São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 2000


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LUÍS NASSIF

A volta do planejamento

A mudança foi anotada pelo professor Vicente Falconi Campos -pai dos programas de qualidade total no Brasil. Em entrevista ao programa "Dinheiro Vivo", na TV Gazeta, Falconi notou que, nos últimos anos, é crescente o número de empresas brasileiras que passaram a recorrer ao planejamento estratégico e transformaram o "orçamento" em peça central dos trabalhos de suas empresas.
Melhor que isso: não há mais indexadores nos orçamentos. Durante anos o planejamento das empresas resumiu-se a prever inflação e câmbio dos anos seguintes -de preferência, das semanas seguintes. Nesse quadro, o único referencial de consultoria era o da macroeconomia.
Acabou criando uma hipertrofia da análise macroeconômica, que, de repente, tornou-se o foco central de qualquer planejamento de empresa. Toda a discussão de planejamento estratégico resumia-se a acreditar piamente na previsão de crescimento do PIB e na variação do câmbio e adaptar a planilha do orçamento àqueles números.
Pior, sem estatísticas e estudos setoriais, as projeções macroeconômicas se faziam (se fazem) em cima dos grandes agregados, provocando erros colossais de avaliação.
Tome-se o caso da indústria automobilística. Houve um salto de crescimento no primeiro ano do Real, por conta da incorporação de novos consumidores, que entraram por meio de financiamentos acessíveis e preços mais baratos. A análise macroeconômica limitou-se a projetar aquele índice de crescimento para o futuro. Pelo andar da carruagem, hoje o setor estaria produzindo mais de 3 milhões de veículos/ano no país.
Já a análise estratégica é muito mais qualitativa. Ela identificaria, primeiro, quem são os novos consumidores. Depois, quantificaria o número deles no país. Depois avaliaria quanto tempo o mercado levaria para atendê-los. Se entra 1,5 milhão de consumidores no mercado, na primeira rodada as vendas aumentam 1,5 milhão de veículos. Cria-se uma bolha com a incorporação desses novos consumidores. Depois, a bolha deixa de crescer e ocorre um crescimento vegetativo da frota. E, no momento seguinte, há uma queda violenta na produção.
É essa sofisticação que começa a chegar à mesa das empresas brasileiras. Em algumas, chegou há tempos. Há pelo menos 15 anos o grupo Gerdau utiliza a mesma metodologia de planejamento estratégico trazida para o governo, agora, por meio do "Avança Brasil". Define um planejamento de longo prazo, desdobra-o em metas de médio prazo e parte em orçamentos anuais. A macroeconomia é apenas um dos elementos de análise.
Pois são esses procedimentos que começam a ser incorporados ao dia-a-dia não só das empresas como do setor público -sobre isso passarei a falar nas próximas colunas. Além do "Avança Brasil", há governos de Estado -como o de Mato Grosso- utilizando as novas ferramentas. A Petrobras, introdutora do planejamento estratégico no país (ao lado de outras estatais, como a Eletrobrás), volta a se pautar por ele, da mesma forma que organizações como o Sebrae e o Incra.
Há em comum nesses planos a visão de futuro, as metas de médio prazo, as ferramentas para atingir as metas, indicadores de acompanhamento e responsáveis pelos itens. Será o grande instrumental de aumento da produtividade na economia.

Petrobras
É curioso o que se passa na Petrobras. Até alguns anos atrás, o terminal de São Sebastião era recordista de vazamentos de óleo. Depois, os vazamentos acabaram. Foi implementado um programa de qualidade total, o qual constatou que, em 90% dos casos, os vazamentos eram culpa apenas da falta de um método adequado de manutenção.
Agora, voltam os vazamentos em dose cavalar e as primeiras investigações detectam falha humana -isto é, desmonte dos métodos de qualidade total.
O curioso na história é que isso ocorre ao mesmo tempo em que a Petrobras, pela primeira vez em mais de uma década, retoma os conceitos de planejamento estratégico.


E-mail - lnassif@advivo.com.br



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