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Itamaraty vê prejuízo ao desenvolvimento
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O chanceler Celso Amorim já
saiu do Brasil pessimista na semana passada, quando acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a São Petersburgo, no encontro do G8, para
a última cartada política na
tentativa de salvar a Rodada
Doha ainda neste ano. Ontem,
depois do fracasso em Genebra,
o Itamaraty assumiu publicamente o malogro em nota.
"O G20 lamenta que não tenha sido possível completar a
negociação das modalidades
para a negociação em agricultura. É agora praticamente certo que a OMC não completará a
Rodada de Doha ao final de
2006, conforme decidido na
Reunião Ministerial de Hong
Kong", diz a nota, assinada pelos países do G20, grupo de economias que exportam produtos
agrícolas, lideradas pelo Brasil.
A nota diz ainda que "o impasse é um revés para as perspectivas para o desenvolvimento" e que foi perdida uma oportunidade. "Constitui uma oportunidade perdida para cortar os
volumosos subsídios distorcivos ao comércio, despendidos
com largueza pelos países desenvolvidos nos seus setores
agrícolas. Essas políticas que há
muito deslocam os produtores
dos países em desenvolvimento -tanto nos mercados domésticos como internacionais- continuarão a ameaçar
os meios de vida dos agricultores do mundo em desenvolvimento", diz a nota.
As conseqüências para o fracasso variam de comerciais a
políticas. As negociações podem estancar por dois ou três
anos. Na área comercial, as
conseqüências ainda não são
totalmente previsíveis, mas são
mensuráveis. Os governos terão que retomar acordos comerciais bilaterais ou regionais
que estavam parados esperando o resultado de Doha.
Entre essas negociações estão as do Mercosul com a União
Européia e as da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas).
Como ruiu a Rodada Doha, pelo
menos por enquanto, diplomatas brasileiros avaliam que o
governo deverá colocar mais
ênfase na integração regional
nos próximos anos.
Com eleições tanto no Brasil
quanto nos EUA, que renovam
o Legislativo em novembro, o
governo brasileiro já sabia que
seria difícil compor resultado
que, sem prejuízo nas urnas,
conciliasse o lobby agrícola no
Congresso americano e as pressões do setor produtivo brasileiro, que não quer pagar a conta da abertura de mercados para o agronegócio cortando tarifas de produtos industriais.
Tudo isso sem falar nas enormes dificuldades da União Européia em coordenar 25 posições para aumentar o corte nas
tarifas agrícolas, principalmente na França, onde o presidente
Jacques Chirac já enfrentou
protestos neste ano.
Esse cenário tem mais uma
complicação: nem todos os países em desenvolvimento têm as
mesmas demandas. A Índia,
por exemplo, apóia o Brasil,
mas quer proteção agrícola.
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