São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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ERRO AO ALVO

Para Armínio, descumprimento não afeta credibilidade do sistema

Meta de inflação vai estourar, diz BC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo segundo ano consecutivo, o Banco Central não deve cumprir a meta de inflação fixada pelo governo. Ontem, pela primeira vez, o BC admitiu que a alta dos preços deve ficar acima dos 5,5% estipulados pelo teto da meta deste ano. A projeção consta da ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) realizada na semana passada.
A meta deste ano para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é de 3,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Segundo o BC, a inflação deve ficar "acima de 5,5% em 2002", mas não especifica qual é a projeção.
O estouro da meta é creditado ao aumento inesperado das tarifas públicas e à recente disparada do dólar. Um dos maiores impactos sobre a inflação deve vir dos reajustes do gás de cozinha.
Neste mês, o BC revisou de 28% para 42% a sua projeção para o aumento no preço do gás de cozinha. Ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a falar em modificar a política de reajustes do preço do produto. O presidente do BC, Armínio Fraga, também disse que o assunto está sendo estudado.
Fraga afirmou que o descumprimento da meta deste ano (o segundo em quatro anos do sistema de metas de inflação) não deve afetar a credibilidade da política monetária. "É tudo uma questão de avaliar as circunstâncias [em que ocorreram esse descumprimento"", afirmou.
Para Fraga, é preciso que o BC seja claro ao explicar que a meta não foi cumprida devido a choques temporários sofridos pela economia, cujos efeitos são pouco sensíveis a elevações das taxas de juros. Se isso for feito, diz ele, o mercado não irá pôr em dúvida a credibilidade da ação do BC.
Mesmo projetando um novo estouro da meta de inflação, o BC reduziu os juros básicos da economia. Na semana passada, a taxa passou de 18,5% para 18% ao ano.
Segundo a ata da reunião que decidiu por essa queda, a decisão foi tomada, em parte, porque o BC espera que ocorra uma "manutenção [das bases da atual política econômica" na próxima administração, o que vem sendo sinalizado pelos principais candidatos à Presidência".
Entende-se, por isso, a continuidade do compromisso com controle de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal.
A ata da reunião do Copom mostra também que por trás da redução de juros está uma preocupação em estimular o crescimento da economia. Segundo o documento, "a atividade econômica tem perdido dinamismo nos últimos meses". Além disso, "avalia-se que a demanda agregada não constitui fator de pressão inflacionária".
Porém, se a inflação não vem do aumento da demanda e sim de outros fatores -como a alta do dólar e dos preços administrados pelo governo, que sobem independentemente do comportamento dos consumidores-, a alta dos juros é pouco eficaz.
Conveniente num ano eleitoral, o BC nega que a redução dos juros tenha caráter político.
A ata do Copom diz que a decisão "não tem cunho ideológico ou partidário".



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