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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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CONTAS EXTERNAS

Saldo de capital estrangeiro para o país recua de US$ 9,6 bi, no 1º semestre de 2002, para US$ 3,5 bi, em 2003

Investimento externo no Brasil cai 63%

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As empresas e instituições estrangeiras reduziram em 63% seus investimentos no Brasil no primeiro semestre de 2003, segundo dados do Banco Central. A comparação é feita com os seis primeiros meses do ano passado.
De janeiro a junho deste ano, o saldo de capital externo no país (entradas menos saídas) ficou em US$ 3,5 bilhões, contra US$ 9,617 bilhões em igual período de 2002.
No mês passado, o total de investimento direto estrangeiro (IDE) recebido pelo país ficou em apenas US$ 186 milhões, o menor valor desde abril de 1995.
"Os resultados registrados até agora estão dentro do previsto", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
A previsão a que o BC se refere, porém, foi refeita diversas vezes neste ano. No início de 2003, a expectativa era de entrada de US$ 16 bilhões em investimento estrangeiro para este ano. Como os recursos começaram a minguar, o BC diminui a projeção para US$ 15 bilhões, depois para US$ 13 bilhões até chegar à atual previsão de saldo de US$ 10 bilhões.
Isso significa que, no segundo semestre, será necessário um crescimento de 186% na entrada de dinheiro estrangeiro.
O BC diz que nas últimas semanas já se observa uma leve recuperação. Dados parciais colhidos ontem indicavam que US$ 600 milhões em investimentos haviam entrado no país neste mês.
Dos US$ 3,5 bilhões em investimentos recebidos pelo Brasil no primeiro semestre, US$ 801 milhões -ou 22,9%- não se traduziram num ingresso efetivo de dólares, mas sim às operações denominadas de "conversão".
Nessas transações, a empresa faz um acordo com seus credores para pagar suas dívidas em ações da companhia. Assim, o antigo credor se transforma em sócio da empresa, sem que seja necessário o aporte de novos recursos.
No primeiro semestre de 2002, US$ 2,473 bilhões dos investimentos recebidos pelo Brasil -25,7% do total- se referiam às conversões.
Mesmo com o risco Brasil em queda de 49% no ano, o país não conseguiu atrair novos investimentos significativos em 2003. Para Altamir Lopes, do BC, a queda no volume de investimentos recebidos no primeiro semestre foi resultado de operações isoladas realizadas nos últimos meses, em que multinacionais venderam a participação que tinham em empresas que atuam no Brasil e enviaram o dinheiro de volta às suas matrizes.
Foi o caso do banco BBV, que remeteu US$ 649 milhões referentes à venda de sua operação brasileira para o Bradesco.
Ele afirma ainda que a queda no fluxo de capital externo tem sido observada em todo o mundo, e não apenas no Brasil. Esse fenômeno seria consequência da desaceleração das economias dos países desenvolvidos.

Infra-estrutura
Um dos setores afetados pela queda nos investimentos foi o de infra-estrutura. As multinacionais aplicaram US$ 1,313 bilhão em energia e telecomunicações no primeiro semestre deste ano, contra US$ 3,739 bilhões em 2002.
Lopes relativizou a importância do chamado marco regulatório do setor para atrair investimentos. Para alguns analistas, os estrangeiros estariam evitando aplicar novos recursos em telecomunicações e energia por causa da falta de clareza das regras que ditam o funcionamento dessa área.
"A questão da regulamentação do setor tem a sua importância, mas não é determinante", diz ele.
Segundo Lopes, o nível de atividade econômica também influencia no planejamento de novos investimentos, já que o crescimento da economia tem impacto direto na rentabilidade das empresas.


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