientes estão voltando", afirmou Mello.


Texto Anterior: Jorge Gerdau Johannpeter: Educação versus indignação
Próximo Texto: Em 2007, empresas voltam a pagar FGTS com alíquota de 8%
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.