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MERCADO EM TRANSE
País vai ter moratória se não mudar sua política econômica, diz economista-chefe do Bear Stearns
Brasil ruma para calote, diz banco dos EUA
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Em teleconferência ontem em
Nova York, o economista-chefe
internacional do banco de investimentos Bear Stearns disse que o
Brasil caminha para uma moratória de sua dívida. "Se não houver
mudanças na política econômica,
então haverá moratória", disse
David Malpass.
O encontro era fechado para o
público e imprensa, e o economista não quis comentar suas declarações posteriormente, mas
pelo menos dois participantes da
reunião confirmaram as frases e o
teor da palestra dada no começo
da manhã de ontem para investidores e analistas em Manhattan.
Na teleconferência, Malpass
disse que achava errado o conceito que grande parte do mercado
tem de pensar que a economia
brasileira melhorará ou piorará
de vez apenas depois de outubro/
novembro, com a definição de
quem será o novo presidente.
"O resultado das eleições não fará a menor diferença na questão
da moratória", disse o economista. "Ao contrário da avaliação do
FMI, segundo a qual passado o
pleito o mercado e a economia
brasileira se estabilizarão, acredito que o grande problema do Brasil é o crescimento econômico."
Quando alguém num dos telefones ligados à palestra perguntou quando ele acharia que a moratória se efetivaria, Malpass respondeu que tudo depende de como o Fundo agirá. "Se o FMI liberar dinheiro para o Brasil agora,
então poderá atrasar esse evento
para depois das eleições", previu.
Segundo ele, no entanto, ainda
não está claro se todos os candidatos querem um pacote de transição, "então fica difícil para o
FMI emprestar dinheiro neste cenário", disse. Mesmo assim, o
economista duvida da eficácia de
uma nova ajuda da entidade e cita
como argumento a Argentina,
que recebeu três pacotes de auxílio antes de quebrar.
"O Brasil está afundando rapidamente", afirmou Malpass, no
momento mais contundente da
palestra. "Com a alta dos spreads
da dívida, o C-Bond hoje negociando a 58 centavos de dólar, é
cada vez maior a barreira para o
Brasil voltar a crescer."
Não é a primeira vez que um
banco americano duvida da capacidade do Brasil pagar sua dívida,
embora seja a primeira num
evento semipúblico como este.
No mês passado, a Folha já trazia
a informação de que o Lehman
Brothers propôs ao governo reestruturar amigavelmente a dívida
interna, "antes que seja tarde demais". É a primeira vez que um
banco desvincula a moratória de
uma eventual vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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