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Sem acordo, Rodada Doha é suspensa
Troca de acusações marca final de reunião para reduzir barreiras comerciais; negociações são adiadas indefinidamente
Brasil, Índia e UE culpam posição agrícola dos EUA por fracasso, mas país diz que eles não apresentaram propostas para outras áreas
DA REDAÇÃO
A Rodada Doha de liberalização do comércio, que deveria
ser a "rodada do desenvolvimento" e ajudar a diminuir a
pobreza mundial, entrou em
colapso ontem e foi suspensa
por tempo indeterminado.
Segundo negociadores, a paralisação pode ser de meses ou
até anos. "Estamos em dificuldades", disse Pascal Lamy, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). "[A
rodada] está entre a UTI e o
crematório", disse Kamal Nath,
ministro do Comércio da Índia.
Novamente, os principais
países que negociavam na
OMC em Genebra não conseguiram chegar a um acordo
com relação a tarifas e subsídios agrícolas. A diminuição
desse tipo de barreira é o principal entrave às negociações,
que começaram em 2001 em
Doha (Qatar) e deveriam ter sido concluídas em 2004.
Os países-membros da OMC
haviam determinado nova data-limite para a conclusão da
Rodada, no final de 2005, que
também não foi cumprida.
O G6 (grupo que reúne Brasil, Índia, União Européia, Estados Unidos, Japão e Austrália) se reuniu neste final de semana em Genebra, mas não
houve avanços, mesmo após os
governantes que participaram
neste mês da reunião do G8 (sete países mais industrializados
e a Rússia) em São Petersburgo
terem dito que a Rodada Doha
era prioridade.
Analistas de comércio exterior temem que o fracasso das
negociações leve a um recrudescimento do protecionismo,
o que poderia reduzir o volume
de comércio global e prejudicar
países em desenvolvimento.
Pode haver também um aumento do número de tratados
bilaterais e blocos comerciais,
que, de acordo com alguns analistas, acabam erigindo novas
barreiras comerciais em vez de
derrubá-las.
Acusações
Houve troca de acusações a
respeito de quem seria culpado
pelo colapso das negociações
comerciais. Brasil, Índia e UE
culparam os Estados Unidos
por não fazer mais concessões.
"A principal causa [do fracasso] -não a única- é a dificuldade dos Estados Unidos de avançar na questão dos subsídios
[agrícolas] internos. Cabia aos
EUA fazer o gesto mais importante", afirmou Celso Amorim,
chanceler brasileiro e um dos
principais porta-vozes do G20
(grupo de 20 países em desenvolvimento, que reúne Brasil,
Índia e China, entre outros).
Amorim disse ainda que "a
principal dificuldade dos Estados Unidos vem da situação política no país, em vésperas de
uma eleição [parlamentar].
Passada a eleição, estaremos
provavelmente em uma situação mais confortável para
avançar".
O comissário de Comércio da
UE, Peter Mandelson, que em
outros momentos foi acusado
de não fazer concessões suficientes, juntou-se ao coro dos
insatisfeitos com a atitude dos
Estados Unidos. "Os EUA julgaram que seria melhor se o
processo fosse suspenso nesse
estágio. Com certeza o maior e
mais forte país do mundo, com
o melhor padrão de vida, poderia dar assim como receber."
Mandelson afirmou ainda que
a paralisação das negociações
não era "desejável nem inevitável. Poderia ter sido evitada
com facilidade".
Nath, da Índia, disse que "todos puseram algo na mesa, menos um país, que disse: "Nós não
estamos vendo nada na mesa'",
referindo-se aos EUA.
Sem "Doha light"
Mas a representante comercial dos EUA, Susan Schwab,
disse que seu país havia sinalizado com maiores reduções
nos subsídios agrícolas e que as
outras nações não haviam feito
propostas.
Os EUA queriam que os países em desenvolvimento reduzissem tarifas e barreiras para
produtos industriais e serviços
em troca das concessões na
área agrícola.
"Enquanto os EUA estavam
preparados para fazer mais, o
foco ontem [anteontem] foi nas
exceções do acesso a mercados
[...], revelando que vários países
avançados e em desenvolvimento estão procurando maneiras de fazer contribuições
menos ambiciosas", disse
Schwab. Ela já havia acusado
países como o Brasil de se esconder atrás de outros mais pobres para obter mais concessões sem ter que melhorar suas
propostas.
A representante comercial
afirmou ainda que "isso não
significa que os EUA estão desistindo. "Doha light" nunca foi
uma opção para os EUA e ainda
não é. Não houve proposta na
mesa ontem que poderíamos
recomendar ao presidente ou
ao Congresso".
O mandato que o Congresso
dos EUA deu ao presidente
Bush para negociar acordos comerciais de forma mais rápida,
o "fast track", termina em
2007, o que dificulta as negociações comerciais depois dessa data. O "fast track" permite
que o governo americano negocie o acordo e, posteriormente,
o Congresso apenas o ratifique
ou recuse, sem alterar artigos.
Com agências internacionais
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