|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ERRO AO ALVO
Para Armínio, descumprimento não afeta credibilidade do sistema
Meta de inflação vai estourar, diz BC
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo segundo ano consecutivo,
o Banco Central não deve cumprir a meta de inflação fixada pelo
governo. Ontem, pela primeira
vez, o BC admitiu que a alta dos
preços deve ficar acima dos 5,5%
estipulados pelo teto da meta deste ano. A projeção consta da ata
da reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária do BC) realizada na semana passada.
A meta deste ano para a inflação
medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é de
3,5%, com margem de tolerância
de dois pontos percentuais para
cima ou para baixo. Segundo o
BC, a inflação deve ficar "acima de
5,5% em 2002", mas não especifica qual é a projeção.
O estouro da meta é creditado
ao aumento inesperado das tarifas públicas e à recente disparada
do dólar. Um dos maiores impactos sobre a inflação deve vir dos
reajustes do gás de cozinha.
Neste mês, o BC revisou de 28%
para 42% a sua projeção para o
aumento no preço do gás de cozinha. Ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a falar em modificar a política de reajustes do preço do produto. O
presidente do BC, Armínio Fraga,
também disse que o assunto está
sendo estudado.
Fraga afirmou que o descumprimento da meta deste ano (o segundo em quatro anos do sistema
de metas de inflação) não deve
afetar a credibilidade da política
monetária. "É tudo uma questão
de avaliar as circunstâncias [em
que ocorreram esse descumprimento"", afirmou.
Para Fraga, é preciso que o BC
seja claro ao explicar que a meta
não foi cumprida devido a choques temporários sofridos pela
economia, cujos efeitos são pouco
sensíveis a elevações das taxas de
juros. Se isso for feito, diz ele, o
mercado não irá pôr em dúvida a
credibilidade da ação do BC.
Mesmo projetando um novo estouro da meta de inflação, o BC
reduziu os juros básicos da economia. Na semana passada, a taxa
passou de 18,5% para 18% ao ano.
Segundo a ata da reunião que
decidiu por essa queda, a decisão
foi tomada, em parte, porque o
BC espera que ocorra uma "manutenção [das bases da atual política econômica" na próxima administração, o que vem sendo sinalizado pelos principais candidatos à Presidência".
Entende-se, por isso, a continuidade do compromisso com controle de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal.
A ata da reunião do Copom
mostra também que por trás da
redução de juros está uma preocupação em estimular o crescimento da economia. Segundo o
documento, "a atividade econômica tem perdido dinamismo nos
últimos meses". Além disso, "avalia-se que a demanda agregada
não constitui fator de pressão inflacionária".
Porém, se a inflação não vem do
aumento da demanda e sim de
outros fatores -como a alta do
dólar e dos preços administrados
pelo governo, que sobem independentemente do comportamento dos consumidores-, a alta dos juros é pouco eficaz.
Conveniente num ano eleitoral,
o BC nega que a redução dos juros
tenha caráter político.
A ata do Copom diz que a decisão "não tem cunho ideológico ou
partidário".
Texto Anterior: Em transe: Brasil pode ir ao FMI em breve, diz Armínio Próximo Texto: Cresce procura por créditos para exportação Índice
|