São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2007

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Medidas para compensar câmbio visam setor sem competitividade

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo estuda novas medidas para compensar o efeito do câmbio valorizado sobre a indústria, mas o esforço e os recursos gastos podem ser insuficientes para garantir a competitividade internacional desses setores. Isso porque a produção nacional de manufaturados perdeu espaço nas exportações globais mesmo em períodos de câmbio favorável.
De acordo com os dados reunidos num estudo feito pelo economista Sérgio Vale, da consultoria MB Associados, a exportação de madeiras, roupas femininas e aparelhos eletrônicos, entre outros, não tem vantagens em relação às vendas de outros países.
Além disso, esses setores perderam o pouco mercado que tinham nas exportações globais entre 2001 e 2005. Como desde então a valorização do real em relação à moeda norte-americana apenas se acentuou, a situação desses setores piorou ainda mais.
"Medidas pontuais e políticas de desoneração esporádicas apenas distorcem os preços na economia. Não resolvem nada. No caso de manufaturados, não adianta nem mesmo depreciar o câmbio porque eles não têm relevância no mercado global", afirma Vale.
O estudo compara a participação das exportações nacionais de um determinado produto com a participação que esse mesmo produto tem nas exportações mundiais. O objetivo é mostrar se o país é um grande participante nas vendas internacionais de determinado setor e se, portanto, tem vantagens em relação a outros países.

Entraves
O índice para fazer essas comparações varia de -1 a 1, sendo mais competitivos os setores com índices mais próximos de 1. Para ter uma idéia, as exportações de madeira têm coeficiente -0,97.
Há setores, porém, que aumentaram a participação no comércio global - as exportações de carne bovina são um bom exemplo.
Entre 2001 e 2005, o setor aumentou seu índice de 0,71 para 0,78. É na área agrícola que se concentram os ganhadores brasileiros no comércio global. Destacam-se também sucos de fruta, alumínio, café e tabaco, citados no trabalho.
O economista-chefe da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Flávio Castelo Branco, explica que a indústria perdeu vantagens comparativamente a outros países por causa de entraves estruturais na economia brasileira.
Entre os vários entraves, Castelo Branco cita a carga tributária elevada, o financiamento caro e as deficiências na infra-estrutura como os principais problemas.
"Medidas pontuais como as desonerações anunciadas não resolvem o problema da competitividade global da indústria brasileira, porque isso está ligado à solução de questões estruturais. Mas são importantes para que os setores passem pelo pior da crise", afirma Castelo Branco.
O professor Paulo Gala, da FGV de São Paulo, também defende as desonerações, mas reconhece que não vão permitir um aumento das exportações brasileiras de manufaturados. Para ele, a solução está na depreciação do câmbio.
"Enquanto o Banco Central não baixa os juros, o que resta ao Ministério da Fazenda é fazer políticas de desonerações", afirma Gala. (LP)


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