São Paulo, quinta, 25 de junho de 1998

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CONJUNTURA
Fiesp atribui primeira queda do ano ao cenário internacional; comércio interrompe reposição de estoques
Atividade industrial cai 5,8% em SP

ISABEL CLEMENTE
em São Paulo

A atividade industrial de São Paulo teve no mês passado a primeira queda do ano, segundo a Fiesp, a federação das indústrias do Estado.
O INA (Indicador do Nível de Atividade) caiu 5,8% em relação a abril, interrompendo a recuperação gradual da indústria desde o início do ano.
Nos quatro meses anteriores as altas haviam sido de 2,7% (abril), 4% (março), 2,3% (fevereiro) e 2,9% (janeiro).
A reposição de estoques por parte do comércio-principal explicação para o discreto aquecimento das indústrias até abril- teria cessado, segundo a Fiesp.
Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia da Fiesp, atribui a queda do nível de atividade à instabilidade internacional provocada pela crise asiática.
"As taxas de juros para a produção e o consumo continuam extremamente elevadas", disse.
Os juros básicos dobraram em outubro do ano passado em resposta à crise asiática. Com isso, o governo defendeu o real de um ataque especulativo.
De lá para cá, as taxas foram caindo, tendência mantida com a decisão de ontem do Copom (Conselho de Política Monetária).

Efeito eleitoral
Tabacof acredita que no segundo semestre haverá algum aquecimento da economia.
Ele alinha entre os fatores que irão influenciar a atividade industrial as privatizações, as obras de infra-estrutura, o aumento dos gastos públicos (impulsionados pelas eleições) e o crescimento das exportações.
Para Tabacof, no entanto, as incertezas do cenário internacional continuarão limitando o crescimento.

Vendas em baixa
As vendas das indústrias seguiram o desempenho do INA, caindo 6,6% em maio.
A economia industrial segue operando em um patamar muito abaixo do nível registrado antes da adoção do pacote fiscal e da alta dos juros, entre outubro e novembro do ano passado.
Dados da Fiesp mostram que as vendas estão 7% menores e o INA, 5,7%.
Os resultados positivos acumulados de dezembro até hoje -as vendas subiram 3,4% e o INA 6%- não bastaram para as indústrias recuperarem o nível de atividade que tinham antes de outubro.
Diante de um quadro de instabilidade, as indústrias continuam desencorajadas a contratar.
O número de pessoas ocupadas, segundo a Fiesp, caiu 5,4% em maio, se comparado ao mesmo período de 97 -queda ligeiramente superior à registrada em abril (-5,3%) e março (-5,2%).
Em função da redução do número de postos de trabalho, a indústria paulista tem hoje uma folha de pagamento 2% menor do que a de maio do ano passado.
Segundo a pesquisa sobre o nível de emprego industrial da Fiesp, em maio a indústria cortou 6.700 postos de trabalho (147.827 entre janeiro e maio).
O salário real médio pago pela indústria continua maior em relação ao mesmo período de 97 (3,5%).
Tabacof estima que este mês vários setores estão voltando a aumentar suas vendas, entre eles o de autopeças, papelão ondulado, alimentos, perfumaria e tintas.
Em compensação, disse, a previsão é de queda para eletroeletrônicos de consumo, cujo otimismo de vendas de TV por conta da Copa do Mundo não se concretizou, assim como para máquinas e indústria química.

Carga fiscal
Um levantamento da Fiesp mostra uma elevação de 16% na carga fiscal das empresas nos últimos 12 meses, contra um crescimento de 2% da economia.



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