São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Ex-diretora relata encontros exclusivos com a ministra

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ex-diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) Denise Abreu relatou ontem ter se reunido "inúmeras vezes" ao longo de 2006 com a ministra Dilma Rousseff em encontros de que a Casa Civil alega "não ter registro". Abreu acusa Rousseff de interferência no processo de venda da Varig para a VarigLog.
A revelação acontece depois de o Palácio do Planalto reconhecer à Folha seis encontros entre o advogado Roberto Teixeira e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não divulgados na agenda pública do Planalto.
De acordo com Abreu, num desses encontros Rousseff a teria pressionado a não mais exigir documentos que pudessem atestar a origem do capital e a capacidade financeira dos compradores da VarigLog, o que poderia atrapalhar o negócio. A ministra nega.
A Casa Civil foi questionada pela Folha nas últimas semanas a respeito de eventuais encontros da ministra com Denise Abreu. Primeiro, via assessoria, respondeu que na agenda de Rousseff há registros de reuniões com ex-integrantes da Anac e do Ministério da Defesa, entre outros órgãos, mas não da presença de Abreu.
Na segunda-feira, a Casa Civil informou, por escrito, que não há registro de "reuniões exclusivas" da ministra com a ex-diretora da Anac.
Dessa vez, porém, o órgão fez a ressalva de que Abreu pode ter acompanhado o então presidente da Anac, Milton Zuanazzi, ou o então ministro da Defesa, Waldir Pires.

Contestação
Abreu contesta a Casa Civil. Diz que, no período da negociação da venda da Varig, reuniu-se constantemente com a ministra Dilma Rousseff e sua secretária-executiva, Erenice Guerra, sem a presença de outras autoridades. Conta detalhes desses supostos encontros e diz que chegou a almoçar com as duas "na mesinha de canto" do gabinete de Rousseff.
Em uma das reuniões, segundo ela, a ministra teria se queixado do trabalho de Zuanazzi, dizendo que ele não teria capacidade técnica e habilidade política para dirigir uma agência reguladora. Os encontros na Casa Civil, segundo Abreu, eram sempre convocados por telefone por Erenice Guerra e versaram sobre assuntos diversos: o interesse da VarigLog em adquirir a Varig, a crise aérea em curso, a sucessão no comando da Aeronáutica, entre outros temas.
Abreu afirmou ter ficado "estarrecida" com as negativas da Casa Civil. "Em várias crises do governo Lula, observei o apagão do conhecimento com a frase "eu não sabia". Agora surge o apagão da memória com: "Eu não me lembro". Parafraseando Dilma Rousseff, minhas idas à Casa Civil eram públicas e notórias. Foram tantas que até perdi a conta", afirmou.
Abreu acusou a ministra de pressioná-la a não pedir documentos que pudessem comprometer a venda da VarigLog para o fundo norte-americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros, suspeitos de serem laranjas. A lei impede que estrangeiros tenham mais de 20% das ações com direito a voto de uma companhia aérea brasileira.

Transparência
A agenda pública da ministra Dilma Rousseff é divulgada no site www.presidencia.gov.br/estrutura-presidencia/casa-civil/. Há um problema no sistema que não permite pesquisas nem acesso às agendas anteriores a setembro.
A Casa Civil confirmou que Dilma Rousseff esteve presente em duas audiências no gabinete do presidente Lula com o advogado Roberto Teixeira.
(ALAN GRIPP e LETÍCIA SANDER)


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