|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
IPO traz risco para quem vê ganho fácil na Bolsa
Investidor deve analisar perspectivas da empresa
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O investidor que busca ganho
fácil de até 30% em apenas um
dia, como aconteceu em fevereiro do ano passado na estréia
da Gafisa na Bolsa, corre o risco
de fazer mau negócio ao pedir a
reserva de ações de empresas
que abrem o capital.
Após três anos de IPOs [oferta inicial de ações, na sigla em
inglês], a maioria dos grandes
negócios já aconteceu. O ganho
com ações de novatas depende
da perspectiva de lucro e do
preço que custará o papel.
Uma das vantagens de comprar ações durante um IPO é
que grande parte tem demanda
maior do que a oferta para os
papéis emitidos -nesse caso,
há rateio.
Com o rateio, alguns investidores que não conseguiram a
totalidade das ações pleiteadas
tendem a comprá-las nos primeiros dias -daí a forte valorização em algumas estréias.
Outro ponto positivo é que as
empresas contratam um "market maker", banco que compra
e vende os papéis, com o objetivo de assegurar liquidez e evitar grandes oscilações nos preços nas primeiras semanas.
Em terceiro lugar estão elencados a transparência e o respeito ao investidor, já que muitas delas entram direto no chamado Novo Mercado da Bovespa, que zela pelas boas práticas
de governança corporativa, e
lançam apenas ações ON (com
direito a voto).
Mas como avaliar o comportamento de uma ação que não
tem passado? E ainda mais
quando quase ninguém do
mercado pode falar sobre o risco de cair nas garras da CVM
(Comissão de Valores Mobiliários). Isso porque nenhuma
empresa envolvida na operação
de abertura de capital, inclusive aquelas que venderão as
ações aos interessados, pode falar sobre o tema com a imprensa. O problema é que a abertura
de capital costuma envolver
quase todas as corretoras e
bancos do mercado brasileiro.
Para Lucy Sousa, presidente
da Apimec São Paulo (associação dos analistas de mercado),
na hora de decidir investir em
uma novata na Bolsa o ponto
mais importante é verificar se
as perspectivas de lucro são
compatíveis com o preço do papel, que deve ser menor do que
o das empresas que já estão no
mercado e são do mesmo setor.
"Se tiver preço alto, deve ter
perspectiva de lucro que justifique isso. Deve-se olhar o que a
empresa vai fazer com o dinheiro. O ideal é que invista para ampliar sua capacidade de
crescer com aquilo que sabe fazer. Se vai fazer aquisições dentro do setor e se terá ganho de
sinergia, o que também traz valor. Mas se vai fazer aquisições
fora do setor, tem de ter um
bom argumento", disse.
A presidente da Apimec alerta para o fato de que algumas
empresas abrem o capital para
fazer a reestruturação do passivo. "Não é tão interessante se
ela não for uma empresa que
tem representatividade no setor. Precisa ver se ela está levantando dinheiro para colocar
a casa em ordem e crescer."
Foi o que aconteceu com a incorporadora Inpar, que abriu o
capital no início deste mês. Em
crise financeira, a incorporadora estava desde 2003 sem fazer
lançamentos e apostava na
abertura para voltar a crescer.
A Inpar adiantou R$ 100 milhões do Crédit Suisse, banco
que coordenou a operação, para pagar com o dinheiro levantado no IPO. As ações da Inpar
estrearam com alta de 0,3% no
primeiro dia e subiram 9,1% na
primeira semana.
Especialistas ressaltam ainda a importância de ver as anotações de auditores e advogados, que têm de se pronunciar
caso vejam algo digno de atenção dos investidores, como passivos ambientais e trabalhistas.
Todas essas informações constam do prospecto do IPO, que
passa por análise da CVM.
Prospecto
"Por causa da regulamentação, colocam-se todos os tipos
de informação no prospecto,
que termina como uma "bíblia"
de 700 páginas, que não serve
para orientar o investidor. Não
há tempo para trabalhar as informações. Aprovou o prospecto, já sai a operação porque o
mercado pode mudar", disse
Gilberto Biojone, superintendente da Ancor (Associação
Nacional das Corretoras).
O superintendente de registro da CVM, Carlos Rebello, admite que o prospecto não é um
"documento amigável" para informação, mas afirma que a
corretora que distribui a ação
tem o dever de orientar o cliente interessado no IPO.
"A idéia era que o prospecto
fosse mais amigável. Mas os advogados enxergam-no como
instrumento de defesa em caso
de processo. Então ficou maçante. Tem de ter partes positivas e negativas, alertar sobre
riscos. Apesar de desejável, a
empresa que abre capital não é
obrigada a fazer um material de
suporte amigável para o investidor não qualificado."
Texto Anterior: Folhainvest BB e Caixa unem-se para enfrentar privados Próximo Texto: Frases Índice
|