São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008

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Diferencial de juro faz dólar rumar a R$ 1,50

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com juros nominais de 13% ao ano, o Brasil abriu um diferencial da ordem de 10,5 pontos em relação aos 2,5% pagos pelos títulos americanos e passou, em tese, a atrair mais capital do exterior. O resultado ontem foi uma queda de 0,28% do dólar, que desceu a R$ 1,5795.
Para os próximos dias, analistas de mercado vêem a possibilidade de a moeda norte-americana testar novos pisos, rumo ao patamar de R$ 1,50.
De acordo com Emilio Garofalo, ex-diretor do Banco Central e especialista em câmbio, o Copom acelerou a tendência de valorização da moeda brasileira com os juros maiores. "O movimento é absolutamente o mesmo, de valorização do real. Nada justifica, neste momento, uma desvalorização. Onde você olha, vê que [o rumo do câmbio] é para baixo", disse.
Segundo Sidnei Nehme, economista da corretora de câmbio NGO, o diferencial de juros abriu até o estímulo para a retomada de especulação com contratos futuros na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), em que o investidor aposta na queda da moeda norte-americana vendendo dólares a um valor menor do que à vista.
"Imaginava que o especulador não ia mais vender dólar futuro, porque o dólar já estava muito baixo. Com essa paulada [do Copom], torna-se mais atrativa a operação. Não descarto que o especulador volte. A oportunidade existe e a atração é grande. A diferença de juros, que ficou exuberante, acaba atraindo o especulador."
Para Nehme e Garofalo, a maior possibilidade de reversão do quadro de valorização do real pode vir de uma queda no preço das commodities, capitaneada pelo recuo do petróleo.
"Nossa balança comercial está inflada com o preço das commodities. Se houver queda de preço, pode incomodar os produtores e aumentar a pressão para o câmbio", disse Garofalo.

Desaquecimento
Nehme lembrou que o índice CRB/Reuters, que afere o comportamento de 19 commodities, já recuou quase 12% neste mês. "A queda decorre da tendência de desaquecimento."
Nathan Blanche, sócio da consultoria Tendências, discorda de que haja um diferencial de juros tão favorável que seja capaz de levar, de médio a longo prazos, a moeda americana mais para baixo. Blanche prevê que o dólar volte a R$ 1,65 até o final do ano.
Nas contas do economista, o estrangeiro, quando decide entrar no país, tem a possibilidade de captar recursos entre 5,5% e 6% ao ano, mas, para internalizar o dinheiro, deve prever uma desvalorização cambial, que hoje está em quase 10% em um ano na BM&F. "Vai custar para ele 16%, enquanto aqui está rendendo menos de 15%. Então, ele vai perder dinheiro."
Na avaliação de Nathan Blanche, o dólar recua no Brasil mesmo com uma saída forte de recursos, especialmente da Bolsa, porque a inflação aumentou a necessidade de hedge [proteção] dos investimentos.
"Quando as expectativas de inflação sobem, você espera que o câmbio se desvalorize. Aumenta a demanda pelo hedge cambial. O preço do hedge também sobe", disse.
Ele afirma ainda que o BC relaxou no enxugamento de dólares, deixando a moeda recuar.


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