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Diferencial de juro faz dólar rumar a R$ 1,50
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com juros nominais de 13%
ao ano, o Brasil abriu um diferencial da ordem de 10,5 pontos
em relação aos 2,5% pagos pelos títulos americanos e passou,
em tese, a atrair mais capital do
exterior. O resultado ontem foi
uma queda de 0,28% do dólar,
que desceu a R$ 1,5795.
Para os próximos dias, analistas de mercado vêem a possibilidade de a moeda norte-americana testar novos pisos,
rumo ao patamar de R$ 1,50.
De acordo com Emilio Garofalo, ex-diretor do Banco Central e especialista em câmbio, o
Copom acelerou a tendência de
valorização da moeda brasileira com os juros maiores. "O
movimento é absolutamente o
mesmo, de valorização do real.
Nada justifica, neste momento,
uma desvalorização. Onde você
olha, vê que [o rumo do câmbio] é para baixo", disse.
Segundo Sidnei Nehme, economista da corretora de câmbio NGO, o diferencial de juros
abriu até o estímulo para a retomada de especulação com
contratos futuros na BM&F
(Bolsa de Mercadorias & Futuros), em que o investidor aposta na queda da moeda norte-americana vendendo dólares a
um valor menor do que à vista.
"Imaginava que o especulador não ia mais vender dólar futuro, porque o dólar já estava
muito baixo. Com essa paulada
[do Copom], torna-se mais
atrativa a operação. Não descarto que o especulador volte. A
oportunidade existe e a atração
é grande. A diferença de juros,
que ficou exuberante, acaba
atraindo o especulador."
Para Nehme e Garofalo, a
maior possibilidade de reversão do quadro de valorização do
real pode vir de uma queda no
preço das commodities, capitaneada pelo recuo do petróleo.
"Nossa balança comercial está inflada com o preço das commodities. Se houver queda de
preço, pode incomodar os produtores e aumentar a pressão
para o câmbio", disse Garofalo.
Desaquecimento
Nehme lembrou que o índice
CRB/Reuters, que afere o comportamento de 19 commodities, já recuou quase 12% neste
mês. "A queda decorre da tendência de desaquecimento."
Nathan Blanche, sócio da
consultoria Tendências, discorda de que haja um diferencial de juros tão favorável que
seja capaz de levar, de médio a
longo prazos, a moeda americana mais para baixo. Blanche
prevê que o dólar volte a R$ 1,65
até o final do ano.
Nas contas do economista, o
estrangeiro, quando decide entrar no país, tem a possibilidade
de captar recursos entre 5,5% e
6% ao ano, mas, para internalizar o dinheiro, deve prever uma
desvalorização cambial, que
hoje está em quase 10% em um
ano na BM&F. "Vai custar para
ele 16%, enquanto aqui está
rendendo menos de 15%. Então, ele vai perder dinheiro."
Na avaliação de Nathan Blanche, o dólar recua no Brasil
mesmo com uma saída forte de
recursos, especialmente da
Bolsa, porque a inflação aumentou a necessidade de hedge
[proteção] dos investimentos.
"Quando as expectativas de
inflação sobem, você espera
que o câmbio se desvalorize.
Aumenta a demanda pelo hedge cambial. O preço do hedge
também sobe", disse.
Ele afirma ainda que o BC relaxou no enxugamento de dólares, deixando a moeda recuar.
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