São Paulo, quinta-feira, 25 de junho de 2009

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Exclusão de corretoras limita o acesso às ações da Visanet

Corretores excluídos teriam feito propaganda irregular sem autorização da CVM

Informado no último dia da reserva de compra, investidor pessoa física teve pouco tempo de mudar pedido para outra corretora

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
SAMANTHA LIMA
EM SÃO PAULO

Na reta final do processo de abertura de capital da Visanet, maior processadora de cartões do país, os coordenadores da operação, liderada pelo Bradesco BBI, decidiram descredenciar 23 das mais importantes corretoras que participavam como intermediárias da oferta. O motivo foi que as corretoras teriam feito propaganda indevida da oferta inicial de ações, sem passar pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Com a exclusão dessas corretoras, ficou fora da operação uma parcela importante do público de varejo, que não teve tempo hábil para procurar um outro agente para efetuar o pedido -a internet noticiou o fato no final da manhã e os investidores tinham até as 16h para recolocarem o pedido caso tivessem conta em outra corretora.
A CVM manteve o cronograma da operação, e as ações devem estrear na Bolsa no dia 29.
Aguardada desde 2007, a oferta da Visanet é hoje a maior em curso no mundo -pode levantar até R$ 9,6 bilhões.
Entre as corretoras inabilitadas, estão duas -Ágora e Bradesco Corretora- ligadas ao próprio conglomerado Bradesco, dono da maior fatia (39,3%) na Visanet e responsável pelo banco que coordenou a operação. O Bradesco não quis se pronunciar sobre o assunto.
"O Bradesco detectou uma potencial irregularidade no material de divulgação. Todo material publicitário tem de ser aprovado pela CVM, que pode suspender a oferta", disse Felipe Claret, superintendente de Registros da CVM.
Juntas, as corretoras excluídas têm mais da metade do mercado de pessoa física da Bolsa -Ágora tinha 21,1% em maio, enquanto o Banif tinha 7,9%, e o Bradesco, 5,8%.
Surpreendidas pela decisão, entidades do mercado como BM&FBovespa, Ancor (associação das corretoras), Apimec (analistas de mercado), Amec (investidores minoritários) e Anbid (bancos de investimento) não se pronunciaram.
Apesar do incidente, o IPO deve seguir intacto. Só entre 10% e 20% das ações iriam para o varejo. Fundos de investimento e de pensão -incluindo estrangeiros- têm reserva garantida diretamente com os coordenadores.
A oferta despertou o interesse do varejo, que teve forte procura desde a quarta da semana passada, quando começou o período de reserva, segundo as corretoras. A expectativa era que houvesse rateio das ações entre esses investidores, como aconteceu em 2007, nos IPOs da Bovespa e da BM&F.
Entre as corretoras, só Senso, Umuarama e XP disseram que estudam recorrer da decisão. Algumas afirmaram que não chegaram a saber qual peça de comunicação com o cliente teria sido considerada irregular.
Segundo Ricardo Fontes, professor de finanças do Insper, a CVM deveria ter estendido o prazo para que o investidor tivesse tempo hábil de recolocar seu pedido em outra corretora. "Também deveria padronizar o material de divulgação. Esse fato vai gerar todo um debate sobre prospectos e o papel do distribuidor", disse.



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