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LUÍS NASSIF
A volta do planejamento
A mudança foi anotada pelo professor Vicente Falconi
Campos -pai dos programas de
qualidade total no Brasil. Em
entrevista ao programa "Dinheiro Vivo", na TV Gazeta, Falconi
notou que, nos últimos anos, é
crescente o número de empresas
brasileiras que passaram a recorrer ao planejamento estratégico e transformaram o "orçamento" em peça central dos trabalhos de suas empresas.
Melhor que isso: não há mais indexadores nos orçamentos. Durante anos o planejamento das
empresas resumiu-se a prever inflação e câmbio dos anos seguintes -de preferência, das semanas seguintes. Nesse quadro, o
único referencial de consultoria
era o da macroeconomia.
Acabou criando uma hipertrofia
da análise macroeconômica,
que, de repente, tornou-se o foco
central de qualquer planejamento de empresa. Toda a discussão de planejamento estratégico resumia-se a acreditar piamente na previsão de crescimento do PIB e na variação do câmbio e adaptar a planilha do orçamento àqueles números.
Pior, sem estatísticas e estudos
setoriais, as projeções macroeconômicas se faziam (se fazem) em
cima dos grandes agregados,
provocando erros colossais de
avaliação.
Tome-se o caso da indústria automobilística. Houve um salto de
crescimento no primeiro ano do
Real, por conta da incorporação
de novos consumidores, que entraram por meio de financiamentos acessíveis e preços mais
baratos. A análise macroeconômica limitou-se a projetar aquele índice de crescimento para o
futuro. Pelo andar da carruagem, hoje o setor estaria produzindo mais de 3 milhões de veículos/ano no país.
Já a análise estratégica é muito
mais qualitativa. Ela identificaria, primeiro, quem são os novos
consumidores. Depois, quantificaria o número deles no país.
Depois avaliaria quanto tempo
o mercado levaria para atendê-los. Se entra 1,5 milhão de consumidores no mercado, na primeira rodada as vendas aumentam
1,5 milhão de veículos. Cria-se
uma bolha com a incorporação
desses novos consumidores. Depois, a bolha deixa de crescer e
ocorre um crescimento vegetativo da frota. E, no momento seguinte, há uma queda violenta
na produção.
É essa sofisticação que começa a
chegar à mesa das empresas brasileiras. Em algumas, chegou há
tempos. Há pelo menos 15 anos o
grupo Gerdau utiliza a mesma
metodologia de planejamento
estratégico trazida para o governo, agora, por meio do "Avança
Brasil". Define um planejamento de longo prazo, desdobra-o
em metas de médio prazo e parte
em orçamentos anuais. A macroeconomia é apenas um dos
elementos de análise.
Pois são esses procedimentos que
começam a ser incorporados ao
dia-a-dia não só das empresas
como do setor público -sobre
isso passarei a falar nas próximas colunas. Além do "Avança
Brasil", há governos de Estado
-como o de Mato Grosso- utilizando as novas ferramentas. A
Petrobras, introdutora do planejamento estratégico no país (ao
lado de outras estatais, como a
Eletrobrás), volta a se pautar por
ele, da mesma forma que organizações como o Sebrae e o Incra.
Há em comum nesses planos a
visão de futuro, as metas de médio prazo, as ferramentas para
atingir as metas, indicadores de
acompanhamento e responsáveis pelos itens. Será o grande
instrumental de aumento da
produtividade na economia.
Petrobras
É curioso o que se passa na Petrobras. Até alguns anos atrás, o
terminal de São Sebastião era recordista de vazamentos de óleo.
Depois, os vazamentos acabaram. Foi implementado um programa de qualidade total, o qual
constatou que, em 90% dos casos, os vazamentos eram culpa
apenas da falta de um método
adequado de manutenção.
Agora, voltam os vazamentos
em dose cavalar e as primeiras
investigações detectam falha humana -isto é, desmonte dos
métodos de qualidade total.
O curioso na história é que isso
ocorre ao mesmo tempo em que
a Petrobras, pela primeira vez
em mais de uma década, retoma
os conceitos de planejamento estratégico.
E-mail - lnassif@advivo.com.br
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