São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2007

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BB e Caixa unem-se para enfrentar privados

Objetivo é reduzir custos e preparar instituições para cenário de juro baixo

Unificação das estruturas terá investimento de R$ 300 milhões e deverá ser expandida a serviços como emissão de cartões

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante da ameaça de grandes bancos privados à liderança de instituições públicas, sobretudo do Banco do Brasil, o governo decidiu unir parte das estruturas do BB e da Caixa Econômica Federal. O objetivo é reduzir custos e prepará-los para operar num cenário de taxas de juros cada vez mais baixas.
A preocupação com o avanço da concorrência foi levada ao ministro Guido Mantega (Fazenda) pelos executivos dos bancos e a união de esforços apresentada como alternativa para melhorar a eficiência das instituições federais.
A idéia de Mantega é que, inicialmente, a unificação se restrinja à tecnologia. Mas, segundo a Folha apurou, deverá ser expandida para serviços de apoio relacionados com transações bancárias dos clientes.
Classificados como "back-office" no jargão financeiro, esses procedimentos incluem os registros necessários para emissão de cartões, processamento de cheques e documentos.
Na primeira fase, porém, a parceria entre as duas instituições será para a construção de um centro tecnológico que reunirá, no mesmo espaço, os sistemas considerados críticos.
Na prática, serão cópias extras ("backup") das bases de dados de cada banco, com históricos de transações dos clientes, saldos, além de sistemas de automação que permitem às agências operarem internet banking e avaliarem riscos.
Essa é uma exigência das novas regras internacionais de prudência bancária. O investimento, de R$ 300 milhões, foi confirmado pelos bancos e, segundo informou a assessoria da Caixa, será feito por meio de parceria privada e cada banco manterá seus sistemas separados. Mas ambos economizarão ao dividirem a estrutura.
O centro, que deverá estar funcionando no início de 2009, será construído pela empresa que vencer a concorrência pública em andamento. Ela também ficará responsável pela manutenção das instalações, atualização dos equipamentos e segurança. A Caixa e o BB pagarão pelo uso do espaço por um período de 25 anos.

Fusão
Com a unificação de parte das estruturas dos bancos, o governo encontrou um meio-termo à proposta de fusão do BB e da Caixa, que chegou a ser cogitada no ano passado. Segundo a Folha apurou com um participante dos debates na área técnica do governo, a fusão surgiu como uma possibilidade para "otimizar canais de distribuição e atendimento do governo".
No entanto, além das resistências políticas que a idéia geraria no PT, avaliou-se que os bancos têm perfis diferentes e seria difícil concretizá-la.
Com isso, o melhor caminho seria buscar unificação em áreas que evitam duplicação de estruturas sem comprometer o foco de cada banco, seguindo a linha da parceria firmada em 2005 para os clientes poderem consultar saldos e realizar saques nos caixas eletrônicos.

Ameaça
A análise dentro do governo é que com a redução da taxa de juros e a dificuldade de os bancos públicos crescerem adquirindo outros bancos -como fazem os concorrentes privados-, é preciso ganhar eficiência cortando custos e aumentando a presença no mercado.
Cada vez mais, BB e Caixa são ameaçados pela agressividade das instituições privadas. O BB, que é controlado pelo Tesouro mas tem parte das suas ações negociadas na Bolsa de Valores, tenta driblar restrições legais impostas atualmente para tentar adquirir outros bancos -estuda comprar o Besc (Banco de Santa Catarina).
Levantamento da Austin Rating mostra que, nos últimos dez anos, 43 bancos foram comprados. O Bradesco, segundo no ranking e principal ameaça ao Banco do Brasil, ficou com 17; o Itaú, terceiro maior banco do país, com 7.
Essa movimentação fez com que os privados diminuíssem a distância em relação aos federais. Em 1996, os ativos totais do Bradesco representavam 46%, ou seja, menos da metade dos do BB. No final do ano passado, alcançaram 89%.
O Itaú seguiu o mesmo caminho. Em dez anos, seus ativos passaram de 38,7% do total administrado pelo BB para 71%. A melhora do ambiente econômico no país deverá atrair interesse de bancos que hoje estão fora do mercado brasileiro, abrindo espaço para negócios.


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