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Medidas para compensar câmbio visam setor sem competitividade
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo estuda novas medidas para compensar o efeito
do câmbio valorizado sobre a
indústria, mas o esforço e os recursos gastos podem ser insuficientes para garantir a competitividade internacional desses
setores. Isso porque a produção
nacional de manufaturados
perdeu espaço nas exportações
globais mesmo em períodos de
câmbio favorável.
De acordo com os dados reunidos num estudo feito pelo
economista Sérgio Vale, da
consultoria MB Associados, a
exportação de madeiras, roupas femininas e aparelhos eletrônicos, entre outros, não tem
vantagens em relação às vendas
de outros países.
Além disso, esses setores
perderam o pouco mercado
que tinham nas exportações
globais entre 2001 e 2005. Como desde então a valorização
do real em relação à moeda
norte-americana apenas se
acentuou, a situação desses setores piorou ainda mais.
"Medidas pontuais e políticas de desoneração esporádicas
apenas distorcem os preços na
economia. Não resolvem nada.
No caso de manufaturados, não
adianta nem mesmo depreciar
o câmbio porque eles não têm
relevância no mercado global",
afirma Vale.
O estudo compara a participação das exportações nacionais de um determinado produto com a participação que esse mesmo produto tem nas exportações mundiais. O objetivo
é mostrar se o país é um grande
participante nas vendas internacionais de determinado setor e se, portanto, tem vantagens em relação a outros países.
Entraves
O índice para fazer essas
comparações varia de -1 a 1,
sendo mais competitivos os setores com índices mais próximos de 1. Para ter uma idéia, as
exportações de madeira têm
coeficiente -0,97.
Há setores, porém, que aumentaram a participação no
comércio global - as exportações de carne bovina são um
bom exemplo.
Entre 2001 e 2005, o setor
aumentou seu índice de 0,71
para 0,78. É na área agrícola
que se concentram os ganhadores brasileiros no comércio global. Destacam-se também sucos de fruta, alumínio, café e tabaco, citados no trabalho.
O economista-chefe da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), Flávio Castelo Branco,
explica que a indústria perdeu
vantagens comparativamente a
outros países por causa de entraves estruturais na economia
brasileira.
Entre os vários entraves,
Castelo Branco cita a carga tributária elevada, o financiamento caro e as deficiências na
infra-estrutura como os principais problemas.
"Medidas pontuais como as
desonerações anunciadas não
resolvem o problema da competitividade global da indústria
brasileira, porque isso está ligado à solução de questões estruturais. Mas são importantes para que os setores passem pelo
pior da crise", afirma Castelo
Branco.
O professor Paulo Gala, da
FGV de São Paulo, também defende as desonerações, mas reconhece que não vão permitir
um aumento das exportações
brasileiras de manufaturados.
Para ele, a solução está na depreciação do câmbio.
"Enquanto o Banco Central
não baixa os juros, o que resta
ao Ministério da Fazenda é fazer políticas de desonerações",
afirma Gala.
(LP)
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