São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 2006

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Itamaraty vê prejuízo ao desenvolvimento

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chanceler Celso Amorim já saiu do Brasil pessimista na semana passada, quando acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a São Petersburgo, no encontro do G8, para a última cartada política na tentativa de salvar a Rodada Doha ainda neste ano. Ontem, depois do fracasso em Genebra, o Itamaraty assumiu publicamente o malogro em nota.
"O G20 lamenta que não tenha sido possível completar a negociação das modalidades para a negociação em agricultura. É agora praticamente certo que a OMC não completará a Rodada de Doha ao final de 2006, conforme decidido na Reunião Ministerial de Hong Kong", diz a nota, assinada pelos países do G20, grupo de economias que exportam produtos agrícolas, lideradas pelo Brasil.
A nota diz ainda que "o impasse é um revés para as perspectivas para o desenvolvimento" e que foi perdida uma oportunidade. "Constitui uma oportunidade perdida para cortar os volumosos subsídios distorcivos ao comércio, despendidos com largueza pelos países desenvolvidos nos seus setores agrícolas. Essas políticas que há muito deslocam os produtores dos países em desenvolvimento -tanto nos mercados domésticos como internacionais- continuarão a ameaçar os meios de vida dos agricultores do mundo em desenvolvimento", diz a nota.
As conseqüências para o fracasso variam de comerciais a políticas. As negociações podem estancar por dois ou três anos. Na área comercial, as conseqüências ainda não são totalmente previsíveis, mas são mensuráveis. Os governos terão que retomar acordos comerciais bilaterais ou regionais que estavam parados esperando o resultado de Doha.
Entre essas negociações estão as do Mercosul com a União Européia e as da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Como ruiu a Rodada Doha, pelo menos por enquanto, diplomatas brasileiros avaliam que o governo deverá colocar mais ênfase na integração regional nos próximos anos.
Com eleições tanto no Brasil quanto nos EUA, que renovam o Legislativo em novembro, o governo brasileiro já sabia que seria difícil compor resultado que, sem prejuízo nas urnas, conciliasse o lobby agrícola no Congresso americano e as pressões do setor produtivo brasileiro, que não quer pagar a conta da abertura de mercados para o agronegócio cortando tarifas de produtos industriais.
Tudo isso sem falar nas enormes dificuldades da União Européia em coordenar 25 posições para aumentar o corte nas tarifas agrícolas, principalmente na França, onde o presidente Jacques Chirac já enfrentou protestos neste ano.
Esse cenário tem mais uma complicação: nem todos os países em desenvolvimento têm as mesmas demandas. A Índia, por exemplo, apóia o Brasil, mas quer proteção agrícola.


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