São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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TRABALHO

Retração em maio foi de 1,8%, menor do que a de abril; desemprego atinge 7,2% em junho e 7,3% no semestre

Em queda há 17 meses, renda cai 4,6% no ano

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

No primeiro semestre deste ano, o mercado de trabalho sofreu uma piora generalizada: cresceu a taxa de desemprego, a renda caiu e aumentou a informalidade da economia. É o que revela pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Pelo 17º mês consecutivo, a renda do trabalhador caiu. O rendimento, que está em queda desde janeiro de 2001, sofreu uma retração de 1,8% em maio. Na média dos cinco primeiros meses do ano, o recuo atingiu 4,6%.
Desde o início do Plano Real, no entanto, o rendimento acumula um ganho de 14%. Essa alta ficou concentrada nos primeiros anos do governo FHC. De 1994 a 1997, houve um crescimento de 20%, enquanto que de 1998 a 2001 a renda caiu 11%, segundo dados do IBGE. Em reais, o rendimento médio do trabalhador ficou em R$ 792,76 -aproximadamente quatro salários mínimos.
Para Shyrlene Ramos de Souza, economista do do Departamento de Emprego e Rendimento do IBGE, a renda, apesar de se manter em queda, está sendo reduzida num ritmo menor. A queda de maio é menos intensa do que a de abril (-4,1%). Desde fevereiro, a retração do rendimento está perdendo fôlego.
Para especialistas, a renda do trabalhador já está em queda há muitos meses e a atual desaceleração poderia indicar que o rendimento está atingindo um piso -abaixo dele não teria mais como cair. Shyrlene disse que isso é possível, mas que não há indicadores para comprovar a tese.
A consultoria LCA prevê para o final deste ano uma queda de 3% no rendimento médio. Se confirmada, a retração será menor do que a do ano passado -de 4%.
Segundo Shyrlene, o que também explica a queda da renda é o fato de que os setores que estão sustentando o mercado de trabalho -comércio e serviços- são justamente os que pagam os menores salários.
Em crise, a indústria, cujos vencimentos são os mais altos de toda a economia, reduziu o rendimento dos trabalhadores em 2,9% nos cinco primeiros meses deste ano.

Desemprego
Em 2002 (até junho), o desemprego ficou em 7,3% -superior aos 6,3% do mesmo período de 2001. Em junho, a taxa com ajuste sazonal (livre de influências típicas de cada período) foi de 7,2% -quase igual à de maio (7,1%).
São Paulo foi, de novo, a recordista do desemprego entre as regiões metropolitanas pesquisadas. A taxa ficou em 8,5% -pouco abaixo dos 8,8% de maio.
Mais sinais da piora: até maio, houve crescimento de 3,9% no número de novos empregos sem carteira. Esse tipo de contratação indica o crescimento da informalidade, mais ainda porque o emprego com carteira subiu num ritmo bem menor (1,5%).
O único indicador de recuperação é o aumento da ocupação -ou seja, do número de novas vagas criadas. Cresce desde janeiro deste ano o total de pessoas ocupadas. Em junho, atingiu alta de 1,3%. No semestre, houve crescimento de 1,5%.
"O crescimento da ocupação nos seis meses, porém, foi insuficiente para reduzir a taxa de desemprego", disse Shyrlene.
O problema é que, ao mesmo tempo em que cresce a ocupação, aumenta num ritmo maior o número de pessoas entrando no mercado de trabalho. Prova disso é que se ampliaram em 20,2% as pessoas desocupadas (os desempregados) no primeiro semestre ante igual período de 2001.
Marcela Prada, da Tendências Consultoria, diz acreditar que a piora do cenário econômico (juro alto, câmbio subindo etc.) já afetou a taxa de ocupação, desacelerando o ritmo de crescimento verificado no começo do ano. "Nos próximos meses, devemos ter adiamento de contratações e até mesmo demissões, se a demanda [consumo" cair ainda mais."


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