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LUÍS NASSIF
A CSN, segundo Benjamin
Benjamin Steinbruch, presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), entra em contato para dar sua versão para o processo de compra
da companhia pela britânica
Corus e de venda da Metalic (da
Vicunha Siderúrgica) para a
CSN dias antes da operação anterior.
Antes, uma rememoração. A
privatização da CSN foi feita no
governo Itamar. Na época, lutei
vigorosamente para que o modelo proposto -que consistia
em colocar os fundos a serviços
de grupos pouco capitalizados- não vingasse. Cheguei a
ser processado por Itamar em
função da guerra travada.
As críticas contra o modelo foram em relação à opção por
vender as companhias a "donos", e não ao público em geral,
e por não levar em conta um
modelo prévio de privatização
que permitisse uma racionalidade, garantindo tamanho e escala ao novo parque siderúrgico. As dificuldades para a consolidação do parque e os problemas societários (como o caso
dos controladores da CSN descapitalizando a empresa para
poder pagar os financiamentos
contraídos) estão aí para confirmar o acerto das críticas.
Mesmo assim, a privatização
permitiu a salvação da companhia, sua modernização e sua
transformação na mais eficiente
companhia siderúrgica do planeta. A questão é que, sem o endividamento contraído para
atender aos interesses dos sócios, ela é que estaria saindo por
aí para comprar a Corus ou outras siderúrgicas em crise. Agora, ocorreu o contrário.
Financeiramente, foi um
grande negócio para a CSN. Os
financiamentos contraídos com
o BNDES para permitir ao grupo Vicunha aumentar a participação na CSN, no processo de
descruzamento das ações da
Vale, iriam exigir neste ano a
geração de dividendos anuais
no valor de R$ 1 bilhão. Além
disso, indo na contramão do setor, a CSN já tinha anunciado a
decisão de não mais ser auto-suficiente em energia, para permitir maior distribuição de dividendos. Ou a empresa se descapitalizaria ou a Vicunha não
conseguiria pagar o BNDES,
perdendo o controle.
Nesse quadro, a operação com
a Corus foi um sucesso para os
controladores da CSN. Será
criada uma nova companhia
que abarcará os ativos da Corus
e da CSN, e será a segunda
maior do mundo. Nessa nova
companhia, os acionistas brasileiros terão 37,6%, serão os
maiores acionistas individuais.
Será criada uma holding CSN
(com as ações dos atuais acionistas da empresa) apenas para
manter o bloco de ações e assegurar a governança.
Segundo Benjamin, o acordo
assegurou os seguintes direitos
aos acionistas da CSN:
1) Poderão indicar quatro dos
12 membros do conselho de administração. Benjamin assumirá a vice-presidência do conselho até 2004 e, depois, a presidência.
2) Poderão indicar dois dos oito membros da diretoria executiva.
3) Terão poder de veto sobre
todas as decisões.
A fusão teria se dado em função da complementaridade das
companhias. A Corus tem quatro vezes a produção da CSN e
seis vezes o faturamento, mas
não tem resultado, em parte devido à valorização da libra, em
parte às suas plantas de geração
mais antiga. Já a CSN virou
"benchmark" mundial em
EBITDA, com 45% de resultado.
Com a fusão, a Corus conseguirá resultados, e a CSN conseguirá a internacionalização.
Além disso, segundo Benjamin, as exportações da CSN para a Europa poderão saltar de
US$ 100 milhões para US$ 720
milhões por ano -não necessariamente as exportações brasileiras, já que serão vendas de
minério, possivelmente tirando
parte das vendas da Vale do Rio
Doce.
Finalmente, haverá ganho de
sinergia. Haverá renegociação
do passivo financeiro da CSN a
um terço do custo. A sinergia
inicial, excluídos os ganhos de
juros auditados, segundo Benjamin, será de US$ 250 milhões/ano. A soma das duas companhias dava US$ 5 bilhões de valor de mercado. Com a fusão,
passam a valer US$ 6 bilhões.
Repito: o negócio foi excepcional para os acionistas. Mas dizer que a companhia se abrasileirará pelo fato de ter brasileiros no conselho e na diretoria
executiva não resiste à menor
análise. Os brasileiros serão
acionistas de uma empresa britânica, cujos executivos, profissionais, tomarão decisões de
acordo com a lógica da empresa, cuja sede está na Inglaterra,
não no Brasil.
Quanto à compra da Metalic
pela CSN, as explicações não
convencem. Benjamin sustenta
que a compra visou assegurar
que a Metalic continuasse a produzir embalagens de aço com
componentes de aço, que têm
grande aceitação no Nordeste.
Não se deveria aceitar essa
operação.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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