São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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MERCADO EM TRANSE

País vai ter moratória se não mudar sua política econômica, diz economista-chefe do Bear Stearns

Brasil ruma para calote, diz banco dos EUA

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Em teleconferência ontem em Nova York, o economista-chefe internacional do banco de investimentos Bear Stearns disse que o Brasil caminha para uma moratória de sua dívida. "Se não houver mudanças na política econômica, então haverá moratória", disse David Malpass.
O encontro era fechado para o público e imprensa, e o economista não quis comentar suas declarações posteriormente, mas pelo menos dois participantes da reunião confirmaram as frases e o teor da palestra dada no começo da manhã de ontem para investidores e analistas em Manhattan.
Na teleconferência, Malpass disse que achava errado o conceito que grande parte do mercado tem de pensar que a economia brasileira melhorará ou piorará de vez apenas depois de outubro/ novembro, com a definição de quem será o novo presidente.
"O resultado das eleições não fará a menor diferença na questão da moratória", disse o economista. "Ao contrário da avaliação do FMI, segundo a qual passado o pleito o mercado e a economia brasileira se estabilizarão, acredito que o grande problema do Brasil é o crescimento econômico."
Quando alguém num dos telefones ligados à palestra perguntou quando ele acharia que a moratória se efetivaria, Malpass respondeu que tudo depende de como o Fundo agirá. "Se o FMI liberar dinheiro para o Brasil agora, então poderá atrasar esse evento para depois das eleições", previu.
Segundo ele, no entanto, ainda não está claro se todos os candidatos querem um pacote de transição, "então fica difícil para o FMI emprestar dinheiro neste cenário", disse. Mesmo assim, o economista duvida da eficácia de uma nova ajuda da entidade e cita como argumento a Argentina, que recebeu três pacotes de auxílio antes de quebrar.
"O Brasil está afundando rapidamente", afirmou Malpass, no momento mais contundente da palestra. "Com a alta dos spreads da dívida, o C-Bond hoje negociando a 58 centavos de dólar, é cada vez maior a barreira para o Brasil voltar a crescer."
Não é a primeira vez que um banco americano duvida da capacidade do Brasil pagar sua dívida, embora seja a primeira num evento semipúblico como este. No mês passado, a Folha já trazia a informação de que o Lehman Brothers propôs ao governo reestruturar amigavelmente a dívida interna, "antes que seja tarde demais". É a primeira vez que um banco desvincula a moratória de uma eventual vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).



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