São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

A CSN, segundo Benjamin

Benjamin Steinbruch, presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), entra em contato para dar sua versão para o processo de compra da companhia pela britânica Corus e de venda da Metalic (da Vicunha Siderúrgica) para a CSN dias antes da operação anterior.
Antes, uma rememoração. A privatização da CSN foi feita no governo Itamar. Na época, lutei vigorosamente para que o modelo proposto -que consistia em colocar os fundos a serviços de grupos pouco capitalizados- não vingasse. Cheguei a ser processado por Itamar em função da guerra travada.
As críticas contra o modelo foram em relação à opção por vender as companhias a "donos", e não ao público em geral, e por não levar em conta um modelo prévio de privatização que permitisse uma racionalidade, garantindo tamanho e escala ao novo parque siderúrgico. As dificuldades para a consolidação do parque e os problemas societários (como o caso dos controladores da CSN descapitalizando a empresa para poder pagar os financiamentos contraídos) estão aí para confirmar o acerto das críticas.
Mesmo assim, a privatização permitiu a salvação da companhia, sua modernização e sua transformação na mais eficiente companhia siderúrgica do planeta. A questão é que, sem o endividamento contraído para atender aos interesses dos sócios, ela é que estaria saindo por aí para comprar a Corus ou outras siderúrgicas em crise. Agora, ocorreu o contrário.
Financeiramente, foi um grande negócio para a CSN. Os financiamentos contraídos com o BNDES para permitir ao grupo Vicunha aumentar a participação na CSN, no processo de descruzamento das ações da Vale, iriam exigir neste ano a geração de dividendos anuais no valor de R$ 1 bilhão. Além disso, indo na contramão do setor, a CSN já tinha anunciado a decisão de não mais ser auto-suficiente em energia, para permitir maior distribuição de dividendos. Ou a empresa se descapitalizaria ou a Vicunha não conseguiria pagar o BNDES, perdendo o controle.
Nesse quadro, a operação com a Corus foi um sucesso para os controladores da CSN. Será criada uma nova companhia que abarcará os ativos da Corus e da CSN, e será a segunda maior do mundo. Nessa nova companhia, os acionistas brasileiros terão 37,6%, serão os maiores acionistas individuais. Será criada uma holding CSN (com as ações dos atuais acionistas da empresa) apenas para manter o bloco de ações e assegurar a governança.
Segundo Benjamin, o acordo assegurou os seguintes direitos aos acionistas da CSN:
1) Poderão indicar quatro dos 12 membros do conselho de administração. Benjamin assumirá a vice-presidência do conselho até 2004 e, depois, a presidência.
2) Poderão indicar dois dos oito membros da diretoria executiva.
3) Terão poder de veto sobre todas as decisões.
A fusão teria se dado em função da complementaridade das companhias. A Corus tem quatro vezes a produção da CSN e seis vezes o faturamento, mas não tem resultado, em parte devido à valorização da libra, em parte às suas plantas de geração mais antiga. Já a CSN virou "benchmark" mundial em EBITDA, com 45% de resultado. Com a fusão, a Corus conseguirá resultados, e a CSN conseguirá a internacionalização.
Além disso, segundo Benjamin, as exportações da CSN para a Europa poderão saltar de US$ 100 milhões para US$ 720 milhões por ano -não necessariamente as exportações brasileiras, já que serão vendas de minério, possivelmente tirando parte das vendas da Vale do Rio Doce.
Finalmente, haverá ganho de sinergia. Haverá renegociação do passivo financeiro da CSN a um terço do custo. A sinergia inicial, excluídos os ganhos de juros auditados, segundo Benjamin, será de US$ 250 milhões/ano. A soma das duas companhias dava US$ 5 bilhões de valor de mercado. Com a fusão, passam a valer US$ 6 bilhões.
Repito: o negócio foi excepcional para os acionistas. Mas dizer que a companhia se abrasileirará pelo fato de ter brasileiros no conselho e na diretoria executiva não resiste à menor análise. Os brasileiros serão acionistas de uma empresa britânica, cujos executivos, profissionais, tomarão decisões de acordo com a lógica da empresa, cuja sede está na Inglaterra, não no Brasil.
Quanto à compra da Metalic pela CSN, as explicações não convencem. Benjamin sustenta que a compra visou assegurar que a Metalic continuasse a produzir embalagens de aço com componentes de aço, que têm grande aceitação no Nordeste.
Não se deveria aceitar essa operação.
E-mail - lnassif@uol.com.br



Texto Anterior: Artigo: Em vez de liderar reforma, Bush é forçado a fazê-la
Próximo Texto: Mercado em transe: Brasil ruma para calote, diz banco dos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.